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Capital

Ex-mulher de homem morto em lava jato já tinha registrado boletim contra ameaças

Paula Maciulevicius e Nadyenka Castro | 22/08/2011 16:21

“Ele falava que se eu arrumasse alguém, ele me mataria”, contou Zilda

Vítima de ameaças pelo ex-marido, mulher chora e questiona porque a Justiça e pergunta “porque não deixou ele preso?” (Foto: João Garrigó)
Vítima de ameaças pelo ex-marido, mulher chora e questiona porque a Justiça e pergunta “porque não deixou ele preso?” (Foto: João Garrigó)

Mais uma história de violência doméstica com desfecho trágico. Desesperada, a personagem principal da trama, Zilda de Fátima Netto, de 36 anos, aos gritos questiona “porque a Justiça não deixou esse homem preso? Ele tinha que vir aqui tentar me matar para fazerem alguma coisa?”

A mulher está falando sobre o ex-marido, morto pelo atual depois de mais uma ameaça na tarde de hoje, em um lava jato, no bairro Nova Lima, em Campo Grande. Por pouco, a história dela não termina aqui, um enredo de dois anos de ameças.

O ex-marido já esteve preso, Edvaldo Bastos Correia, de 55 anos, dizia que ia matar a ex-mulher desde 2009 e só parou hoje, depois de quase concretizar as ameaças.

“Eu larguei dele e tenho uma pasta cheia de boletins de ocorrências. Ameaças gravadas no celular, no cartão de memória”, conta.

Segundo ela, Edvaldo não aceitava a separação, comportamento típico de um autor de ameaça e violência contra a mulher. “Ele falava que se eu arrumasse alguém, ele me mataria”, acrescenta.

No trailer em que guardava as ferramentas do lava jato, as marcas dos tiros dados pelo ex-marido. Ele ainda tentou atirar contra ela, mas por sorte, a arma falhou.

Aos prantos, ela voltou a cena do crime e contou para o Campo Grande News o que tanto pediu, para que ele continuasse preso. “A Justiça, Polícia, Ministério Público esperou tudo isso acontecer, porque não deixou ele preso?” indaga novamente. Segundo ela, o poder público tinha conhecimento.

“Ele me ameaçava faz horas, dizendo que viria aqui no meu lava jato me matar. Eu estava trabalhando quando ele chegou”.

Edvaldo pode ter morrido com um tiro na cabeça, disparado pelo atual marido de Zilda. (Foto: João Garrigó)
Edvaldo pode ter morrido com um tiro na cabeça, disparado pelo atual marido de Zilda. (Foto: João Garrigó)

Zilda e o atual marido, Leandro Macedo estavam dentro do trailer quando Edvaldo chegou, apontou a arma e puxou o gatilho, conta a mulher.

Depois do tiro não sair, ela descreve que pulou a janela do trailer, correu no mercado em frente e pediu para chamarem a Polícia.

“Nisso, eles entraram em luta, houve o disparo e a morte. Ele me ameaçava diariamente, eu não tinha paz”, afirma.

A história de Zilda se assemelha com de muitas mulheres, vítimas da violência pelos companheiros.

Ela já havia registrado boletins de ocorrência e levado o caso à conhecimento da Polícia, assim como Lucimar Barros Giroto, de 30 anos, que teve os dois filhos e a mãe esfaqueados pelo ex, Izaelso Júnior Soares de Moraes, de 26 anos, na segunda-feira da semana passada.

A agressão aconteceu na casa de Lucimar, quando Izaelso desligou a luz do local, invadiu e iniciou as agressões contra Dinorá Barros Giroto, 53 anos, atingida por socos e quatro golpes, a menina de 11 anos, que também levou quatro facadas e o menino de apenas 3 anos, atingido por nove golpes.

No bairro, Zilda é vista como tranquila e muito cuidadosa com o filho, portador de necessidades especiais, em comum com Edvaldo.

Menino de 3 anos foi esfaqueado pelo ex-namorado da mãe, que havia até pedido medida protetiva contra ele. (Foto: João Garrigó)
Menino de 3 anos foi esfaqueado pelo ex-namorado da mãe, que havia até pedido medida protetiva contra ele. (Foto: João Garrigó)

Na semana anterior ao crime, Izaelso já havia agredido Lucimar na esquina da residência.

A vítima registrou boletim de ocorrência e conseguiu na Justiça que ex-marido ficasse proibido de fazer contato ou se aproximar dela e de familiares, mantendo distância mínima de 300 metros.

O motivo das agressões coincidem com o caso de Zilda, tudo aconteceu por ciúmes e poderia ter acabado em uma tragédia maior para as vítimas.

Zilda contou ainda que o ex-marido colocou fogo no carro dela em janeiro deste ano, no bairro Macaúbas e que no mesmo dia, voltou ao local e jogou uma bomba caseira perto do carro. A gasolina que ele usou, segundo ela, atingiu uma parte do braço.

A mulher relatou que recebia ameaças também da família de Edvaldo. “Todo mundo tinha conhecimento e ninguém fez nada”, finaliza.

Os vizinhos que assistiam aos episódios de ameaças e viram de perto o fim da história contam que o homem sempre estava por perto e perguntava sobre o movimento do lava jato.

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