ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
SETEMBRO, SÁBADO  28    CAMPO GRANDE 22º

Capital

Criação de abrigo público para animais é contestada pela prefeitura da Capital

Pedido do MP é que haja local público para acolher bichos e, enquanto não há, que haja auxílio a quem abriga

Cassia Modena | 10/08/2023 12:35
Cachorro abandonado em rua de Campo Grande (Foto: Arquivo/Alex Machado)
Cachorro abandonado em rua de Campo Grande (Foto: Arquivo/Alex Machado)

Campo Grande tem mais de 4 mil cães e gatos abrigados em cerca de 80 locais independentes do poder público atualmente, segundo levantamento da Comissão de Defesa e Direito dos Animais da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul). A maioria dos bichos sofreu maus-tratos e foi abandonado à própria sorte por estar doente, ter sido atropelado, estar prenhe ou, inevitavelmente, envelhecido.

O número quase dobrou desde que a comissão colaborou, há um ano, com estudo que embasou pedido liminar do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) feito à Justiça em ação civil pública protocolada em maio, para que a Prefeitura da Capital crie um centro municipal de acolhimento a cães e gatos e, enquanto isso não for feito, regulamente programa para ajudar financeiramente organizações e protetores que cuidam voluntariamente dos animais.

A Justiça indeferiu esse pedido e, na sequência, a prefeitura apresentou contestação a ele. O principal argumento é que as medidas exigidas são "juridicamente impossíveis", já que não há previsão orçamentária para elas, que, inclusive, teriam custo alto aos cofres públicos.

O Município teria que tirar de "um lugar para por em outro", conforme alega sua Procuradoria-Geral. "Pois sem previsão legal e sem previsão na lei orçamentária, assim, caso deferida a medida ora pleiteada, o ente público teria que retirar recursos já legalmente destinados a outras áreas, como por exemplo educação, saúde, saneamento básico, previdência e infraestrutura, para poder dar cumprimento ao pedido feito [...]".

A ação judicial segue em trâmite. O MPMS ainda não se manifestou após a contestação.

Responsabilidade - Embora tenha implantado a Subea (Subsecretaria Municipal do Bem-Estar Animal) e começado a promover plantões para castração este ano, a medida não é satisfatória por não acompanhar a taxa de natalidade dos animais e por haver muitas outras necessidades além dessa, na avaliação da presidente da Comissão de Defesa e Direito dos Animais da OAB/MS, Adriana Carvalho.

Tutores esperam por avaliação para castração na Subea (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)
Tutores esperam por avaliação para castração na Subea (Foto: Arquivo/Henrique Kawaminami)

O bem-estar animal é responsabilidade inquestionável do poder público. Ele é que tem que buscar os meios para promovê-la. O que não pode haver é tantos animais na casa de pessoas comuns, que os mantêm com recursos pessoais e precisam de mais de 10 toneladas de ração por mês para alimentá-los em Campo Grande. Visitei pessoalmente 40 abrigos e, em levantamento da comissão, constatamos que 90% dos protetores são independentes e mantêm os cuidados com animais mediante doações, que são de valores simbólicos. Há quem tire do próprio benefício de prestação continuada para dar conta de cuidar deles", afirma Adriana Carvalho.

A presidente da comissão lembra a Constituição Federal obriga o poder público, tanto o municipal quanto o das outras esferas, a promover a saúde animal. Em relação à não previsão de recursos, como argumentou a Procuradoria do Município, ela rebate:

A causa animal é questão de saúde pública, então, precisa estar no orçamento. Como exemplo disso, temos que a leishmaniose é uma doença presente em muitos cães da Capital e já levou pessoas à morte. Outro ponto é a saúde mental dos protetores, que não conseguem ficar indiferentes às necessidades dos animais, se endividam e têm problemas familiares por abrigarem até 100 animais na própria casa. Essas duas questões que citei são, sim, de saúde pública", argumenta.

Protetora - Kelly Macedo, fundadora da OSC (Organização da Sociedade Civil) Cão Feliz, confirma que ser protetor de animal em Campo Grande requer muita coragem e criatividade para conseguir recursos. Ela abraçou a causa há 10 anos.

Kelly e um dos cães abrigados (Foto: Reprodução/Instagram)
Kelly e um dos cães abrigados (Foto: Reprodução/Instagram)

Atualmente, há 152 cães e gatos no abrigo da Cão Feliz e 86 em lares temporários, onde ficam provisoriamente até serem adotados ou vagar espaço na sede. Eles consomem 40 quilos de ração por dia.

O maior valor em doação mensal é de R$ 500 recebidos de uma empresa. Um valor simbólico perto dos gastos com alimentação, produtos de limpeza, curativos e cuidados veterinários. Parte dos animais não andam, tiveram patas amputadas e foram salvos da eutanásia.

"Se o ser humano a gente não joga na rua e não pratica a eutanásia, por que fazer isso com um animal?", questiona Kelly. Ela acredita que o poder público oferecer assistência em abrigo "que não funcione como depósito" para os bichos e um hospital público, seria o cenário ideal e a realização de um sonho de todos os protetores.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.

Nos siga no Google Notícias