"Nega do cabelo duro" e "lata de banha": moradora de prédio revolta vizinhos
Casos viraram registros policiais e local emitiu nota de esclarecimento; ela também é acusada de homofobia
“Quem você pensa que é? Você é uma lata de banha e um viadinho”. Everton Gama, de 23 anos, foi vítima de gordofobia e homofobia dentro do próprio condomínio onde reside, no Castelo Di Napoli, localizado no bairro São Francisco, em Campo Grande. O caso aconteceu nesta quarta-feira (12), após o professor de geografia entrar no bloco e ser questionado sobre quem era. A agressora é uma condômina de 59 anos que mora na mesma torre e já foi denunciada por racismo.
Um dos casos é o do áudio acima, mandado no grupo do condomínio e apagado alguns minutos depois por ela. Everton atribui o conteúdo à agressora, onde ela chama outra moradora de “nega do cabelo duro”.
Confira o que diz o áudio: “Dessa ação, não é seu marido. Pode falar pra ele que ele não é tão importante assim pra gente por o nome de primeira e pode ficar tranquila, nega do cabelo duro, seu marido tá saindo fora. Se preocupa não”. O professor explica que o tema da conversa era referente a questões rotineiras do condomínio.
Quanto ao caso sofrido pelo docente, o jovem relata que a senhora perguntou quem ele era e tentou fechar a porta de vidro no rosto do rapaz. Everton segurou-a e impediu que ela se fechasse, em seguida respondeu à pergunta feita, “sou morador, assim como você”. O professor cogitou não registrar boletim de ocorrência, mas afirma que atos como esses precisam ser responsabilizados.
“Moro no condomínio desde que inaugurou. Ela tem um comportamento de caçar confusão por qualquer situação. Eu percebi que esse comportamento começou há uns 2 anos essas atitudes, mas quem faz isso sempre age na surdina quando não tem ninguém próximo. Ontem eu não ia fazer boletim, mas tem que fazer senão ela não para. Ela já chamou outros de viadinho e é racista”.
Racismo - Em outubro deste ano, a agressora teve o nome vinculado a outro registro policial, dessa vez por racismo contra uma servidora que realizava a limpeza do local. A mulher saiu do apartamento onde mora para questionar a funcionária sobre o motivo da existência de água na porta dela. A vítima disse que estava limpando o andar quando a condômina disse:
“Gente da sua raça, só serve para fazer isso mesmo, vocês só vieram ao mundo para trabalhar com isso”.
A vítima estava há cinco meses no condomínio. Após o ocorrido, o síndico geral da época emitiu uma nota de pesar.
“Essa moradora, de modo extremamente desrespeitoso e sem qualquer justificativa, proferiu insultos de cunho racial e palavras depreciativas à funcionária, que no momento estava executando seu trabalho de manutenção do prédio. O ocorrido foi testemunhado por outros quatro moradores, que também ficaram profundamente incomodados e solidários à colaboradora. Alguns desses moradores também foram agredidos verbalmente e vítimas de homofobia, conforme seus respectivos relatos. Ressaltamos que a administração deste condomínio repudia veementemente qualquer ato de discriminação e racismo. Nada justifica esse comportamento”.
A gerência do local mudou nessa segunda-feira (9). A reportagem entrou em contato com a nova síndica através de mensagens e ligações para qualquer pronunciamento sobre o caso de Everton, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. Também contatamos a acusada, que igualmente não atendeu ou respondeu às ligações.
Debate - Rosana Anunciação, coordenadora municipal de Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial afirmou ao Campo Grande News, em novembro - durante ação de conscientização contra racismo - que em 2023 foram registrados 200 casos do crime em Campo Grande e que a realidade é ainda mais assustadora devido ao índice de subnotificações.
“Esse número não condiz com a realidade, porque a quantidade de denúncias é bem menor do que os casos que realmente acontecem. As pessoas ainda têm medo de denunciar, porque, normalmente, o racismo acontece no trabalho, ou em momentos em que a pessoa fica na dúvida se ela vai fazer ou não a denúncia, justamente, porque pode ser prejudicada”.
Luta - Pela primeira vez na história, o dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, foi comemorado como feriado nacional. O momento histórico se soma à luta contínua contra o racismo e pela promoção da igualdade racial. Em Mato Grosso do Sul o dia como feriado chegou depois que em alguns estados.
Para entender o avanço tardio no Estado é necessário explicar que a data que faz alusão ao dia da morte de Zumbi dos Palmares - um dos símbolos de resistência contra a escravização no Brasil - foi criada em 2011 e inserida no calendário nacional apenas em dezembro de 2023.
No ano, o texto não colocava o dia como feriado nacional, sendo optativo para cada Estado aderir ou não. Na época, apenas Alagoas, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, São Paulo e Rio de Janeiro consideravam a data como feriado estadual.
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