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Interior

Armas, granada e munições estavam em cela de líderes de facção rival do PCC

Armamento foi encontrado em buraco de três metros na cela 24 do raio III, ocupada por 8 presos

Helio de Freitas, de Dourados | 02/09/2021 16:21
Agentes penitenciários vigiam presos do raio III, onde foi encontrado armamento. (Foto: Divulgação)
Agentes penitenciários vigiam presos do raio III, onde foi encontrado armamento. (Foto: Divulgação)

As duas pistolas semiautomáticas, as 187 munições e a granada apreendidas ontem (1º), na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), estavam em um buraco de três metros de profundidade, na cela 24 da galeria B inferior do raio III, pavilhão dominado por bandidos rivais da facção PCC (Primeiro Comando da Capital).

Oito presos considerados líderes da “oposição” estavam na cela. O armamento foi encontrado por agentes do presídio durante vistoria feita na tarde desta quarta-feira, com apoio do Cope (Comando de Operações Penitenciárias). Até um frasco de spray de pimenta foi encontrado entre o armamento.

A revista ocorreu quatro dias após um preso do raio III ser baleado no pé por colega de cela. A localização do explosivo e das pistolas 9 milímetros e calibre 40 foi noticiada com exclusividade na noite de ontem, pelo Campo Grande News.

A reportagem apurou que a chamada “oposição”, que monopoliza as celas do raio III, estava se armando para eventual confronto com presos da facção paulista. As duas organizações criminosas estão em guerra nas ruas de Dourados há pelo menos dois anos, com mortos dos dois lados.

Ainda ontem, a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) confirmou o pente-fino, mas afirmou se tratar apenas de ação rotineira. A autarquia também não fez qualquer menção às armas, munições e explosivo em poder dos presos.

Print do documento com a lista de armas e munições apreendidas e nomes dos presos. (Foto: Reprodução)
Print do documento com a lista de armas e munições apreendidas e nomes dos presos. (Foto: Reprodução)

Quase 200 balas – Entretanto, nesta quinta-feira (2), a reportagem teve acesso a documentos internos comprovando a apreensão das armas e dos explosivos.

O primeiro boletim cita a apreensão de dois frascos com substância aparentando ser pólvora e uma granada. Os artefatos foram detonados hoje de manhã, por policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais), no pátio do presídio.

Já no segundo documento interno foram relacionadas as duas pistolas (uma Taurus PT 809 preta com numeração intacta e uma Imbel MD6 calibre 40 com numeração raspada), dois carregadores de pistola 9 milímetros, 1 carregador de pistola calibre 40, frasco de spray de pimenta Boyguard, 67 munições calibre 9 milímetros e 120 munições calibre 40.

Estavam na cela, os presos Bruno Borges de Abreu, Claudio Ramires, Fabio Vera Cordoval, Fernando dos Santos Gimenez, Jeferson Maria dos Santos, Lucas dos Santos Gimenes Ribeiro dos Santos, Oscar Savedo Benites e Pedro dos Santos Teixeira.

“Cabeça de Porco” – A reportagem apurou que a “oposição” ao PCC tem como fundador Luiz Hélio Gonçalves Filho, 33, o “Cabeça de Porco”, com extensa ficha criminal. Ele voltou a ser preso em 2018, depois de curto período de liberdade, mas logo depois foi transferido para o sistema penitenciário federal.

Servidores do sistema penitenciário afirmam que, atualmente, o comando do raio III está com o sobrinho de Luiz Hélio, Diego de Sousa Gonçalvez, o "Diego Tripa", com a complacência da direção da Penitenciária de Dourados. Segundo denúncias anônimas, os presos da “oposição” contam com regalias por serem considerados mais amigáveis ao sistema, ao contrário dos rivais do PCC.

Diego morava na cela 24 onde foram encontradas as armas, mas recentemente tinha sido transferido para a cela 37, onde outro preso foi baleado, no sábado (28).

Outra denúncia anônima revelou que a cela 24, onde ficam os líderes e onde foram encontradas as armas, não é trancada à noite. “Não é trancada, nem mesmo o cadeado é ‘batido’”, afirmou o autor da denúncia.

A reportagem apurou que os agentes penitenciários sempre questionaram a direção sobre a regalia, mas nenhuma providência foi tomada. Por medo de represálias, os servidores não levaram as denúncias à frente.

Depois do episódio de ontem, no entanto, os agentes decidiram denunciar o caso. Eles temem pela própria segurança e cobram medidas urgentes por parte da Agepen. “Escândalo jamais visto no sistema penitenciário de MS. Nem mesmo na maior rebelião, de 2006, acharam algo assim”.

Os agentes relatam que por lei, eles não podem trabalhar armados, enquanto presos do regime fechado guardam explosivos, armas semiautomáticas e quase 200 munições nas celas.

Boletim relatou apreensão de pólvora e granada na cela 24 do raio III. (Foto: Reprodução)
Boletim relatou apreensão de pólvora e granada na cela 24 do raio III. (Foto: Reprodução)

Agepen nega – Em nota encaminhada pela assessoria de imprensa, a Agepen afirmou ser “inverídica” a informação de que celas da Penitenciária Estadual de Dourados fiquem destrancadas.

“Todas celas da PED possuem três diferentes travas, sendo que a trava de segurança liga todas as celas do mesmo raio e que são fechadas todas as noites. Portanto, essa informação não procede”, afirma a agência.

Quanto à presença do Bope hoje, na unidade prisional, a Agepen informou ser “procedimento rotineiro e de segurança, não apenas na PED, mas em todas as unidades prisionais de Mato Grosso do Sul”. Assim como ocorreu ontem, a Agepen não se manifestou sobre o armamento encontrado em poder dos presos.

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