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Interior

Guerra entre facções fez aumentar roubos e mortes

Ao todo foram cumpridas 20 ordens judiciais durante operação para acabar com briga que tenta dominar tráfico

Por Bruna Marques | 23/12/2024 11:08
Pichação no distrito de Anhanduí tenta reforçar o poder do PCC na região (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Pichação no distrito de Anhanduí tenta reforçar o poder do PCC na região (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Guerras entre facções criminosas pelo domínio do tráfico de drogas, de alta rentabilidade para esses grupos, têm sido um dos principais fatores do aumento da violência em Mato Grosso do Sul. Em cidades de fronteira, o cenário é caótico e preocupante, com ocorrências de roubos violentos e assassinatos. Preocupada, a polícia fez operação em Bela Vista, vizinha do Paraguai, nesta segunda-feira (23).

RESUMO

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Em Mato Grosso do Sul, uma operação policial resultou na prisão de membros do PCC suspeitos de planejar homicídios contra o Comando Vermelho para dominar o tráfico de drogas na região de Bela Vista. A investigação, iniciada em agosto de 2024 após uma série de roubos, revelou um plano de assassinatos e a atuação de um "disciplina" do PCC, que influenciava outros membros, inclusive menores. A operação, que cumpriu 20 mandados judiciais, teve como base o aumento de crimes violentos em Bela Vista, incluindo vários assassinatos ao longo do ano, alguns com conexões com o tráfico transnacional e acertos de contas entre facções.

O delegado Renato Fazza explica que a ação na cidade se deu após alta incidência nos roubos de motos praticados pelo PCC. "A investigação começou em agosto de 2024 após crimes de roubos de motos praticados por integrantes da facção. Um deles intitulava-se disciplina na cidade de Bela Vista, exercendo influência sobre vários outros membros, inclusive menores de idade", explica.

Atrair mais aliados é importante para o PCC. Isso porque Mato Grosso do Sul e Mato Grosso são os principais pontos de entrada e de passagem do tráfico de drogas e de armas do Brasil. Autoridades públicas federais apontam que cerca de 80% da cocaína e maconha que entram no país passam por esse território.

Esses grupos vêm se aliando e cooptando gangues locais menores, muitas vezes dentro dos presídios espalhados pelo Brasil, em busca do controle do tráfico de drogas nas grandes capitais e no interior. A atuação dessas facções permeia desde a entrada da droga no país nas regiões fronteiriças com a Bolívia e Paraguai, no caso dos estados do Centro-Oeste", diz publicação do Atlas da Violência de 2024.

Ataque a grupo rival - No decorrer das investigações que culminaram na operação desta segunda-feira (23), a Polícia Civil de Bela Vista descobriu, inclusive, um plano de ataque do PCC (Primeiro Comando da Capital) para eliminar o Comando Vermelho. Mais uma vez, pelo domínio do tráfico.

A rivalidade também eleva crimes graves na cidade, como roubos violentos e até quem não tem envolvimento acaba pagando. No dia 18 de dezembro, em Bela Vista, um adolescente morreu durante roubo de duas caminhonetes, que foram levadas para o Paraguai, país onde esses veículos são vendidos com facilidade e gera rentabilidade para a facção.

Ele estava em uma confraternização no Bairro Espírito Santo, quando dois homens do PCC chegaram atirando, exigindo que lhes entregassem as chaves dos veículos. O adolescente foi atingido por um tiro.

Imagem da câmera de segurança da região mostra os suspeitos fugindo com os veículos entrando no Paraguai. No dia 20, uma das caminhonetes levadas foi encontrada abandonada próximo ao cemitério de Bella Vista do Norte, no Paraguai, com as chaves dentro.

Yoni Javier Prieto, foi morto por pistoleiros, em uma estrada vicinal de Bella Vista Norte (Foto: Reprodução/ABC Color)
Yoni Javier Prieto, foi morto por pistoleiros, em uma estrada vicinal de Bella Vista Norte (Foto: Reprodução/ABC Color)

Já no dia 17 de dezembro, um rapaz de 25 anos, identificado por Yoni Javier Prieto, foi morto por pistoleiros, em uma estrada vicinal de Bella Vista Norte, município paraguaio que faz fronteira com Bela Vista. Conforme o jornal ABC Color, a vítima caminhava pelo local por volta das 01h quando foi abordada por dois atiradores que estavam em uma motocicleta. Ele foi atingido por três disparos.

