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Interior

Áreas de fazenda são queimadas em novo conflito em Caarapó

Polícia Militar foi acionada e comunidade diz que ação é resposta à contaminação por agrotóxicos

Por Ketlen Gomes | 25/10/2025 10:21


RESUMO

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Novo conflito entre indígenas e proprietários rurais resultou em queimadas na Fazenda Ipuitã, em Caarapó, Mato Grosso do Sul. A Polícia Militar foi acionada após cerca de 50 indígenas supostamente armados ocuparem a área. A comunidade Guyraroká alega que a ação foi motivada pelo sequestro de uma jovem de 17 anos. O caso expõe tensões anteriores na região, onde a comunidade indígena denuncia o uso excessivo de agrotóxicos próximo à Terra Indígena Guyraroká. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) afirma que os Kaiowá ocupam apenas 50 hectares dos 11.400 declarados como território indígena, enquanto o Ministério dos Povos Indígenas acompanha a situação.

Na manhã deste sábado (25), a Fazenda Ipuitã, em Caarapó, voltou a ser palco de conflito entre indígenas e o proprietário da área. A PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) informou, em nota, que foi acionada para “restaurar a ordem pública e garantir a segurança de pessoas e propriedades” após indígenas ocuparem e incendiarem partes da fazenda. Já a comunidade Guyraroká afirma que a motivação foi o sequestro de uma jovem de 17 anos e a garantia de que a TI (Terra Indígena) não será mais intoxicada por agrotóxicos.

Segundo uma moradora de propriedade vizinha, que preferiu não se identificar, a ocupação começou por volta das 4h da manhã. A PMMS relatou que recebeu um chamado via 190, informando a presença de cerca de 50 indígenas armados, que teriam expulsado o caseiro e iniciado o incêndio.

O CIMI (Conselho Indigenista Missionário), que acompanha o caso, afirma, em publicação nas redes sociais, que uma jovem de 17 anos foi sequestrada e que, imediatamente, a suspeita recaiu sobre funcionários da fazenda, além de negar que houvesse 50 indígenas armados no local. "A jovem acabou sendo resgatada na sede da fazenda. Revoltados, os Guarani e Kaiowá decidiram não mais sair do local", afirma.

A nota enviada pela PMMS não menciona o sequestro da jovem indígena, mas informa apenas que equipes da PM e do Corpo de Bombeiros foram até o local “para dar apoio ao comunicante e restabelecer a tranquilidade diante da situação de risco à segurança das pessoas e à ordem pública”, conforme nota oficial.

Essa não é a primeira vez que a fazenda é cenário de conflito. Na semana passada, indígenas denunciaram a presença de policiais do Batalhão de Choque, com escudos, protegendo a passagem de um trator de esteira usado para derrubar barracos. Em vídeo publicado nas redes sociais, uma mulher relata ter sido atingida por balas de borracha.

O CIMI também afirma que a polícia tem permanecido na área, mesmo sem mandado judicial, com o DOF (Departamento de Operações de Fronteira) instalado dentro da propriedade rural e ameaçando os indígenas.

“Foi permitida a ida da polícia sem nenhum mandado judicial. Isso caracteriza uma questão muito grave: o uso de força pública para fins privados. Sem reintegração de posse nem determinação judicial, a polícia não pode, em hipótese alguma, agir contra uma comunidade”, declarou o CIMI.

Em nota, a PM informou que, nas últimas semanas, ocorreram várias ações semelhantes na região, praticadas pelo mesmo grupo de manifestantes, o que teria motivado novas operações policiais.

De acordo com o CIMI, o proprietário da Fazenda Ipuitã cultiva até o limite da TI Guyraroká, onde há uma escola infantil e idosos centenários vivendo próximos à cerca, e faz uso de agrotóxicos na área. A retomada da fazenda teve início no dia 21 de setembro, e desde então a comunidade tem sofrido ataques constantes, principalmente crianças e idosos.

"A retomada dos indígenas há mais de um mês teve como objetivo impedir esse envenenamento, uma vez que o Estado nada fez em relação às denúncias e tampouco implementou medidas de defesa e proteção", afirma o CIMI em nota.

O conselho também pontua que dezenas de casos de contaminação de terras indígenas por agrotóxicos em Mato Grosso do Sul já foram denunciados, chegando à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que emitiu uma medida cautelar à comunidade.

"Os indígenas pedem proteção às suas vidas e que o Estado garanta a demarcação do território. Os Kaiowá vivem em apenas 50 hectares dos mais de 11.400 declarados, onde a maioria desse território se encontra em profundas condições de degradação ambiental pelo mau uso da terra por parte dos fazendeiros que não foram devidamente desintrusados", finaliza o CIMI.

Já o MPI (Ministério dos Povos Indígenas) publicou nota referente ao conflito do dia 17 de outubro, por meio do Demed (Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas) e da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). O comunicado destaca que o órgão “acompanha a situação e está em contato com as lideranças locais para assegurar o registro de denúncias, o mapeamento dos impactos e a proposição de soluções eficazes”.

“O MPI repudia qualquer ato de violência contra os indígenas e está acionando os órgãos competentes para garantir a segurança das comunidades”, diz a nota.

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