ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  22    CAMPO GRANDE 31º

Capital

Jogo do bicho girava R$ 18,2 milhões por ano

Estimativa é citada em decisão judicial que mandou prender gerentes e lacrar empresa Pantanal Cap

Marta Ferreira | 11/12/2020 12:25
Guincho carrega quatro bancas que eram usadas para apostas do jogo do bicho em Campo Grande. (Foto: Divulgação)
Guincho carrega quatro bancas que eram usadas para apostas do jogo do bicho em Campo Grande. (Foto: Divulgação)


Cinquenta mil reais todos os dias.
Um milhão e meio de reais por mês.
 Dezoito milhões e duzentos e cinquenta mil reais por ano.

É quanto gira o jogo bicho em Campo Grande e cidades vizinhas, esquema que se preparava para renovar frota de 47 motocicletas para o “recolhe” dos valores, negociação fracassada em razão da deflagração de fase da Operação Omertà.

As investigações começaram em 2019 para atacar milícia armada especializada em crimes de pistolagem e avançaram para a exploração da jogatina na cidade, atribuída ao mesmo grupo. A chefia dos negócios ilegais, segundo a investigação, é dos empresários Jamil Name, 80 anos, e Jamil Name Filho, 43 anos, presos há mais de um ano, em Mossoró (Rio Grande do Norte).

Os valores sobre a movimentação do negócio fora da lei foram estimados na última fase da Omertà, a “Arca de Noé”, deflagrada no dia 2 de dezembro, para sufocar a estrutura de apoio à loteria ilegal na cidade.

As bancas já estavam lacradas desde o 23 de setembro, quando foi feita a fase 4 da Omertà, a “Black Cat”, e nesta semana começaram a ser retiradas de espaços públicos em operação que envolve o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos, Assaltos e Sequestros) e a prefeitura de Campo Grande.

Prisões - Na semana passada, foram cumpridas 13 ordens de prisão e 17 de buscas e apreensão em endereços de pessoas ligadas à contravenção. Além disso, a empresa Pantanal Cap foi lacrada e teve a determinação judicial de bloqueio de R$ 18,2 milhões em bens.

Para o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), a empresa de título de capitalização, comandada pela família Name, serve de meio de lavagem do dinheiro gerado com o negócio.

Em suma apurou-se acerca dos jogos de azar que: as apostas do jogo do bicho são vendidas em "bancas" ou "pontos" onde também são comercializados cartelas do Pantanal Cap, distribuídos por toda cidade.

Pelo que foi levantado, foram localizados mais de 200 "bicheiros" pelo Garras, responsável pela fase policial.

Os sorteios da loteria ilegal e pagamentos dos ganhadores, indica o trabalho investigatório, ocorrem de forma descentralizada e regionalizada em diversos pontos da cidade.

“São utilizados "recolhes", indivíduos que apanham os valores das apostas, deixam os resultados e pagam os "prêmios"”, detalha o material.

Violência – O jogo do bicho em si é uma contravenção, sequer é crime. Mas, para manter o negócio, há uma estrutura dedicada a ilegalidade de outras vertentes, conforme a tese do Gaeco acatada pela Justiça até agora.

“A organização criminosa impõe-se mediante uso de violência, somada a um poderio econômico, sendo que ao menos parte dele, conforme os elementos trazidos neste feito, é gerado pela atividade de exploração do jogo do bicho”, diz a decisão da juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, que autorizou as prisões e buscas e apreensões durante a operação realizada na semana passada.

Ao citar o bloqueio dos bens da Pantanal Cap, a juíza explica que o valor de R$ 18,2 milhões se baseia no lucro anual auferido com o jogo do bicho, “conforme arquivos, com indicações contábeis, encontrados em busca e apreensão realizada na casa de Eltom Almeida”.

Flagrante de câmera de segurança mostra trio que retirou documentos do apartamento de Jamil Name, em maio de 2019. Eltom Pedro de Almeida é um deles. (Foto: Reprodução de processo)
Flagrante de câmera de segurança mostra trio que retirou documentos do apartamento de Jamil Name, em maio de 2019. Eltom Pedro de Almeida é um deles. (Foto: Reprodução de processo)

Eltom Pedro de Almeida, a pessoa em questão, responde em liberdade a dois processos criminais derivados da Omertà.  É apontado como espécie de contador da organização criminosa.

Na primeira fase da operação, em setembro de 2019, foi identificado como um dos responsáveis por fazer um “limpa” no apartamento de Jamil Name Filho no dia 20 de maio de 2019.

Um dia antes, em 19 de maio, havia acontecido episódio considerado estopim para toda a investigação, a apreensão de arsenal em imóvel da família Name no Bairro Monte Líbano.

