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Capital

Equipe teve que trabalhar passando mal até ser 'abandonada' pelo JBS

“Estou aqui na cama de um posto, com soro, medicamento e fome. Nunca imaginei que isso poderia acontecer por causa do meu trabalho", disse

Luana Rodrigues | 07/04/2017 14:35
Funcionária recebendo atendimento. (Foto: Direto das Ruas)
Funcionária recebendo atendimento. (Foto: Direto das Ruas)
Funcionária tomando soro em UPA do Leblon. (Foto: Direto das Ruas)
Funcionária tomando soro em UPA do Leblon. (Foto: Direto das Ruas)

“Imagine dois mil funcionários correndo desesperados, desmaiando, vomitando. Chego a chorar de desespero quando lembro, porque o que vi foi aterrorizante”. Internada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Leblon, ainda passando mal, uma funcionária lembra como foi o vazamento de amônia no frigorífico JBS - localizado na BR-060, saída para Sidrolândia, em Campo Grande – na tarde de quinta-feira (6).

A mulher, de 49 anos, trabalha no setor de desossa da fábrica há seis anos, mas depois do incidente, pensa em não voltar para o emprego. “Cheguei para trabalhar e falei para eles que estava muito mal. Falaram que se eu não trabalhasse iria levar uma falta, e o desconto de uma falta para quem ganha mil reais é muito”, diz ela, ouvida pela reportagem na tarde desta sexta-feira (7).

A funcionária disse que, assim como ela, muitos bateram o cartão, sentiram vontade de vomitar. “Eles nos colocaram numa Kombi e trouxeram para cá. Eu e mais uns oito. Estamos aqui desde às 5 da manhã, tomando soro, sem comer, sem nada. Não voltou mais ninguém da empresa para ver como estamos”, diz.

Diante do risco e descaso, a mulher diz que pensa em pedir demissão do cargo. “Estou aqui na cama de um posto, com soro, medicamento e fome. Nunca imaginei que isso poderia acontecer por causa do meu trabalho. Fui feliz da vida trabalhar e agora estou em pânico. Penso em pedir demissão sim, porque estou com medo de acontecer algo pior comigo e a empresa não tomar nenhuma atitude”, diz.

O Campo Grande News questionou a empresa JBS, sobre as reclamações da funcionária, mas até o fechamento deste texto não houve resposta.

Ontem, por meio de nota, a empresa disse que o vazamento foi rapidamente controlado e, por precaução, a unidade foi imediatamente evacuada. Ainda segundo a empresa, alguns colaboradores foram encaminhados aos postos de saúde locais, mas todos estavam fora de risco.

“A JBS informa ainda que as causas do ocorrido estão sendo apuradas pela empresa. As operações estão temporariamente suspensas até que o local seja liberado pelo Corpo de Bombeiros”, afirmou a empresa.

Consequências- O vazamento na unidade localizada na BR-060, saída para Sidrolândia, ocorreu logo após o almoço de ontem e deixou cerca de 100 funcionários feridos. Muitos correram para a rodovia, na tentativa de fugir do cheiro forte da amônia.

Autoridades estiveram no frigorífico nesta manhã (7), para avaliar as causas e consequências do vazamento. Além do Corpo de Bombeiros, equipes do Ministério Público do Trabalho e da PMA (Polícia Militar Ambiental) também estiveram no local.

De acordo com o procurados do MPT, Celso Fortes, a perícia foi acionada e irá verificar como são feito os procedimentos diários dentro da unidade onde houve o vazamento. Além disso, será instaurado um inquérito para ver se houve descumprimento das normas de segurança do trabalho.

Equipe da PMA (Polícia Militar Ambiental) avaliou os danos causados pelo vazamento ao redor do frigorífico. A empresa tem 24 horas para apresentar à polícia o relatório de controle de emissões atmosféricas e de todas as medidas de contingenciamento contra danos ambientais e à saúde dos funcionários.

Após as avaliações, a PMA vai calcular o valor da multa a ser lavrada. O Decreto Federal nº 6.514/2008, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998) prevê multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões.

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