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Sem teto, homem toma banho pelado em rio da Ernesto Geisel

Moradores de rua têm vivido às margens do Rio Anhanduí, em meio ao lixo acumulado no local

Aletheya Alves | 19/10/2021 15:35

Pouco depois das 13h, dois homens, um deles sem roupa, tomam banho e escovam os dentes no Rio Anhandui, localizado na Avenida Ernesto Geisel, na Vila Taquarussu. Olhando mais atentamente, é possível ver que uma cabana improvisada, escondida entre a vegetação, também é utilizada por outras pessoas.

Reclamações sobre o lixo acumulado na Ernesto Geisel e margens do Rio Anhanduí, que separa as duas vias da avenida, levaram a reportagem até a esquina com a Rua Sol Nascente. Já durante a observação, dois homens saíram da tenda encoberta por uma árvore e seguiram para o rio.

Em vídeo registrado pelo Campo Grande News, um deles sai da água sem roupas e se veste, enquanto o outro mantém camiseta e shorts durante o banho improvisado. Mestre em antropologia social e professor de sociologia, Vladimir Eiji Kureda, de 26 anos, explica que a situação serve como base para se pensar desde a vulnerabilidade social até como os envolvidos costumam ser considerados apenas como “indesejados”.

Homem segue em direção a trecho que dá acesso ao Rio Anhanduí. (Foto: Paulo Francis)
Homem segue em direção a trecho que dá acesso ao Rio Anhanduí. (Foto: Paulo Francis)

“Um padrão recorrente é que esses sujeitos são considerados indesejáveis, porque são vistos como poluidores das imagens urbanas”, Vladimir explica. Para o professor, a relação entre os moradores “formais” e os “indesejados” gera pensamentos de exclusão, “muitas vezes, se pensa a gestão desse problema a partir da segregação, no sentido de fazer com que se afastem do local”.

Superando a exclusão, Vladimir diz que o suporte ideal a essa população tem sido encarado mais como “humanizado”. “Pensar a dignidade a partir de uma relação mais humana e menos segregatória e discriminatória, que não vê o outro como um problema que deve ser erradicado”.

A reportagem tentou falar com os homens que estavam no local, mas apenas um, que não quis se identificar, disse que as pessoas usavam o rio para tomar banho e se refrescar.

Conflitos – Comerciante na região, Geisa Mara dos Santos, de 44 anos, conta que trabalha no bairro há 20 anos e tem se acostumado com a presença dos moradores da Ernesto Geisel. Em conflito sobre perder clientes, ela relata que o lixo espalhado pela avenida é apenas uma consequência de outras situações complicadas.

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Aqui tem bastante andarilho e na região, tem aumentado, já é uma região difícil. Eles moram embaixo da ponte e precisamos conviver com isso", diz Geisa.

Para a comerciante, a melhora iria desde encontrar uma solução para os moradores de rua até o conserto do espaço físico. “Aqui ficou complicado, porque não tem guard-rail para proteger, a calçada despedaçou. Isso também atrapalha muito nosso comércio”.

Lixo espalhado às margens do Rio Anhanduí, na Ernesto Geisel. (Foto: Paulo Francis)
Lixo espalhado às margens do Rio Anhanduí, na Ernesto Geisel. (Foto: Paulo Francis)

Pensando sobre os problemas financeiros, Pedro Henrique Gil, de 24 anos, contou que os andarilhos costumam furtar objetos variados. “Já levaram mesa que a gente deixou na frente da loja, cadeira. Eu fico aqui perto por isso”.

Exemplificando o comentado pelo professor Vladimir, Pedro explicou que já perdeu vendas devido às presenças indesejadas. “Uma cliente veio aqui e um homem ficou bravo, porque a gente não deu água para ele. Ele começou a gritar lá fora e ela foi embora, nem deixou a gente falar sobre o produto”.

Pedro Henrique Gil, de 24 anos, conta que andarilhos já furtaram mesas e cadeiras. (Foto: Paulo Francis)
Pedro Henrique Gil, de 24 anos, conta que andarilhos já furtaram mesas e cadeiras. (Foto: Paulo Francis)

Políticas públicas? - Questionada sobre programas de auxílio ou projetos específicos para a região da Vila Nhanhá em relação aos moradores de rua, a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) relatou que são feitas abordagens diárias.

O objetivo, conforme a secretaria, é oferecer os serviços da rede de assistência social da Capital, que inclui as unidades de acolhimento e comunidades terapêuticas.

Já sobre o lixo espalhado pela Ernesto Geisel, a prefeitura informou que tem realizado limpeza periódica nas margens do Rio Anhanduí e que o descarte irregular é caracterizado como crime ambiental.

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