Perícia recolhe cheque em nome de deputado com morto carbonizado
Entre as dezenas de cheques que a perícia encontrou na casa do engenheiro agrônomo Sebastião Mauro Fenerich, 69, anos, que foi morto e teve corpo carbonizado esta semana em Campo Grande, há um documento em nome do deputado estadual Maurício Picarelli (PSDB), no valor de R$ 50 mil, segundo apurou o Campo Grande News. A polícia suspeita que a vítima atuava como agiota, pela quantidade de cheques de terceiros encontrados, em diversos valores.
As suspeitas do crime recaem, então, sobre algum cliente ou parceiro nas negociações irregulares de empréstimo. Uma das grandes questões da investigação é o fato de os cheques terem ficado intactos na casa, expondo os possíveis clientes.
O corpo de Fenerich ainda não foi reconhecido oficialmente, em razão do estado em que foi encontrado, mas a investigação já dá como certo que se trata dele. Primeiro a registrar o caso, o delegado Weber Luciano, da 2ª Delegacia de Policia Civil, não detalhou os achados da perícia, confirmando apenas que a suspeita é de que os cheques encontrados eram referentes a empréstimos a juros, prática que configura crime no Brasil, passível de pena de até 2 anos de reclusão.
A investigação, agora, foi transferida de unidade, e ficará na DEH (Delegacia Especializada de Homicídios), sob a responsabilidade do delegado Márcio Obara, titular da delegacia. Ao Campo Grande News, Obara disse que assumiu o caso há muito pouco tempo e primeiro se interaria de tudo que foi encontrado, para depois falar a respeito.
De acordo com o que apurou a reportagem, a vítima do assassinato seria frequentador assídua da Assemgleia Legislativa. Os vizinhos à edícula onde ele morava pouco falaram, dizendo apenas que era um morador tranquilo e querido na região.
Onze anos atrás - A reportagem, porém, identificou que em fevereiro de 2006, foi registrado contra ele boletim de ocorrência por ameaça. No dia 22 de agosto daquele ano, Pedro Berquo de Oliveira, então com 35 anos, foi à Polícia Civil em Aquidauana, denunciar que recebeu ameaças por telefone de Sebastião Mauro Fenerich.
Fenerich, segundo o boletim de ocorrências, era administrador de uma fazenda de propriedade do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e ex-deputado estadual Jerson Domingos, localizada na cidade localizada a 135 km de Campo Grande. O relato de Oliveira dizia que ele foi contratado em março de 2006, junto com a esposa, Patrícia Suriano, para ser tratador de gado de elite, mas o administrador da propriedade passou a pedir para fazer “coisas que não haviam sido combinadas”.
Ainda segundo o boletim, o funcionário se recusou e passou a receber ameaças, por telefone, vindas de Fenerich. No período, Sebastião assinou TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) e foi liberado.
O crime - Os restos mortais de Fenerich estão no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) à espera da identificação por meio de teste de DNA. O corpo foi encontrado carbonizado no porta-malas de Hyndai HB20, na rua Missão Salesiana, no Jardim Seminário, na região norte de Campo Grande, no fim da tarde de segunda-feira (10).
Testemunha de 65 anos contou que viu quando dois homens, um deles em uma caminhonete, desceram dos veículos e atearam fogo no Hyundai HB20.
Na casa de Fenerich, além dos cheques, os peritos colheram impressões digitais, encontraram duas armas. O imóvel estava revirado.
Picarelli - O deputado Maurício Picarelli ainda não se pronunciou sobre o assunto. Ele participou nesta manhã apenas da primeira parte da sessão e logo saiu. O parlamentar apresenta um programa na TVI, onde chegou a mostrar matéria sobre o assassinato nesta manhã. Sua assessoria informou que vai aguardar o fim do programa para saber se ele quer falar sobre o documento em seu nome encontrado na casa de Sebastião Fenerich.
(Matéria atualizada às 12h28 para acrescentar informação)