Eltom ficou preso de setembro de 2019 a julho deste ano, quando decisão do juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal, onde corre boa tarde das ações da Omertà, entendeu que o réu poderia ficar em liberdade.

Frota de motos – Foi o material pego na casa de Eltom que ajudou, segundo as investigações, a consolidar a produção de indícios mostrando que Pantanal Cap e jogo do bicho são, na prática, uma estrutura interligada.

Eltom, que era funcionário com carteira  da empresa de título de capitalização, teve o celular vasculhado. No meio do conteúdo foi localizado grupo de WhatsApp, denominado "Resultado Novo", no qual eram dadas ordens sobre a exploração do jogo ilegal.

Um dos diálogos é sobre a aquisição de uma frota de 47 motociclistas. Eltom afirma, segundo as conversas interceptadas, que o "chefe" estava cotando os bens.  A apuração do Gaeco e do Garras indica que Jamil Name Filho estaria negociando a compra das motos. O chefe citado na conversa era Jamilzinho.

Em outra conversa é questionado se Cláudio iria até o Pantanal Cap naquela tarde, reforçando que lá seria um local utilizado para as operações do jogo do bicho”, afirma a decisão.

A pessoa citada é Claudio Rosa de Moraes, o “Cláudio BX”. Ele é relacionado pelo Gaeco como um dos gerentes de área do jogo do bicho em Campo Grande, sob ordens de uma “gerentona”

De acordo com o que foi levado à Justiça, com a análise do material armazenado no celular de Eltom Pedro de Almeida foi possível identificar a "gerente geral" do jogo do bicho: Darlene Luiza Borges, conhecida com "Dadá".

Darlene Luiza Borges, a "Dada", de costas na foto, foi presa durante a sexta fase da Operação Omertà. (Foto: Bruna Marques)
Darlene Luiza Borges, a "Dada", de costas na foto, foi presa durante a sexta fase da Operação Omertà. (Foto: Bruna Marques)

“Em conversas gravadas no celular foi possível constatar que Darlene era chamada de "Patroa" e que esta se reportava diretamente a Jamil Name e Jamil Name Filho”, está escrito nos autos.

Quem – Ao pedir as prisões e ordens de busca e apreensão, o Gaeco relacionou a existência de cinco gerentes na cidade, divididos da seguinte forma:

Augustinho Barbosa Gomes: o qual conta com um grande número de veículos registrado em seu nome, especialmente motocicletas e ainda consta no site do Pantanal Cap como distribuidor.

Cláudio Rosa de Moraes: seria diretamente ligado a Darlene Luiza Borges, apontada como a "chefe" abaixo apenas de Jamil Name e Jamil Name Filho; consta em seu nome motocicleta utilizada pelos "recolhes", apurada pela investigação.

Leonir Pereira de Souza: assumiu posição de destaque após as prisões realizadas no curso da Omertà e teria relações de amizade com o marido e filhos de Darlene, além de distribuidores do Pantanal Cap.

Raimundo Nery de Oliveira: exercia função de confiança ligado diretamente a Darlene e realizava atividades de coleta dos valores. Cícero Balbino é apontado como um dos gerentes gerais e exerce função de destaque no jogo do bicho há tempos. Leandro Miranda Balbino, filho de Cícero, esta relacionado como distribuidor do

Darlene Luiza Borges é há tempos conhecida no mundo do jogo do bicho em Campo Grande e estaria apenas, na hierarquia da organização, abaixo dos líderes Jamil Name e Jamil Name Filho.

Todas essas pessoas citadas estão presas. Os homens, segundo apurado pela reportagem, estão no presídio fechado da Gameleira, conhecido como “Supermáxima”. Darlene Luiza Borges está no presídio feminina Irmã Irma Zorzi.

Deputado – Nessa fase da Omertà, o deputado estadual Jamilson Name (sem partido), filho de Jamil Name, teve o escritório e a casa vasculhados.

Ele é apontado como o dono da Pantanal Cap. Na casa e no escritório dele, que funcionam no mesmo endereço do título de capitalização, foram apreendidos mais de R$ 100 mil em dinheiro, que o deputado está tentando reaver judicialmente.

O despacho da juíza Eucélia Moreira Cassal explica porque Jamilson Name foi alvo da medida, apesar de ter foro privilegiado por prerrogativa de função. “Os crimes aqui apurados não tem qualquer relação com cargo de deputado estadual exercido atualmente por Jamilson Lopes Name, de modo que não há o que se falar em foro privilegiado, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal”, esclarece.

Os autos correm de forma sigilosa. Os crimes nos quais os envolvidos estão enquadrados são organização criminosa, exploração do jogo do bicho e lavagem de dinheiro.

Como os investigados estão presos, o Gaeco tem prazo curto para apresentar a denúncia. Normalmente, são 10 dias, que vencem na semana que vem.

Nos siga no Google Notícias