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Capital

Defesa tenta convencer que réu “só torturou”, mas júri condena por feminicídio

Adailton Freixeira da Silva foi condenado por manter a esposa em cárcere e torturar até a morte

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 21/11/2022 19:13
Advogados de defesa durante as alegações finais. (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)
Advogados de defesa durante as alegações finais. (Foto: Ana Beatriz Rodrigues)

O soldador Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, foi condenado a 24 anos e 2 meses de prisão pelo assassinato da esposa Francielli Guimarães Alcântara, de 36 anos, que passou 27 dias sendo torturada, em sessões de violência que antes de lhe levarem a vida resultaram em dentes quebrados, perda da pele das nádegas por queimaduras devido a choques e perfurações de faca. A mulher foi encontrada morta em 26 de janeiro, em residência do Bairro Portal Caiobá.

Diante do júri, que durou cerca de 11 horas, o réu negou o crime. Ele afirmou que confessou, na época dos fatos, sob tortura policial, mesmo a confissão tendo sido durante depoimento prestado em juízo, no dia 9 de maio deste ano, surpreendendo até o advogado Caio Moura.

Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, durante o julgamento. (Foto: Paulo Francis)
Adailton Freixeira da Silva, de 46 anos, durante o julgamento. (Foto: Paulo Francis)

No julgamento, o soldador disse que Francielli cometeu suicídio. Alegou que a mulher já tinha tentado tirar a própria vida uma vez e que ela era doente. "Ela tentou se enforcar, presenciei e tirei", narrou. Ele completou afirmando que os dois brigaram por causa da enteada, confessou que apertou o pescoço da mulher “com apenas uma mão”, mas afirma que não a matou. Disse ainda que a vítima teria pedido “o remédio dela”, que ele saiu do quarto do casal por algum tempo e quando voltou, encontrou a esposa caída, chamando socorro.

Já o advogado Thiago da Costa Rech tentou convencer os jurados, nas alegações finais, que o cliente não tinha a intenção de matar a mulher. “É excessivo falar que alguém que chamou o filho, tentou fazer respiração boca a boca e massagem cardíaca, chamou o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência], tenha querido matar alguém”.

O defensor admitiu que Freixeira quis punir a mulher. “Se ele quisesse matar, ele teria fugido e largado o corpo. Ele teria jogado o corpo longe, levado para um matagal, fatiado, sei lá. Ele não queria que ela morresse. A intenção foi agredi-la, por um viés de violência doméstica, por uma questão de puni-la de alguma forma. Ele a torturou”.

Na argumentação, ele afirmou que jurados estariam sendo vingativos caso condenasse o cliente por feminicídio. “Então excelências, não aceitem a teste de homicídio, porque não cabe neste caso e vossas excelências não estão fazendo justiça de entender dessa forma, estão fazendo vingança. Se vocês pensarem que houve um viés de vingança dele contra ela, vocês estarão fazendo o mesmo: vingança contra ele. O estarão punindo por 36 feminicídios na cidade. Estarão punindo eles para dar voz às mulheres, mas têm de puni-lo pelo fato. Dia 26 de janeiro, por volta da meia-noite e meia. É isso que está em julgamento”.

Já a acusação, conduzida pela promotora Luciana do Amaral Rabelo, frisou que estava claro que se tratava de um femicídio, porque o réu inclusive era o responsável por "tirar" de Francielli o que ela tinha de feminino.

A defesa não convenceu. O júri, composto por cinco homens e duas mulheres, acatou a tese da acusação de que Adailton cometeu homicídio qualificado por feminicídio (praticado em decorrência ao menosprezo à mulher), motivo torpe (desprezível), meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima - 18 anos e 4 meses. Ele ainda foi condenado pelos crimes de tortura (2 anos e 9 meses de reclusão) e cárcere privado (3 anos e 1 mês). As penas foram calculadas pelo juiz Matheus da Silva Rebutin.

A acusação - Segundo investigação da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), o soldador manteve Francielli em cárcere após descobrir traição por parte da esposa. No corpo, ela tinha várias marcas de queimaduras, hematomas e até dentes e cabelos arrancados.

A PM chegou a ir à casa do casal três vezes após receber denúncias, mas também conforme a apuração da Polícia Civil, Francielli, com muito medo das ameaças e torturas que recebia, dizia que estava tudo bem e dispensava o socorro.

Ela morreu estrangulada, conforme a acusação, na madrugada do dia 26 de janeiro deste ano. O caso chegou até à 6ª Delegacia de Polícia Civil depois que a equipe do SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) viu os ferimentos no corpo.

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