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Capital

Impasse sobre “pen drive rosa” é um dos entraves para júri da morte de “Playboy”

Defesa de policial federal tenta anular todas as acusações derivadas da Omertà contra cliente

Anahi Zurutuza | 21/07/2023 20:52
Pen drive apreendido em baú de armas no dia 19 de maio de 2019, quando Marcelo Rios, o pivô da Omertà, foi preso (Foto: Reprodução de relatório do Gaeco)
Pen drive apreendido em baú de armas no dia 19 de maio de 2019, quando Marcelo Rios, o pivô da Omertà, foi preso (Foto: Reprodução de relatório do Gaeco)

O debate sobre se as provas colhidas por meio de pen drive da marca Krosselegance, de cor rosa, encontrado dentro de baú com armas, na casa do Bairro Monte Líbano, onde foi apreendido arsenal que pertencia à milícia armada alvo da Omertà, é um dos que impede a marcação do julgamento dos acusados de envolvimento no assassinato de Marcel Costa Hernandes Colombo, 31, que ficou conhecido como “Playboy da Mansão”. As provas obtidas no dispositivo foram consideradas ilegais e, por isso, a defesa do policial federal Everaldo Monteiro de Assis tenta invalidar todas as acusações contra o cliente.

“Não há dúvida de que tudo o que se alega contra o recorrente Everaldo, no mundo da Operação Omertà, nasceu desse pen drive rosa”, argumentam os advogados do PF, dentre eles, o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira.

O policial, apontado como responsável por elaborar dossiês, com pesquisas nos sistemas internos da polícia, sobre desafetos e potenciais alvos de Jamil Name e Jamil Name Filho, os acusados de liderar organização criminosa investigada na Omertà, já tinha dois recursos na Justiça pendentes de julgamento, ambos baseados na suposta nulidade de todas as provas extraídas do “pen drive rosa”.

Nesta semana, a defesa fez outra apelação ao TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) para suspender o julgamento de um dos recursos, contra a decisão que mandou Everaldo a júri popular, junto com “Jamilzinho”, o ex-guarda municipal Marcelo Rios, ambos condenados esta semana por outra execução, a do jovem estudante de Direito, Matheus Coutinho Xavier. A análise pela 2ª Câmara Criminal está marcada para a próxima terça-feira, dia 25.

A defesa alega “fato novo” para suspender o julgamento. É que em outra ação derivada da Operação Omertà – são 19 no total – o PF foi absolvido das acusações de integrar organização criminosa e quebra do sigilo funcional, justamente porque o juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal, considerou ilegais as provas colhidas no pen drive. Para os magistrados, delegados do Garras (Delegacia de Repressão a Roubos a Bandos, Assaltos e Sequestros) teriam violado o dispositivo, acessando-o antes de pedir autorização judicial para a quebra do sigilo e encaminhá-lo à perícia.

O conteúdo mostrou que a senha do policial federal foi usada para pesquisa de dados pessoais de um fazendeiro. Quando a informação foi revelada, Everaldo contou que o pen drive foi furtado do carro de sua esposa, numa parada para comprar empadas de camarão em um boteco próximo à Avenida Calógeras, numa manhã de sábado. Para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), a explicação era “risível e pueril”.

O magistrado justificou a decisão informando que “a função da autoridade policial era de realizar a apreensão, representar pela quebra de sigilo dos dados e, apenas após a decisão judicial neste sentido, encaminhar o dispositivo eletrônico para perícia pelo instituto estatal”.

Acontece que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) já recorreu da decisão do juiz, explicando que o pen drive não foi violado, mas que no mesmo local onde foi encontrado havia 17 folhas impressas, coincidentemente, com o mesmo conteúdo do dispositivo, por isso o delegado Fábio Peró “fazia ideia” do que podia haver ali ao encaminhá-lo à perícia e pedir respostas a perguntas específicas. Promotores argumentam que a nulidade é inexistente.

Marcel Colombo foi assassinado com tiro à queima-roupa aos 31 anos (Foto: Reprodução das redes sociais)
Marcel Colombo foi assassinado com tiro à queima-roupa aos 31 anos (Foto: Reprodução das redes sociais)

Outros recursos - Em março do ano passado, houve sentença determinando que além de Name Filho, Rios e Everaldo, também o ex-guarda civil metropolitano Rafael Antunes Vieira vá a júri popular pela morte de Colombo.

Todas as defesas recorreram da decisão. O advogado de Jamilzinho, o ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) Néfi Cordeiro, é um dos que entrou com pedido ainda pendente de análise. Por isso, a data do julgamento ainda não foi marcada.

Atirador ainda de capacete disparando nas costas de Marcel Colombo (Foto: Reprodução)
Atirador ainda de capacete disparando nas costas de Marcel Colombo (Foto: Reprodução)

O crime – Marcel foi assassinado a tiros de pistola 9 mm à queima-roupa enquanto bebia com amigos em um bar de Campo Grande. A execução foi na madrugada de uma quinta-feira, dia 18 de outubro de 2018.

Conforme boletim de ocorrência, o alvo estava sentado numa das mesas do estabelecimento comercial que fica próximo à calçada, quando o atirador desceu de uma motocicleta e sem tirar o capacete, disparou pelo menos duas vezes nas costas da vítima.

O assassino chegou e estacionou atrás do veículo do Marcel. Após o crime, voltou para a moto e fugiu virando na primeira rua à direita. Toda ação foi filmada pelas câmeras de segurança do bar.

No dia 26 de outubro de 2018, uma semana depois, o empresário Joel Colombo prestou depoimento na 1ª Delegacia de Polícia, em Campo Grande, e contou que o filho tinha uma desavença com Jamil Name Filho por causa de briga ocorrida em casa noturna da cidade anos antes. Relatou ainda que Marcel chegou a procurar o pai do desafeto, o empresário Jamil Name, para pedir desculpas pelo ocorrido.

O primeiro pedido de prisão dos Name do restante da milícia, em setembro do ano passado, trouxe relatos de que a briga na boate nunca foi esquecida e teria motivado a encomenda da morte.

José Moreira Freires, o “Zezinho”, e Juanil Miranda, os assassinos de Matheus Xavier, segundo a Omertà, também são apontados como os pistoleiros responsáveis pelo assassinato de Colombo, mas neste caso, Juanil seria o atirador. Conforme a força-tarefa investigativa, Freires, que já morreu, foi o responsável por disparar contra o estudante de Direito. Miranda nunca foi encontrado.

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