Motorista denuncia jornadas abusivas e cobrança indevida por acidentes
Ex-funcionário relata jornadas exaustivas, falta de pausas e refeições improvisadas

Motoristas do transporte coletivo de Campo Grande enfrentam jornadas exaustivas, sem pausas adequadas para descanso ou alimentação, e ainda são responsabilizados por acidentes com passageiros. A denúncia foi feita por Weslei Moreli, ex-funcionário de duas empresas do Consórcio Guaicurus, durante depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte nesta quarta-feira (11).
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Motoristas do transporte coletivo de Campo Grande denunciam jornadas exaustivas e cobranças indevidas por acidentes. Weslei Moreli, ex-funcionário de empresas do Consórcio Guaicurus, relatou à CPI do Transporte que os motoristas enfrentam turnos longos, sem pausas adequadas, e são responsabilizados por lesões de passageiros. A prática de horas extras, conhecida como "pega", é comum, e os motoristas frequentemente não têm tempo para refeições. Além disso, Weslei destacou a falta de suporte jurídico e seguro para acidentes, o que gera custos diretos aos motoristas. A CPI investiga as condições de trabalho e possíveis irregularidades nas empresas do consórcio.
Segundo Weslei, era comum motoristas iniciarem o turno às 4h da manhã e só encerrarem as atividades por volta das 17h. “Você sai de casa, trabalha o dia inteiro e só volta à noite. Tudo isso para fazer hora extra e conseguir um salário melhor. Já fiquei sem almoçar, comendo um salgadinho dentro do ônibus enquanto rodava”, relatou.
A prática do chamado “pega”, jargão rodoviário para horas extras feitas além da jornada normal, também foi citada. “É comum dar três pegas seguidos. Você termina uma linha e já te chamam para fazer outra. Isso acontece direto”, afirmou Weslei, que trabalhou nas empresas Jaguar e Cidade Morena entre 2019 e 2024.
Outro ponto grave relatado foi a cobrança indevida por acidentes. “Se um passageiro se machuca dentro do ônibus, a empresa coloca ele em contato direto com o motorista, que acaba pagando remédio do próprio bolso. Não tem seguro, não tem setor jurídico para isso”, afirmou. Segundo Weslei, conhece colegas que já passaram por essa situação e está disposto a indicar testemunhas.
Além disso, ele destacou a ausência de pausas formais para descanso ou refeições. “Dependendo da escala, o descanso era só cinco minutos entre uma viagem e outra. Não dá tempo nem de ir ao banheiro. É puxado demais”, disse, emocionando os vereadores durante a oitiva. A vereadora Luiza Ribeiro (PT) chegou a dizer que as falas de Weslei eram “estarrecedoras” e “inaceitáveis do ponto de vista humano e legal”.
A CPI do Transporte investiga possíveis irregularidades na concessão do serviço público e nas condições de trabalho dos funcionários do Consórcio Guaicurus, formado pelas empresas Jaguar, Cidade Morena, São Francisco e Viação Campo Grande. Os parlamentares também apuram se há negligência por parte dos órgãos fiscalizadores.
Outro lado - Desde o início dos trabalhos da CPI, o Consórcio Guaicurus mantém o posicionamento de não se manifestar sobre o tema à reportagem. A diretoria e proprietários da empresa já foram convocados para prestar esclarecimentos sobre os fatos à Comissão.
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