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Capital

Estragos da chuva expõem falta de zelo pela estrutura dos cursos d'água

Ricardo Campos Jr. | 22/03/2016 17:41
Sacos de areia e raízes de árvores ficaram expostos na Ricardo Brandão (Foto: Marcos Ermínio)
Sacos de areia e raízes de árvores ficaram expostos na Ricardo Brandão (Foto: Marcos Ermínio)
Erosão aberta nas margens do Córrego Prosa, na Ricardo Brandão (Foto: Alan Nantes)
Erosão aberta nas margens do Córrego Prosa, na Ricardo Brandão (Foto: Alan Nantes)

Depois de um verão chuvoso que contou com o temporal mais intenso dos últimos dez anos, as estruturas ao longo dos córregos de Campo Grande não agüentaram a força das correntezas e ainda carecem de manutenção, refletindo a falta de cuidado ao redor dos cursos d'água da Capital.

Conforme o meteorologista Natálio Abrão, da estação Uniderp, foram registrados 918 milímetros de chuva entre dezembro e meados de março. Ano passado, segundo ele, foram registrados 843 mm no mesmo período.

No Córrego Prosa, ao longo da Ricardo Brandão, uma erosão aberta na margem continua no local. O buraco aumentou no decorrer do tempo e a água começou a minar dentro dele. Nessa mesma via, a grama foi levada pela enxurrada, expondo os sacos de areia que a sustentava e as raízes das árvores.

Placas de pedras usadas para segurar a margem foram levadas. No cruzamento com a Avenida Joaquim Murtinho, os blocos de concreto que protegiam a população na passarela de travessia foram derrubados e até hoje se encontram largados no local.

No Córrego Segredo, a água transbordou em várias ocasiões durante o verão, chegando a arrastar carros de motoristas e também danificando a estrutura das margens.

Já na Ernesto Geisel, onde a junção dos dois córregos dá origem ao Rio Anhanduí, a prefeitura demorou, mas começou os reparos em uma enorme cratera que chegou a levar um pedaço do asfalto em frente ao parque de preservação. Enquanto isso, outro trecho mais adiante um buraco semelhante, que ainda não ameaça a pavimentação, já derrubou várias manilhas.

De quem é a culpa – O engenheiro ambiental mestre em saneamento ambiental e recursos hídricos Guilherme Henrique Cavazzana, professor da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) afirma que não há como apontar apenas um fator para o problema das enchentes em Campo Grande.

“Primeiro temos que analisar o fato da chuva em si. Hoje temos uma chuva com intensidades mais altas que antigamente. O segundo caso que influencia na taxa de escoamento e vazão é a impermeabilização da bacia. Hoje temos mais asfalto, inclusive na Bacia do Prosa, por exemplo, na cabeceira dele, no Sóter, não tinha muita coisa lá há sete anos e ali é uma área bem arenosa. A taxa de infiltração é muito alta e hoje temos esses bairros impermeabilizando”, aponta.

Buraco aberto na estrutura de concreto às margens de córrego (Foto: Marcos Ermínio)
Buraco aberto na estrutura de concreto às margens de córrego (Foto: Marcos Ermínio)

O especialista reconhece também que a questão estrutural também interfere nesse problema.

“Essas obras, nós temos que fazer um dimensionamento em razão do tempo de retorno, o tempo que minha estrutura vai suportar ou ser superada pela chuva, ou seja, eu já prevejo de quanto em quanto tempo que as minhas estruturas podem não agüentar”, explica.

Não é possível, segundo ele, construir um sistema que dure longos períodos de tempo em razão da deterioração do material, além de o custo deixar esses empreendimentos inviáveis para o poder público.

Sobre as estruturas presentes em Campo Grande, a falta de manutenção também é um fator a ser levado em conta. “Observando, sem saber de dados técnicos, sem ter acesso ao que a prefeitura está fazendo, o que eu tenho visto é que as manutenções não são feitas preventivamente. Nós geralmente vemos eles consertando algo que já quebrou. O ideal seria ser preventivo”, pontua.

A população também tem sua parcela de culpa. “Se nós fôssemos um pouco mais adequados em não jogar lixo pela janela do carro, a gente não deixaria esses sistemas entrar em colapso, não entupir boca de lobo, não entupir rede”, pontua.

Uma solução para esse problema é jogar o menor volume possível de água nos córregos durante as chuvas, seja com uma rede de drenagem adequada, seja com sistemas que armazenem a água nas casas até mesmo para usos como limpeza de calçadas e carros, ou criando mecanismos para que ela seja absorvida pelo solo ao invés de escorrer pelo asfalto até os leitos.

A assessoria de imprensa da prefeitura informou que o conserto da margem do Prosa na Ricardo Brandão está previsto para começar na semana que vem. A equipe da Seintrha utilizará uma técnica chamada gabião dos tipos reno e caixa, além de recompor o talude e recompor os sacos de areia já no trecho da Fernando Corrêa da Costa.

Também está prevista uma limpeza no Segredo, perto do cruzamento da Ernesto Geisel com a Euler de Azevedo, e também na barragem do Prosa na Via Parque.

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