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Doença autoimune desconhecida agravou saúde e fez Cleber morrer de covid aos 45

Pai de um menino de 11 anos e de uma menina de 20, Cleber chegou a sair da UTI, mas piorou e voltou aos cuidados intensivos

Lucia Morel | 11/07/2020 08:58
Cleber com a esposa e filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Cleber com a esposa e filhos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Praticamente recuperado, Cléber Silva Mendes, saiu de leito de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e foi transferido para enfermaria, depois de ter sido considerado curado da covid-19. Não estava. Em uma semana, o quadro se agravou e precisou de cuidados intensivos novamente. Ele não resistiu, e faleceu em 7 de julho, aos 45 anos.

Um buraco foi aberto em sua família, formada pela esposa, filha de 20 anos e filho de 11. “Ele era nosso pilar”, diz Amanda de Sousa Mendes, filha do empresário, que até então, não apresentava nenhuma comorbidade, doença prévia que pudesse justificar o agravamento do estado de saúde.

Para a família, Cléber se infectou durante viagem a Maracaju, para onde foi para resgatar caminhão de sua empresa, que havia sido danificado. Dois dias depois da volta, apresentou os primeiros sintomas, já com muita tosse e falta de ar. Mesmo sem diagnóstico positivo para covid-19, em 9 de junho, quando procurou atendimento médico, já ficou internado.

Amanda conta que o pai vinha de histórico de tratamentos de saúde, entre eles de uma dengue, contraída um mês antes da covid-19. Ele também ficou internado e as plaquetas estavam muito baixas. Diante do quadro, os médicos suspeitaram de que ele estaria com alguma outra doença de base, não identificada, responsável pela baixa na imunidade.

Cleber faleceu aos 45 anos de idade. (Foto: Arquivo Pessoal)
Cleber faleceu aos 45 anos de idade. (Foto: Arquivo Pessoal)

Havia risco de ser leucemia, ou alguma outra doença autoimune ligada ao sangue, mas o diagnóstico ainda não havia sido fechado. A desconfiança de que Cleber tinha alguma enfermidade surgiu no fim de 2019 e ainda estava sendo investigada.

A filha conta ainda que o pai só foi liberado da internação quando esteve com dengue porque os hospitais de Dourados estavam se preparando para o atendimento dos pacientes com covid-19 e terminou o tratamento em casa. “Daí ele seguiu a vida normal, mascarando algumas dores que tinha com analgésico”, relatou.

Quando surgiu a necessidade de viajar a trabalho para Maracaju, Amanda lembra que tanto ela, quanto sua mãe pediram que Cleber não fosse e que enviasse alguém no lugar para fazer o atendimento. Isso, tanto pelo medo do novo coronavírus, quanto pelo cuidado com a saúde.

Ida e volta – E segundo Amanda, foi justamente a tal doença de base, que acabou não sendo descoberta de fato, que mantinha a imunidade de Cleber baixa e o prejudicou, a ponto de melhorar, mas depois ter que voltar a um leito de UTI depois de contrair a covid-19.

“Ele ficou dois dias internado em enfermaria e então foi pra UTI e começou melhorar. Passou um tempo e ele voltou pro quarto de enfermaria, onde ficou pelo menos uma semana e então teve que voltar pra UTI. Foi praticamente um mês internado”, contou, lembrando que a internação foi em 9 de junho e o óbito, dia 7 deste mês.

De acordo com a jovem, os médicos do Hospital Santa Rita, que cuidaram de seu pai, foram bem abertos desde o início do tratamento, de que o caso dele era “grave, gravíssimo. A gente estava ciente desde o início”.

Cleber precisou de três transfusões de sangue durante a internação por covid-19 e seis tipos de antibióticos. Segundo Amanda, a hidroxicloroquina não foi usada porque em casos como o dele, de imunossuprimidos, a situação tende a piorar com o uso do medicamento.

Para a filha, a doença não diagnosticada foi o que agravou o quadro de saúde do pai e segundo os médicos, caso ele sobrevivesse à covid-19, teria sequelas, “e se fosse assim, sei que meu pai não ia aguentar”, lamentou. Nos registros oficiais da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Claber aparece como “nada relatado”, no campo comorbidades.

Legado – Amanda tem só lembranças boas do pai e afirma que os ensinamentos que ele deixou serão para sempre.

“Meu pai, principalmente trazia muita alegria por onde passava. Ele é insubstituível. Fazia gracinhas o tempo todo, vivia intensamente a vida, gostava de viajar, era cheio de vida”, recorda.

Com os que ficaram, Amanda destaca que a conexão familiar ficou mais forte, “ele saiu, mas a gente se fortaleceu mais, a gente viu a necessidade de se unir mais ainda”.

Para ela, a memória é daquele que a ensinou a não desistir. “Ele me fez ser forte nisso, de não desistir dos meus objetivos, além da fé dele, era um homem que servia a Deus”. Sem muitos planos ainda, ela afirma que agora, “é viver um dia de cada vez”.

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