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Capital

Presa por assassinato em motel nega crime e reforça ameaças

Fernanda Aparecida da Silva Sylvério afirmou ao juiz que não matou o ex-superintendente de gestão de informações do governo do Estado, Daniel Nantes Abuchaim

Geisy Garnes | 12/02/2019 17:32
Fernanda Aparecida da Silva Sylvério no fórum de Campo Grande (Foto: Kisie Ainoã)
Fernanda Aparecida da Silva Sylvério no fórum de Campo Grande (Foto: Kisie Ainoã)

Aconteceu na tarde desta terça-feira (12) a primeira audiência sobre a morte do ex-superintendente de gestão de informações do governo do Estado, Daniel Nantes Abuchaim, de 46 anos. Mesmo sem poder falar, a principal suspeita do crime, Fernanda Aparecida da Silva Sylvério, de 28 anos, insistiu em sua inocência, e mais de uma vez, afirmou que participou do crime sob ameaça.

Oito testemunhas, cinco delas investigadores da Polícia Civil e três funcionários do motel em que o crime aconteceu – no dia 19 de novembro – foram ao fórum de Campo Grande nesta tarde para prestar depoimento ao juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri.

O dia estava reservado para as testemunhas de acusação, convocadas pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), mas ainda assim Fernanda usou a oportunidade para declarar sua inocência diante do juiz. Entre um depoimento e outro, a acusada reagia, reafirmava que foi ameaçada para participar do crime e que não tinha matado Daniel.

“Não fui eu senhor. Não tenho parte em nada disso”, disse antes mesmo da audiência começar e a primeira testemunha ser ouvida. Sentada no canto da sala, com o uniforme do Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi, Fernanda chorou enquanto ouvia detalhes da investigação narradas pelos policiais da 3ª Delegacia de Polícia Civil.

Concordava quando as testemunhas afirmavam que era impossível só uma pessoa ter assassinado Daniel e reforçava que era ameaçada, até que o juiz, a pedido do promotor do caso Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, intervir na situação e avisar a Fernanda que ela estava ali apenas para acompanhar os depoimentos.

“Sou inocente doutor”, afirmou ainda assim, com as mãos juntas, em um claro sinal de suplica, antes de deixar a sala de audiência após os oito depoimentos e ser escoltada por policiais militares de volta ao presídio.

Daniel foi assassinado no dia 19 de novembro de 2018 (Foto: Arquivo pessoal)
Daniel foi assassinado no dia 19 de novembro de 2018 (Foto: Arquivo pessoal)

Os depoimentos – Os cinco primeiros depoimentos da tarde foram de investigadores da 3ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande e também do GOI (Grupo de Operações e Investigações), que participaram diretamente das investigações sobre a morte do ex-superintendente.

Os investigadores detalharam ao juiz, ao promotor e ao advogado de defesa, como Daniel foi encontrado e como chegaram ao nome de Fernanda. Lembraram que a toalha enrolada no corpo da vítima e os pés enrugados pelo contado com água levaram as equipes ao motel em que o crime aconteceu.

Descreveram as imagens apreendidas pela polícia na casa da vítima, que mostravam o encontro entre Daniel e Fernanda e a presença dos dois no motel. Afirmaram que com ajuda de reagentes encontraram vestígios de sangue por todo o quarto do estabelecimento, principalmente no banheiro, onde acreditam que houve o esgotamento de sangue do corpo da vítima.

Segundo os investigadores, os principais detalhes do crime vieram depois da prisão de Fernanda, com as mudanças nas versões dela sobre o assassinato e principalmente nas analises de provas, que apontaram ser impossível à mulher ter matado o ex-superintendente sozinha, ou mesmo da maneira em que ela contou no segundo depoimento, como se só tivesse assistido um estranho cometer o homicídio.

Em um dos depoimentos, um dos investigadores relatou que a acusada deixou o motel em 40 minutos e que neste tempo é impossível ela sozinha ter matado Daniel e ainda ter feito a limpeza do quarto tão bem como foi feito. Reforçou ainda que sozinha ela não conseguiria arrastar o corpo, por conta da altura e do peso da vítima.

“A verdade infelizmente a Fernanda não falou”, reforçou. Outro depoimento, vindo do investigador que no dia da reprodução do crime feita pela polícia agiu como se fosse o verdadeiro assassino detalhou que dificilmente o crime aconteceu como a suspeita contou. “Dá forma que ela narrou, dificilmente aconteceu. Eu tive dificuldade em vários pontos”.

Do outro lado, os três funcionários do motel lembraram que Fernanda parecia nervosa quando chegou ao estabelecimento, enquanto Daniel fazia carinho nela e agia normalmente. Relataram que ao entrar a mulher não fez questão de escolher o quarto e esqueceu de pegar a chave na portaria.

Ao juiz, os funcionários contaram que Fernanda pediu a conta depois de 26 minutos no quarto, comprou uma toalha do motel por R$ 25, pagou em dinheiro ainda no quarto e pediu para deixar o portão aberto. Para o promotor, a recepcionista afirmou que a ré parou longe da recepção para esperar o portão ser aberto e depois disso saiu em alta velocidade e sozinha.

“Vi que ela estava sozinha e que o banco do passageiro estava abaixado”, afirmou mais de uma vez. O dinheiro entregue aos funcionários também denunciava o crime: tinha marcas de sangue e foi entregue a polícia.

Movimentação policial em estrada vicinal perto do Parque dos Poderes onde o corpo foi encontrado (Foto: Paulo Francis)
Movimentação policial em estrada vicinal perto do Parque dos Poderes onde o corpo foi encontrado (Foto: Paulo Francis)

Entenda – Inicialmente, Fernanda alegou à polícia que havia assassinado Daniel sozinha, motivada por vingança a um possível assédio cometido por ele à sua namorada. Dias depois ela mudou a versão, afirmou que ele foi morto por um desconhecido e que só assumiu o homicídio após ter sido ameaçada.

Ela afirmou que no dia 19 de novembro foi à casa de Daniel e assim que saíram de lá, pararam em um cruzamento com sinalização de pare. Neste momento um homem armado entrou no banco traseiro do veículo e a obrigou dirigir até o motel no Jardim Noroeste. Dentro do quarto, o homem discutiu com Daniel por conta de uma “dívida de dinheiro e cheques” e em seguida o matou.

Toda a cena teria ocorrido dentro do banheiro, de onde o homem foi arrastado pelo suspeito até a garagem e colocado dentro da Pajero TR4 da mulher.

O verdadeiro assassino ainda teria ameaçado Fernanda, afirmando que “iria esfaqueá-la da mesma forma caso falasse alguma coisa”. A mando do suspeito, levou o corpo até o Jardim Veraneio, fugiu do local e deixou o assassino em um semáforo na mesma região. Fernanda ainda tentou ir para Bela Vista. Contudo, horas depois, decidiu voltar à Capital, onde foi presa.

Durante as investigações, a polícia ainda encontrou conversas de Fernanda com Patrick Weslley Fontoura Dias de Lima - irmão de Mayara Fontoura Holsback, assassinada a tesouradas pelo namorado, Roberson Batista da Silva, em setembro de 2016. Ainda conforme o inquérito, o rapaz é um dos suspeitos de participar do crime, mas não houve confirmação do envolvimento dele durante os depoimentos dessa tarde.

A próxima audiência, quando as testemunhas de defesa e a próxima acusada prestam depoimento aconteceu no dia 11 de março. 

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