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Capital

No combate a violência contra criança, falta de diálogo é principal inimigo

Neste ano, 881 casos já foram denunciados à Depac, 157 deles de estupro de vulnerável

Geisy Garnes | 25/05/2019 14:28
Delegada Marília de Brito, delegada titular da Depac (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegada Marília de Brito, delegada titular da Depac (Foto: Henrique Kawaminami)

Os crimes sexuais são ainda os mais registrados na Depca (Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente). Até o dia 31 de abril a delegacia recebeu 157 denúncias de estupros, só em Campo Grande. Mas para quem convive diariamente com essas vítimas, os números relevam, principalmente, a dificuldade das famílias em acreditarem nas crianças.

Segundo a delegada titular da unidade, Marilia de Brito Martins, crimes sexuais normalmente são subnotificados, isso pela dificuldade da vítima em contar à violência que sofreu.

Quando a vítima é criança, ou adolescente, isso se agrava, justamente pela dificuldade em dar voz a ela. “É o não crer nela, é o não acreditar. É muito difícil as pessoas encarrarem, muitas vezes, o relato de uma criança que está sendo abusada. Principalmente por alguém da mesma família, que é o mais comum. Em 95% dos crimes estamos falando de pai, mãe, de familiares próximos ou que tem acesso às crianças, como autores do crime”.

No dia-a-dia da delegacia, relatos de familiares que descobriram sobre os crimes e não denunciaram a polícia ainda são frequentes. “É recorrente essa história de conversei com ele, não vai fazer mais isso. Mas ele continua fazendo. Tanto que temos muitos boletins de ocorrência tardios, de pessoas maiores que procuram a delegacia para relatar casos”.

“Muitas vezes são pessoas que não revelaram o estupro, não tiveram condições de relevar a ninguém quando eram crianças, ou que relataram a quem deveria proteger elas, quem elas tinham expectativa de que fizesse alguma coisa, mas não fez”. Segundo Marília, é perceptível como o descaso psicologicamente essas vítimas durante as denúncias.

O perfil dessas vítimas ainda é distinto. “Temos jovens que acabaram de sair de casa, vítimas de 30, 40 anos”, detalha a delegada. Em muitos dos casos, a própria polícia descobre sobre crimes antigos durante investigações atuais, comum quando os autores fazem mais de uma vítima.

A solução, conforme Marília, está na prevenção, na aproximação da família e principalmente no diálogo com as crianças e adolescentes. “Às vezes a criança se sentiu estranha, mas não sabe o motivo. Não tem capacidade de entender que aquilo é uma violência. É preciso investir em educação digital, em educação sobre o próprio corpo, no que é certou ou errado, as crianças precisam ter esse conhecimento”, afirma.

Dados – Em 2018 a delegacia especializada registrou 432 casos de estupro e 326 de maus-tratos. Neste ano, 881 casos já foram denunciados a delegacia, 157 deles de violência sexual.

Além de denúncias espontâneas, como são chamadas os casos em que familiares e vítimas procuraram a polícia, a Depca ainda atende casos trazidos por outros órgãos de proteção à criança e ao adolescente – como o Conselho Tutelar e o Disque 100, que só no ano passado rendeu mais de 300 denúncias – casos descobertos pela equipe de investigação e também resultados de operações, como as de combate a pornografia infantil.

“Eu digo aqui na delegacia que nós fomos á última trincheira, porque se essa criança chegou a nossa unidade policial é porque o estado, a família e a sociedade falharam de alguma maneira. Nesse momento nós não podemos mais falhar. Precisamos escolher o melhor caminho, fazer a melhor condução, prestar atendimento humanizado, para que ter alguém para defender, para ter alguém para tutelar, para saberem que elas têm alguém que as protejam".

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