Greve expõe falência do modelo de transporte urbano, dizem especialistas
CPI defende mudanças na operação do sistema de Campo Grande

Não é de hoje que transporte coletivo de Campo Grande respira por aparelhos e a greve dos motoristas, que tirou todos os ônibus de circulação nesta segunda-feira (15), só escancara modelo falido de gestão da mobilidade urbana na Capital, avaliam especialistas.
RESUMO
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A greve dos motoristas de ônibus em Campo Grande expõe a fragilidade do sistema de transporte coletivo da cidade. O serviço, operado há décadas por empresas pertencentes à família Constantino, apresenta problemas de conforto, eficiência e superlotação, mesmo recebendo R$ 38 milhões anuais dos cofres municipais. Especialistas apontam falhas na gestão municipal e destacam que a falta de competição entre as empresas do Consórcio Guaicurus compromete a qualidade do serviço. A situação levou vereadores a defenderem o rompimento da concessão, que se encerra em 2025, devido aos constantes atrasos nos pagamentos de funcionários e deficiências estruturais.
Para a engenheira civil mestre em Engenharia de Transportes e Gestão Territorial, Lúcia Maria Mendonça Santos, falta “gestão do governo municipal”. Convidada para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito do Transporte Coletivo em julho deste ano, a especialista analisou documentação enviada pela Ouvidoria da CPI sobre o sistema na Capital. “O serviço de ônibus em Campo Grande é ruim. Como vai aumentar a arrecadação se os usuários não tem como confiar no sistema? Cada um acaba arranjando outra forma de locomoção, compra moto ou vai de carro complicando todo o trânsito”.
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Dentre as reclamações dos usuários do transporte estão a superlotação, a falta de variedade nos horários das linhas e de conforto, como veículos equipados com ar-condicionado, por exemplo.
Também em julho, durante depoimento para a CPI, o professor sênior da Unicamp, Jurandir Fernandes, especialista em transporte público, destacou que o problema da queda no número de passageiros e consequente queda na receita das empresas não afeta só Campo Grande, mas diversas cidades do país. Ele apontou causas como o aumento do home office, ensino à distância, aplicativos de transporte, maior número de veículos particulares e a descentralização dos serviços.
A engenheira afirma, contudo, que se o gestor municipal for capaz de exigir um serviço melhor das empresas que operam o transporte, a chance de o Consórcio Guaicurus aumentar a arrecadação e sair da alegada crise financeira é maior. “O transporte público precisa de conforto para ser competitivo, para competir com o carro de aplicativo, com a moto e arrecadar mais. Quando o transporte oferecido é de qualidade, as pessoas o procuram”.
A especialista afirma ainda que apesar do argumento das empresas de que o transporte coletivo na Capital tem dado prejuízo e não lucro, é a administração municipal a responsável por solucionar a questão.
A Prefeitura de Campo Grande repassa cerca de R$ 3 milhões mensais ao Consórcio Guaicurus para o custeio das gratuidades e, em coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (15), o diretor-executivo da Agereg (Agência Municipal de Regulação), Otávio Figueiró, reforçou que não há qualquer débito do município com o grupo empresarial, que, na opinião da administração municipal, falhou no planejamento financeiro por não programar o valor para a cobertura da folha de pagamento dos funcionários e 13º salário.
“Se a prefeitura alega isso, por que não rompe o contrato? Se você contrata um prestador de serviço e ele não atende às suas exigências, você dispensa. E o consórcio se diz que está em crise que mostre as contas, abra as contas. Que subsídio é esse? O subsídio não pode ser o valor total das despesas das empresas”, comentou Lúcia Maria Mendonça em entrevista ao Campo Grande News.
Monopólio – Formado por empresas que já atuavam no transporte coletivo de Campo Grande (MS), o Consórcio Guaicurus venceu a licitação para explorar o serviço por 20 anos em Campo Grande, em outubro de 2012. A previsão de faturamento ao longo dos anos era de R$ 3,4 bilhões, com receita anual de R$ 172 milhões.
A disputa era entre o Consórcio Guaicurus e a empresa Auto Viação Redentor, com sede em Curitiba (Paraná). O consórcio é composto pela Viação Cidade Morena (empresa líder), Viação São Francisco, Jaguar Transportes Urbanos e Viação Campo Grande, que já formavam a Assetur (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano), em operação na Capital desde 2000.
Todas as viações pertencem à família Constantino, uma das mais proeminentes no setor de transportes no Brasil, conhecida também por fundar a Gol Linha Aéreas. Nos CNPJs (Cadastros Nacionais de Pessoa Jurídica) que operam na Capital, Paulo Constantino de Carvalho aparece sempre como sócio majoritário.
No entendimento da engenheira, a concessão não é o problema, mas ou a prefeitura fiscaliza e cobra que as empresas prestem melhor serviço, ou assume o transporte e implanta a tarifa zero, movimento que tem acontecido em outras cidades brasileiras.
A greve geral dos motoristas do transporte coletivo de Campo Grande reacendeu o debate sobre a continuidade do contrato entre a prefeitura e o Consórcio Guaicurus. Vereadores que integraram a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte defendem o rompimento da concessão, que completa 13 anos em 2025, diante de atrasos recorrentes no pagamento de salários e benefícios aos trabalhadores, além de falhas estruturais no serviço.
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