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Capital

Briga por regras internas de facção em presídio motivou execução de traficante

Primeira audiência de instrução e julgamento ouviu réus, testemunhas e familiares de Moraci Pereira Brandão

Por Bruna Marques e Gabi Cenciarelli | 16/09/2025 18:11
Briga por regras internas de facção em presídio motivou execução de traficante
Da esquerda para a direita: Weliton Cássio, Welder Garcia Alves e Júnior Silva (Foto: Divulgação)

Nesta terça-feira (16), aconteceu a primeira audiência de instrução e julgamento sobre a execução do traficante Moraci Pereira Brandão, 45 anos, ocorrida em 11 de fevereiro, no bairro Moreninha, em Campo Grande. O crime, considerado pela polícia como pistolagem ligada ao tráfico de drogas, envolve quatro réus, três presos e um foragido, acusados de serem os executores da morte de Moraci, contratados por um mandante ainda não identificado.

RESUMO

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Execução de traficante em Campo Grande tem primeira audiência com relatos de ameaças e detalhes da investigação. O irmão da vítima, Moraci Pereira Brandão, morto em fevereiro, depôs sobre ameaças à família e entregou celular com possíveis provas à promotoria. A esposa de um dos réus alegou que o marido também era ameaçado. Uma testemunha que dividia cela com o suposto mandante negou envolvimento, mas foi acusada de cumplicidade pelo irmão da vítima. A polícia afirma que os quatro réus foram contratados para o crime e usaram pistolas 9mm com seletor de rajada. Imagens de câmeras registraram a ação e a fuga dos criminosos. Três dos envolvidos vieram de Ribas do Rio Pardo para executar Moraci. Os réus presos participaram presencialmente da audiência, enquanto o foragido acompanhou por videoconferência. O delegado confirmou a participação dos réus, mas o mandante segue sem identificação.

Durante a sessão, o irmão da vítima foi ouvido pela primeira vez. Emocionado e temeroso, ele relatou diversas ameaças sofridas por ele e pela família. “Na época do crime, eu não quis falar porque estava muito abalado. Eu e minha família estamos sendo ameaçados”, disse. Segundo ele, a motivação teria surgido de uma briga envolvendo um celular dentro do presídio Gameleira, onde Moraci cumpria pena. O irmão afirmou ter guardado o aparelho, que contém registros das ameaças sofridas pela vítima, e a promotora Luciana Rabelo solicitou sua entrega para perícia.

A esposa de Weliton Cássio Matos Camargo, um dos réus presos, também foi ouvida. Ela disse que ele não andava armado e que frequentemente relatava estar sendo ameaçado por alguém muito perigoso.

Outra testemunha, Moises Junior, que dividia a cela com o suposto mandante do crime, conhecido como ‘Orelha’, disse não ter conhecimento de conflitos entre Moraci e o suspeito e que apenas conhecia a vítima de vista. Apesar disso, o irmão da vítima o acusou de cumplicidade. “Aquele lugar é comandado por organização criminosa. Eles mataram meu irmão como se fosse cachorro. Os três que estão sentados ali e o que está foragido foram contratados; aquilo lá é um escritório do crime”, declarou.

Briga por regras internas de facção em presídio motivou execução de traficante
Advogado Marcos Ivan, responsável pela defesa dos réus (Foto: Divulgação)

Segundo a investigação da Polícia Civil, os quatro réus foram contratados para executar Moraci. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que dois homens descem de um Gol branco usando máscaras e coletes balísticos, enquanto outro permanece ao volante. Após o crime, o carro foi incendiado no Bairro Itamaracá, enquanto outro veículo resgatou os atiradores. Um quinto suspeito monitorou a rotina da vítima por dias antes do crime.

As armas do crime, pistolas 9mm com seletor de rajada e carregadores de 30 tiros, foram localizadas no dia seguinte enterradas em um cano de PVC, em imóvel abandonado no Jardim das Cerejeiras. Três dos cinco envolvidos vieram de Ribas do Rio Pardo exclusivamente para executar Moraci.

Por temer novos ataques, a DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) solicitou a prisão preventiva dos envolvidos, que foi acatada pela Justiça. Os três executores foram presos no dia 11 de junho, em Ribas do Rio Pardo, enquanto estavam reunidos em uma Mercedes de luxo.

