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Capital

Ministra teria prometido verba a ex-secretária após suposto caso de racismo

Processo contra Cida Gonçalves será analisado nesta segunda por Comissão de Ética da Presidência

Por Silvia Frias | 24/02/2025 12:21
Ministra teria prometido verba a ex-secretária após suposto caso de racismo
Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, em visita a Campo Grande, na última terça-feira (18) (Foto/Arquivo/Henrique Kawaminami)

Gravações em poder da Comissão de Ética Pública da Presidência da República  e que fazem parte da apuração das denúncias contra a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, mostram conversa dela com equipe da ex-secretária do ministério, Carmem Foro, demitida em agosto de 2024.

RESUMO

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A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, está sob investigação por supostamente oferecer apoio financeiro à campanha eleitoral de Carmen Foro, ex-secretária do ministério, após um incidente de racismo envolvendo a secretária-executiva Maria Helena Guarezi. Gravações revelam que Cida prometeu buscar recursos para entidades no Pará, estado de origem de Carmen, e até dinheiro internacional para apoiar sua campanha em 2026. A denúncia de racismo, que teria ocorrido em uma reunião, não foi formalizada por Carmen, o que, segundo a defesa de Cida, impediu ações formais. O caso está sendo analisado pela Comissão de Ética Pública e pela CGU.

Conforme Estadão, que teve acesso às gravações, Cida fala sobre aumentar recursos para entidades locais no Pará, Estado de origem da secretária, e buscar “dinheiro” até fora do País para um grupo de apoio à campanha eleitoral dela em 2026.

Quatro meses antes da proposta verbalizada pela ministra, Carmen Foro teria sido vítima de uma manifestação de teor racista cometido pela secretária-executiva Maria Helena Guarezi.

Cida, Maria Helena e outras autoridades do Ministério das Mulheres foram denunciadas por ex-servidoras, que as acusam de supostas práticas de assédio moral. As gravações com a antiga equipe de Carmem Foro fazem parte do acervo documental desta apuração e também foram encaminhadas à CGU (Controladoria Geral da União). Essa denúncia foi formalizada em outubro de 2024.

O “processo ético” envolvendo a ministra entrou na pauta de julgamentos da Comissão de Ética desta segunda-feira, 24. A defesa da ministra e a pasta negam promessas e envolvimento em ajuda para financiar campanha eleitoral

Reunião – A ministra e a então secretária, que não foi escolha pessoal de Cida, estavam em choque por discordâncias políticas e de gestão.

A ministra dizia que a ex-secretária se comportava mais como alguém com ambições políticas regionais do que com dedicação nacional e que, embora a reconhecesse como uma liderança política, não a considerava uma “boa gestora”.

Carmen Foro deixou a equipe do Ministério das Mulheres em 9 de agosto de 2024. Três dias depois da exoneração, a ministra realizou uma reunião interna com a equipe remanescente na secretaria.

Ainda segundo o Estadão, no encontro, gravado por servidoras, a ministra relatou que, um mês e meio antes da demissão, buscou um entendimento para a saída de Carmen Foro, mas que ela “não levou muito a sério” e, quando percebeu que era para valer, entrou com atestado médico e pediu férias.

Cida aparece nas gravações dizendo que, caso demitisse também as demais colaboradoras trazidas por Carmen a Brasília, buscaria aumentar “recursos” para entidades locais no Pará e até “dinheiro fora do País”

“Eu disse para ela que a gente tinha que construir uma saída, porque ela estava muito mais como candidata no Pará do que como secretária nacional. Que a gente construísse a candidatura dela. (...) Atrás de diversos órgãos e instituições, para que ela conseguisse cumprir uma tarefa na COP-30 (...) e ao mesmo tempo a gente começasse a lutar recursos para que o pessoal dela sobrevivesse lá no Pará”, afirmou Cida Gonçalves, segundo uma das gravações.

Em outro momento, na mesma reunião, é possível ouvir Cida falando do risco que a equipe ligada a Carmen perdesse o emprego: “A gente aumentaria o recurso para a questão das entidades lá. Eu correria atrás de dinheiro fora do País, para ter recursos para que vocês fossem o suporte da campanha dela daqui até 2026.”

O dossiê enviado aos órgãos federais não especifica que função Carmen Foro viria a desempenhar na COP-30.

“Porque (a demissão) não significa que eu não quero que a Carmen eleita, tá gente? Ela continua sendo minha candidata prioritária”.

Procurada pelo Estadão, a ex-secretária Carmem Foro não quis se manifestar oficialmente.

Racismo - Quatro meses antes da proposta verbalizada pela ministra, Carmen Foro teria sido vítima de uma manifestação de teor racista, durante reunião na Enap (Escola Nacional de Administração Pública). Segundo a denúncia, Carmen Foro teria sido chamada a atenção, ao se levantar, por Maria Helena Guarezi.

A secretária-executiva teria comentado de forma “depreciativa” que Carmen deveria permanecer sentada porque “seu cabelo estava atrapalhando a visão”. Carmen Foro, que possui cabelo crespo, queixou-se a antigas colaboradoras que ficou emocionalmente abalada com o episódio.

A ministra soube do caso ocorrido com Carmem, segundo denunciantes, mas não explicou que providências adotou. A defesa de Cida respondeu ao Estadão, que ela não poderia agir no caso do suposto racismo sem ter uma denúncia formalizada pela ex-secretária e, portanto, não teria se omitido como ministra de Estado.

“A ministra jamais poderia pedir a instauração de um procedimento sobre o fato que ela não presenciou e que a suposta vítima, a alegada vítima, a gente nem sabe se pode chamar de vítima, não quis levar para frente”, disse o advogado Bruno Salles Ribeiro, que representa Cida. “Clima de racismo no ministério nunca existiu. Nunca teve comoção de pessoas dizendo que aconteciam fatos racistas no ministério.” Ele também nega que a ministra tenha feito qualquer oferta para a secretária demitida.

Em nota, o Ministério das Mulheres afirmou que Cida Gonçalves avaliava que Carmen Foro, mesmo exonerada, “poderia ser uma boa articuladora na Conferência internacional do clima”, mas nunca ofereceu a ajuda financeira ou recursos do governo.

Com carreira consolidada em Mato Grosso do Sul, Cida Gonçalves assumiu a pasta em 3 de janeiro de 2023. Ela participou do governo de José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, entre 2000 e 2002. Já de 2003 a 2012 foi secretária nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República.

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