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Capital

Réu confessa que estragou “vida” por “ganância”

Marcelo Rios, 46, negou qualquer envolvimento na execução por engano de Matheus Coutinho Xavier, de 20 anos

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 18/07/2023 17:28
Marcelo Rios, de 46 anos, durante depoimento nesta tarde (Foto: Henrique Kawaminami)
Marcelo Rios, de 46 anos, durante depoimento nesta tarde (Foto: Henrique Kawaminami)

Julgado sob a acusação de arquitetar o assassinato de Paulo Xavier, plano que acabou com o filho do alvo, Matheus Coutinho Xavier, fuzilado aos 20 anos, o ex-guarda civil Marcelo Rios, de 46 anos, negou qualquer envolvimento no homicídio, mas admitiu ser o responsável pelo arsenal apreendido na casa do Bairro Monte Líbano, o estopim para a Operação Omertà. Em interrogatório, na tarde desta terça-feira (18), ele desvinculou os Name, para quem trabalhava, de qualquer crime cometido por ele.

Rios afirmou que foi Juanil Miranda, apontado no processo como um dos pistoleiros contratados para a execução por engano, quem o procurou e o contratou para guardar as armas. “Cometi um crime em 2019, no comecinho de maio, 5 ou 6 de maio, o Juanil me ofereceu para guardar essas armas para ele, assumi que fiz isso. Guardei essas armas por 2 mil reais. Foram os R$ 2 mil mais caros da minha vida”.

O ex-guarda municipal também fala em arrependimento. “Porque estraguei a vida das pessoas com quem eu trabalhava, de amigos meus, estraguei a vida de todo mundo. Associaram a minha ganância por esses 2 mil reais, associaram com homicídio, com isso, com aquilo. O que eu fiz, eu assumi, eu errei. O Marcelo Rios hoje é um cidadão arrependido”.

Marcelo Rios é apontado pela Omertà como chefe da segurança da família Name e “gerente” da milícia formada por Jamil, o “Velho”, e Jamilzinho, o filho, para exterminar desafetos. Segundo a investigação, a participação dele na morte de Matheus foi de planejar a execução de “PX”, ex-integrante da “escolta armada” dos Name, considerado traidor, e contratar os assassinos de aluguel para pôr o projeto em prática.

O réu comentou sobre a relação com a família Name. “Eu comecei a trabalhar em 2016. Fazia de tudo. Depois, eu era a pessoa que trazia gente pra trabalhar na casa, trouxe o Antunes, Erolnaldo e o Robert [todos foram alvos da Omertà]. Depois de um tempo, virei um funcionário de confiança do seu Jamil [Name, o pai]”.

Rios disse ainda que Juanil era apenas um conhecido. “O Juanil pode ser que ele fosse vigia, mas eu não tinha contato direto com ele. Ele me mostrou algumas armas e perguntou se eu queria comprar, só isso”.

A defesa perguntou qual foi o argumento que Juanil usou para convencê-lo a guardar as armas na casa que pertencia ao ex-patrão – a mesma que depois foi descoberta extorsão praticada pelos Name contra o verdadeiro dono. “Ele me disse que precisava ficar 20 dias fora, aí não tinha pra onde eu levar as armas. Então, eu decidi esconder nessa casa”.

Rios afirmou ainda que usufruía do imóvel. “Se eu conhecia alguma menina, eu levava pra essa casa. Esse foi meu erro”.

Por fim, o ex-guarda negou qualquer envolvimento no homicídio. “Essa coisa de homicídio desse garoto eu não sei, eu assumo meus erros, mas disso aí tenho nada ver. Ontem, quando o pai da vítima estava aqui chorando, me segurei para não chorar, porque sou pai de família e deve ser horrível perder o filho como ele perdeu”.

Ao responder perguntas dos jurados, feitas pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, Rio repetiu que não teve envolvimento na morte do estudante de Direito. “Quem foi que matou a vítima?”, perguntou o magistrado. E o ex-guarda respondeu: “Não sei”.

O réu deu resposta para corroborar com tese que está aos poucos sendo apresentada pelas defesas: a de que Paulo Xavier tinha ligações com o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que age dentro e fora dos presídios. “Quem intermediou a morte da vítima?”, perguntou o defensor. Rios disse: “Eu não fui. Não fiz isso. O que eu posso dizer é o que pai disse aqui que ele morreu por engano. Mas eu vou falar o que eu ouvi no Federal [presídio em Mossoró]. O que todo mundo fala lá dentro é que o PX perdeu uma droga de facção”.

Ao ser perguntado o que tinha a dizer sobre o fato de a vítima ter sido fuzilada, Marcelo Rios falou metaforicamente. Veja:

O júri – Nesta segunda-feira (17), primeiro dia do júri, foram ouvidas cinco testemunhas da acusação: os delegados Daniella Kades, Tiago Macedo e Carlos Delano. O pai da vítima, Paulo Xavier, também foi ouvido e, por fim, o investigador da Polícia Civil, Giancarlos de Araújo e Silva.

O foco da defesa foi tentar desvencilhar a família Name do caso, citando inclusive ligação entre o major reformado da PM e megatraficante Sérgio Roberto de Carvalho e Paulo Roberto Xavier, pai de Matheus.

Nesta terça-feira (18), foi ouvido o delegado João Paulo Sartori, testemunha de acusação que não deu tempo de ser ouvida ontem, e depuseram testemunhas de defesa, entre elas a esposa de Rios.

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