Na audiência, os réus presos Weliton Cássio Matos Camargo, Welder Garcia Alves e Junior Silva Dias participaram presencialmente, enquanto Derlei Carmo de Freitas, foragido, acompanhou por videoconferência. O delegado responsável pelo inquérito, Rodolfo Daltro, também foi ouvido e reafirmou que não há dúvidas quanto à participação dos réus na execução, embora o mandante ainda não tenha sido identificado.

Briga por regras internas de facção em presídio motivou execução de traficante
Pistolas e munições apreendidas durante investigação. (Foto: Divulgação/BPChoque)

Falhas na investigação: O advogado Marcos Ivan, responsável pela defesa dos réus, concedeu entrevista ao Campo Grande News. Ele afirmou que a motivação do crime ainda não está clara e que a investigação apresentou falhas. “Estamos aqui ofertando hoje a defesa das quatro pessoas acusadas de um crime supostamente horrendo, mas, na realidade, trata-se de um desentendimento entre eles. A defesa acredita que não se trata de crime de mando nem de facção criminosa”, disse.

Marcos destacou que a acusação fala em crime de mando, mas, segundo a defesa, o caso seria fruto de uma desavença entre Weliton e Moraci. “É um crime que se esclarece pela própria confissão deles e nada mais. O motivo da desavença nem foi detalhado na delegacia, mas querem transformar isso em crime de mando, o que não aceitamos”, afirmou.

O advogado criticou ainda falhas na investigação e na condução do processo. “Vários nomes surgiram na fase de instrução e sequer apareceram no inquérito. Isso demonstra certa inércia no processo e desrespeito ao devido processo legal. Quatro jovens estão presos, mesmo podendo responder em liberdade, em uma prisão totalmente extemporânea, sem motivo que justificasse a detenção. A defesa está indignada e vai buscar reverter essa situação”.

Sobre a acusação de ligação com facção, Marcos Ivan reforçou: “Meus clientes negam qualquer relação com facções. A população aprendeu a culpar organizações criminosas, mas nenhum elemento probatório foi apresentado. Não há ligação comprovada com facção alguma, apenas um desentendimento entre eles”.

Ele ainda criticou a condução do processo em relação às testemunhas: “Durante a instrução, uma das testemunhas foi acusada de pertencer a uma facção criminosa, mesmo estando ali para colaborar com a Justiça. São condutas inaceitáveis. É preciso respeitar o devido processo legal e as normas jurídicas para que haja justiça”.

Briga por regras internas de facção em presídio motivou execução de traficante
Irmão mostra processo impresso (Foto: Divulgação)

Luto e pedido de justiça: Na saída da audiência, o irmão da vítima, que trabalha como técnico de energia e está afastado por depressão desde o assassinato, conversou com a reportagem. Ele acompanhou o processo desde o início e levou todos os documentos impressos para a sessão. Segundo ele, “Esse crime foi um crime mandado. Esse pessoal que está aqui não encomendou a morte do meu irmão. É pistolagem!”

O irmão relatou que a desavença começou dentro de uma organização criminosa, no presídio, por causa de uma briga envolvendo regras internas e a tentativa de introdução de um celular. Segundo ele, a situação escalou após uma disputa por pequenas infrações, o que levou à disciplina dentro da facção e, posteriormente, à execução do irmão.

Ele detalhou ainda a atuação dos envolvidos: os executores se deslocaram em veículos, incluindo um Corolla Cross blindado e um Gol branco, rondando a residência da vítima antes do crime. “Isso está tudo nos autos”, disse.

Ao comentar sobre a justiça, ele ressaltou a dor da perda: “Procuro justiça porque meu irmão não é santo; ele errou, como muitos erram. Mas, fora de casa, ele tinha família, filhos, coração. Eles não têm coração. Matam pelo dinheiro, não pelo amor ao próximo”. Ele descreveu a frieza dos criminosos: “Enquanto nós corríamos atrás das funerárias, eles estavam fazendo churrasco, comprando no mercado, rindo, comemorando”.

Sobre o poder da facção, o irmão afirmou que quem não está com eles está contra eles e criticou a falta de estrutura policial para investigar casos desse tipo. O irmão também comentou a atuação dos advogados dos suspeitos, que considera influentes e bem preparados, e destacou que a prisão preventiva dos réus se deu para evitar novos ataques.

Mesmo vivendo sob ameaça constante, “Sou ameaçado 24 horas. Minha casa parece um Big Brother”, disse, mas reforçou que continuará acompanhando o caso e buscando justiça pelo irmão.

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