Vilas viraram bairros, mas mapas e CEPs não acompanharam a mudança na Capital
Em tempo de GPS e Google Maps, no Bairro Cruzeiro ainda há quem se perca dentro do próprio endereço
Em tempos de GPS e Google Maps, ainda há quem se perca dentro do próprio endereço. Em Campo Grande, moradores da região do Bairro Cruzeiro convivem com uma mistura de nomes e códigos postais que confundem até quem vive ali há décadas. Com 10.220 habitantes, localizado na região central e com área de 282,26 km², o bairro é dividido em 15 loteamentos, o que piora a situação e gera várias respostas diferentes para a mesma pergunta: Em qual bairro você mora?
RESUMO
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O Bairro Cruzeiro, localizado na região central de Campo Grande, enfrenta uma confusão de nomenclaturas que afeta seus 10.220 habitantes. Apesar de oficialmente ser um único bairro com 282,26 km², a área é dividida em 15 loteamentos, gerando divergências entre mapas digitais, CEPs e denominações populares. A região, que originalmente abrigava diversas vilas como Célia e Rosa, foi incorporada ao Bairro Cruzeiro pela prefeitura, mas os nomes antigos persistem no cotidiano. Mesmo com a confusão, a área experimenta valorização imobiliária significativa, com aumento de 33,7% em um ano, consolidando-se como novo polo comercial da capital.
Conferindo pelo Google Maps, o endereço da empresa em que Eduardo Dionísio Fernandes, de 29 anos, trabalha fica no Bairro Cruzeiro. Entretanto, ao checar na conta de telefone, o CEP vem como Bairro Coronel Antonino. “Acho que fica na divisa entre a Vila Célia e a Vila Gomes. A gente fica meio confuso, sem saber se é Célia ou Cruzeiro”, conta.

“Fica na divisa, ninguém sabe direito”
O exemplo vem da empresa onde trabalha Eduardo Dionísio Fernandes, de 29 anos. No Google Maps, o endereço está no Bairro Cruzeiro, mas na conta de telefone aparece como Coronel Antonino.
“Acho que fica na divisa entre a Vila Célia e a Vila Gomes. A gente fica meio confuso, sem saber se é Célia ou Cruzeiro”, conta.
A proprietária do prédio, Irene Gomes Dutra, de 77 anos, mora ali há mais de 30 anos e também não tem certeza. “O pessoal confunde muito a Vila Célia e a Vila Rosa; aqui está tudo no nome Coronel Antonino. A história fica bem confusa; parece que muda. Não sei se a Vila Rosa virou Cruzeiro ou o que acontece”, diz.
O marido, Antônio Barbosa, de 86 anos, tenta resolver a dúvida com sua própria lógica. “Muita gente misturou aqui, mas depois da igreja é a Vila Gomes, mas aqui é Coronel Antonino.”
O problema é que nem a Igreja São João Bosco, usada por Irene como ponto de referência, escapa da confusão: no mapa digital, o templo aparece como parte da Vila Gomes.
Em uma única quadra, entre as ruas Desembargador Eurindo Neves, do Rosário, das Palmeiras e Antônio Mena Gonçalves, o Google Maps indica quatro nomes diferentes: Coronel Antonino, Monte Castelo, Cruzeiro e Vila Célia.

O que dizem os registros oficiais
Segundo documento da Semades (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), de 2022, toda essa área pertence oficialmente ao Bairro Cruzeiro, subdividido em setores. Monte Castelo corresponde aos setores 3 e 5; Coronel Antonino e Vila Célia aparecem como subdivisões internas.
Mesmo assim, os moradores seguem outro critério: o CEP. “Nas entregas, a gente coloca como Coronel Antonino e nunca deu problema. Vêm encomendas do Brasil inteiro”, afirma o jornalista Cleider de Souza Costa, de 64 anos, morador há quatro décadas na Rua Antônio Mena Gonçalves. Para ele, “Cruzeiro” é um nome antigo, que já caiu em desuso. “Ninguém chama aqui de Cruzeiro.”
O também morador antigo Diogo Arruda Coelho, de 60 anos, concorda. “Não uso esse nome, só Coronel Antonino, mas vila também não uso mais. Aqui chamam de tudo que é nome... Antigamente chamava Vila Rosa Cruzeiro, até que inventam mais. Vai entender esses mapas, né?”, brinca.
Hoje, Diogo mora no Nova Lima, mas ainda cuida do bar do pai, Ivo Martinez, de 85 anos, na mesma rua. Para ele, a confusão não atrapalha. “Cada um sabe seu canto e chama pelo nome que quiser. Depois do GPS, ninguém se perde mais.”
Como a confusão começou
A explicação está na própria história da cidade. Muitas áreas nasceram como vilas e loteamentos com nomes próprios, como Vila Célia ou Vila Rosa. Com o tempo, esses núcleos foram sendo incorporados a bairros maiores pela prefeitura.
No mapa oficial, tudo isso é Cruzeiro, mas os nomes antigos permanecem nas placas, nos comércios e na fala dos moradores, uma mistura de memória e burocracia que o mapa digital não consegue resolver.
O aposentado Osvaldo Manuel do Nascimento, de 84 anos, reforça a versão local. “Até a Avenida Mato Grosso é a Vila Célia, depois é a Vila Cruzeiro.”
De acordo com a Semades, o loteamento “Bairro do Cruzeiro” fica dentro da Vila Célia, e ambas estão dentro do Bairro Cruzeiro. Já a Vila Gomes integra a Vila Rosa.
A reportagem procurou a Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) para esclarecer os critérios usados na definição dos limites e nomes dos bairros e vilas, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Região valorizada
Apesar da confusão, o Bairro Cruzeiro vive um momento de valorização imobiliária. Segundo o Índice FipeZAP, os imóveis da região subiram 33,7% em um ano.
Com o avanço do comércio e a migração de empreendedores que buscam áreas com mais estacionamento e menor criminalidade, o bairro, entre as ruas Paraíba, Amazonas e Eduardo Santos Pereira, se consolidou como novo polo comercial de Campo Grande.
Atualmente, o metro quadrado na Capital é avaliado em R$ 6.374, uma das maiores médias entre as capitais brasileiras.
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