“Quem viu a morte não liga para um pé”: policial só voltou à rotina com prótese
Maki conta como está vida após acidente em 2024, que causou a amputação de uma das pernas
“Quem viu a morte não liga para um pé”. Quase um ano após o acidente de moto que causou a amputação da perna do policial civil Maki Carvalho Lanzarini, de 34 anos, a vida enfim voltou aos trilhos. Já readaptado e com uma prótese de fibra de carbono, que demorou para conseguir, voltou a trabalhar. Ele conta como foi todo o processo e revela que ações rotineiras passaram a ser diferentes, como carregar os pratos após uma refeição.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O policial civil Maki Carvalho Lanzarini, de 34 anos, teve a perna amputada após um acidente de moto em Campo Grande. Quase um ano depois, ele se readaptou com uma prótese de fibra de carbono e voltou à rotina, incluindo o trabalho e a prática de esportes. O policial conta que a adaptação foi difícil, mas que se sente grato pela vida. Ele precisou juntar R mil para adquirir a prótese mais adequada, já que as oferecidas pelo SUS são mais simples. A APE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) é o único local que faz a reabilitação de pacientes amputados na região. Acidentes de moto são a principal causa de amputações em Campo Grande, com uma estimativa de 5 a 10 casos por semana no hospital Santa Casa. A diabetes é a segunda maior causa.
Tudo aconteceu no primeiro dia de férias do agente, em 2024. Maki tinha ido jantar com a namorada em um espetinho e retornava para casa, que fica na Vila Nasser, quando foi atingido por um Volkswagen Voyage, no cruzamento da rua Ceará com a Amazonas. O motorista do carro desrespeitou o semáforo e atropelou o casal. Com a colisão, o pé de Maki ficou preso apenas pela pele.
Ao Campo Grande News, ele conta que, além da dor pós-cirúrgica, a adaptação à nova realidade foi difícil. O policial teve uma amputação de perna, ou seja, abaixo do joelho. O corte é um dos mais comuns quando o assunto é amputação de membro inferior.
“Sofri muito com a adaptação porque foi até rápida a protetização. Depois do acidente, ainda tinha muita memória muscular, então lembrava do caminhar. Quando estou em casa, às vezes preciso de ajuda. Quando tiro a prótese e estou cansado, não consigo carregar prato de comida, essas coisas preciso de ajuda. Me sinto grato pela vida. Quem viu a morte, não liga pra um pé, não”.
Ele conta que ficou aproximadamente 80 dias com o enfaixamento na perna e preparando o coto (parte que fica após cirurgia) para receber a prótese. Para conseguir o mecanismo mais moderno, precisou juntar em torno de R$ 70 mil. Apesar do SUS (Sistema Único de Saúde) oferecer as peças gratuitamente, as próteses são simples e não ajudariam na profissão de Maki.
“Fui para São José dos Campos, fiquei dias fazendo o processo de protetização. Depois fiquei três meses fazendo adaptação com prótese provisória. Em seguida, voltei para lá para colocar a definitiva, que é a que estou hoje. A primeira prótese eu coloquei com 87 dias depois do acidente. Mais 90 dias e coloquei as definitivas”.
Em agosto de 2024, o policial voltou a trabalhar como investigador e a praticar esportes. Praticamente 100 dias após a protetização já estava fazendo musculação e caminhadas. A peça adquirida por ele é uma transtibial com fibra de carbono. Ela é híbrida, ou seja, serve tanto para o dia a dia como para a prática de esportes.
Para ele, a parte mais dolorosa do processo foi a "dor fantasma" no pós-operatório. A sensação se tornou conhecida em meados do século XVI pelo cirurgião francês Ambroise Paré. Ele ouvia de soldados feridos no campo de batalha relatos de dor em membros que já haviam sido amputados.
Reabilitação - De acordo com a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), em 2024, foram oferecidas diversas próteses, tanto para membros superiores quanto inferiores. Os modelos mais solicitados foram as próteses transtibiais, com 231 unidades entregues, e as próteses transfemurais, que somaram 131 unidades.
O local é o único que faz a reabilitação de pacientes amputados em Campo Grande e no Estado. Para ser atendido, é necessário que o paciente esteja regulado via SISREG (Sistema Nacional de Regulação), seja por meio do município de origem ou do hospital onde realizou a cirurgia de amputação.
Como pedir a prótese? - O primeiro passo do processo é a avaliação realizada por profissionais da saúde, como fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais. A partir dessa avaliação, são solicitados, via SISREG, os materiais essenciais para a reabilitação do paciente. Esses materiais incluem itens elásticos para o preparo do coto, equipamentos auxiliares para a marcha e, posteriormente, a própria prótese.
“Com os materiais em mãos, o paciente inicia a reabilitação com uma equipe multiprofissional. Assim que o fisioterapeuta clínico avalia e constata que o coto está adequadamente preparado, o paciente é encaminhado à oficina ortopédica para a retirada de medidas e a confecção da prótese. Após a entrega da prótese, ele continua em processo de reabilitação para o treinamento e adaptação ao uso diário do dispositivo”.
Segundo a Apae, o acompanhamento se estende até que o paciente esteja completamente adaptado e liberado para retomar suas atividades cotidianas com segurança. A associação ressalta que ele pode solicitar a substituição da prótese a cada dois anos e o processo deve ser feito por meio de encaminhamento da unidade de saúde do município ou bairro.
Amputações - O médico Marcos Rogério Covre, cirurgião vascular e chefe de residência médica da Santa Casa de Campo Grande, explicou ao Campo Grande News que acidentes envolvendo motos são o motivo principal de amputações no local.
A estimativa do profissional é de 5 a 10 casos por semana. O total em um ano chega a 240 pessoas amputadas. Caso seja considerado o maior índice, 10, a quantidade é ainda mais assustadora, 480 em 12 meses. A diabetes é a segunda maior causa de amputações no hospital.
A reportagem completa sobre o número de amputações, o relato de um jovem que também entrou para as estatísticas e tenta voltar a trabalhar enquanto espera a prótese; e o cuidado com o pés em pacientes diabéticos - que também podem gerar amputações - você pode conferir neste link ou clicando aqui.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.