Fazendeiro morto a tiros hospedou bandido do Comando Vermelho
Morador da Rocinha foi preso com documento falso quando vigiava posto da PRF na BR-463, uma das principais rotas do narcotráfico
O fazendeiro Luiz Brunetta, 62, morto por pistoleiros na noite de ontem (19) em uma fazenda perto da BR-463, no município de Ponta Porã, era suspeito de ligação com facções criminosas que dominam as favelas cariocas e estão radicadas na fronteira com o Paraguai, em guerra pelo controle do narcotráfico.
No dia 18 de fevereiro do ano passado, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) prendeu um integrante do Comando Vermelho que estava hospedado na Fazenda Santa Edwirges, de propriedade de Luiz Brunetta e onde ele foi executado a tiros ontem à noite.
Gerisvaldo de Jesus Santos, 36, morador na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, usava documento falso quando foi preso por policiais rodoviários federais.
O Campo Grande News apurou que ele estava na região com a missão de vigiar o Posto Capeí, na BR-463, onde funciona uma base da PRF. A rodovia é um dos principais corredores do tráfico de maconha em Mato Grosso do Sul.
“Pior posto” – Em áudios enviados para seus cúmplices cariocas através do aplicativo WhatsApp, Gerivaldo Santos afirmou que a unidade da PRF na rodovia entre Ponta Porã e Dourados é “o pior posto policial que existe na fronteira”, dando a entender que seria difícil passar pelo local com carregamentos de droga.
“Eu saí da fazenda, tô na cidade, na fazenda não pega internet, não. A fazenda é atrás do pior posto policial que existe na fronteira”, afirmou Gerisvaldo Santos.
“Já que você saiu da fazenda tem que tomar mais cuidado ainda, não passa batido, não, quanto mais com essa banha aí que tu tá, deve tá comendo bem para c... lá né?”, responde o homem que conversava com Gerisvaldo pelo aplicativo.
“A fazenda lá é o bicho, mano, cheia de fartura, o véio tem um quarto cheio de cerveja, todo dia a gente bebe 8, 10, eu ele, cada um. Ele tem uma represa cheia de peixe, freezer cheio de carne”, afirmou o suspeito preso pela PRF.
Em seguida, na mesma conversa, eles falam sobre a qualidade e o preço da maconha vendida na fronteira. “Barato, velho, pô, quarentinha, de graça”, afirma o outro bandido, ao ver a foto de uma porção de maconha, como mostra o vídeo abaixo. Eles falam também sobre um fuzil, cujas fotos Gerivaldo também enviou pelo WhatsApp.
Prisão em 2017 – Gerisvaldo Santos foi flagrado pelos policiais rodoviários a 300 metros do Posto Capeí, escondido em uma moita de capim colonião. Natural de Itabaianinha (SE), ele usava uma identidade falsa porque estava foragido da justiça.
O bandido contou que se no Rio de Janeiro assaltou o Hotel Marina, em 2002, por isso ficou preso até 2011, quando saiu em liberdade condicional e foi para o Ceará, onde praticou outro assalto e foi preso pela PM. Passou um tempo preso no presídio em Ipueiras (CE), de onde fugiu pela última vez.
Gerisvaldo contou ainda que morava na Rocinha e era membro da facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos). Entretanto, os policiais descobriram que ele mentiu sobre a facção e na verdade é integrante do Comando Vermelho, que está em guerra com o PCC (Primeiro Comando da Capital) pelo controle do narcotráfico na Linha Internacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.
Ele negou que estivesse vigiando o posto da PRF e disse que estava na região para fazer uma cobrança para o dono da fazenda onde estava hospedado – Luiz Brunetta, assassinado ontem.
Os policiais rodoviários federais foram até a Fazenda Santa Edwirges, onde Brunetta confirmou ter contratado Gerisvaldo para tal serviço. Como usava documento falso e tinha um mandado de prisão contra ele, Gerisvaldo foi encaminhado à Polícia Federal em Ponta Porã.
Morte do fazendeiro – Na noite de ontem, pistoleiros armados chegaram à fazenda Santa Edwirges e mataram Luiz Brunetta com vários tiros. Ricardo Dias Campos, 64, motorista de caminhão, estava na propriedade e foi atingido por quatro tiros.
Mesmo ferido ele conseguiu pedir socorro e está internado em estado grave em um hospital de Dourados. Ricardo era funcionário de Luiz Brunetta, que também tinha uma frota de caminhões de transporte de ração animal. Na mesa ao lado do corpo foram encontrados dois tabletes de maconha.