Doente e dormindo em papelão, Nando quis cometer suicídio na cadeia
Defensoria relata que ele está em espaço para pacientes com tuberculose e pede prisão domiciliar
Preso desde novembro do ano passado, quando o grupo de extermínio que comandava na região norte de Campo Grande foi descoberto, Luiz Alves Martins Filho, de 50 anos, conhecido como Nando, está dormindo sobre papelão na cadeia e, devido as dificuldades de saúde enfrentadas, pensou em cometer suicídio.
A situação atual de Nando, detido preventivamente sob acusação de matar 16 pessoas, foi relatada pela Defensoria Pública no pedido de concessão de prisão domiciliar ou de liberação, sem escolta, para quatro meses de tratamento médico - ele tem um estreitamento do canal da uretra chamado estenose de uretra traumática, que o faz precisar de atenção especial.
Nos relatos para justificar o pedido, é informado que, ao invés de dormir no colchão e com cobertores - no caso das noites frias -, Nando está dormindo sobre pedaços de papelão, já que há secreção vazando pela abertura de cistostomia feita na bexiga dele, onde é introduzido catéter para coleta de urina.
O vazamento de urina e pus pelo orifício impossibilita que ele use o colchão, sendo então obrigado a dormir no papelão, que é jogado fora em seguida. Um pedido de consulta médica foi feito em fevereiro, mas até o momento não houve resposta.
Outro relato é de que constantemente Nando apresenta dores de cabeça, febres e problemas cardíacos relacionados à doença, que causa infecção, e à hipertensão. A troca da sonda que ele usa também deveria ser feita quinzenalmente, mas foram feitas apenas duas vezes esse ano, nos dias 10 de abril e 8 de junho.
"Insta salientar que estes fatos mencionados têm trazido outras consequências à vida do interno, especialmente de ordem emocional, não sendo raros os episódios que chegou a pensar em cometer suicídio", frisa a Defensoria.
Alimentação e mau cheiro - Nando estaria sofrendo também por se alimentar pouco e quase não ingerir líquidos, evitando assim que haja mais vazamentos da bexiga. A secreção faz com que o mau cheiro seja constante e que ele tenha, tenha que limpar a cela onde está três vezes ao dia, além de lavar mais de seis peças de roupa diariamente.
"Referida situação a que o interno está exposto (obrigação de realizar limpezas) não seria absurda, caso ele estivesse em plenas condições de saúde, o que infelizmente não é o caso. O reeducando está completamente fraco e adoecido, sendo que toda essa situação apenas torna a sua prisão um martírio", a defesa de Nando.
Além disso, é dito que o mau cheiro e condições de higiene de Nando fizeram com que ele passasse a ser rejeitado na cela que dividia com outros 60 detentos. Ele foi transferido para uma cela onde estão presos com suspeita ou confirmação de tuberculose, doença grave e que o expõe, além dos demais, a maior risco.
No documento também é frisado que, em audiência no dia 3 de julho, no Fórum de Campo Grande, foi possível perceber o odor exalado "tamanho o cheiro podre que partia das feridas do interno".
A resposta ao pedido da Defensoria, de 7 de julho, ainda não foi dada, mas o MPE (Ministério Público Estadual) já apresentou parecer, pedindo avaliação médica urgente do caso, inclusive com análise de peritos, para que seja tomada a partir de então a melhor medida possível no caso de Nando.