Os tiros atingiram a cabeça e o peito do homem. Até o momento não há informações sobre o que teria motivado o crime, mas há suspeitas de que se trata de um acerto de contas, em mais um crime atribuído ao PCC.

Arlan Maciel Fernandes assassinado no dia 17 de agosto (Foto: Reprodução/Redes sociais)
Arlan Maciel Fernandes assassinado no dia 17 de agosto (Foto: Reprodução/Redes sociais)

No dia 17 de agosto, Arlan Maciel Fernandes, 36 anos, também foi executado com sete tiros enquanto estava sentado em um banco no quintal de sua casa na Rua Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Bela Vista.

Moradores da região ouviram os diversos disparos e, quando saíram, encontraram com Arlan caído perto de onde estava sentado. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas quando os militares chegaram, o homem já estava morto.

Cerca de dois meses depois, Félix Antônio Ramires Fernandes, 28 anos, suspeito de matar Arlan, foi morto ao reagir à abordagem do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar.

O rapaz foi alvo de ação do Bope na manhã do dia 23 de outubro. Os policiais estavam em patrulhamento na cidade durante operação na fronteira com o Paraguai quando receberam a informação de que havia um suspeito com mandado de prisão trafegando por Bela Vista em um Fiat Siena branco.

A equipe deu início às buscas e encontrou o carro na Rua General Osório. O motorista desceu do veículo após a ordem de parada, mas estava com um revólver calibre 38 em punhos e apontou para os policiais, que efetuaram os disparos. Félix foi atingido por dois tiros e levado ao Hospital São Vicente de Paula. No entanto, ao chegar à unidade de saúde não resistiu aos ferimentos e morreu.

Caminhonete onde vítimas de triplo homicídio estavam no momento em que foram assassinadas (Foto: Direto das Ruas)
Caminhonete onde vítimas de triplo homicídio estavam no momento em que foram assassinadas (Foto: Direto das Ruas)

Triplo homicídio – No dia 29 de março três pessoas foram executadas a tiros de fuzil. As vítimas estavam em uma caminhonete Toyota Hilux blindada, mas os tiros de grande impacto romperam a proteção dos vidros e da lataria. O crime ocorreu em uma estrada vicinal da Colônia Rinconada, zona rural de Bella Vista Norte.

Os mortos foram identificados como Rainier Benitez Freitas, 49, a esposa dele Alicia Mabel Paredez Gomez, 47, e Thiago Ortega González, 17. O adolescente seria funcionário na propriedade de Rainier, localizada na Colônia Rinconada.

Conforme a polícia paraguaia, o trio seguia pela estrada vicinal quando a caminhonete foi cercada e alvejada com dezenas de tiros. Alicia morreu dentro da Hilux. Os corpos de Rainier e Thiago estavam a 60 metros do veículo. Os tiros destroçaram o crânio de ambos.

No local do crime, os peritos recolheram cápsulas deflagradas de calibres 9 milímetros, 5,56 e 7,62 – os dois últimos usados em fuzis. A polícia acredita que Rainier e Thiago desceram do veículo e tentaram correr, mas foram alvejados pelos sicários. Investigadores paraguaios pediram apoio da polícia brasileira para levantar a ficha criminal de Rainier, que tinha antecedentes em Mato Grosso do Sul.

Outro crime de repercussão na cidade foi o assassinato de um adolescente, 17 anos, no dia 20 de março. O jovem foi perseguido e executado por pistoleiros que o seguiram em um carro. A vítima era de Guia Lopes da Laguna e foi assassinada a tiros de pistola 9 milímetros. No corpo do garoto foram encontrados 11 ferimentos de arma de fogo. Não há informação sobre a motivação do crime.

O pistoleiro que não teve o nome divulgado foi preso pela Polícia Nacional dois dias após o crime, no Bairro Obrero, em Bella Vista. O homem foi encontrado após diligência da polícia paraguaia na região. Ele tem diversas passagens criminais no Brasil, incluindo assalto à mão armada.

Em junho, homem de 41 anos identificado como Demesio Santacruz Ramirez foi preso durante operação, em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia separada por uma avenida de Ponta Porã.

Ele é suspeito de participação no assassinato de dois homens, cujos corpos foram encontrados no dia 10 do mesmo mês, na região de Bella Vista Norte.

Néstor Ramón Mereles Moraes, 46, e Ricardo Ramón Mereles Espínola, 32, foram mortos a golpes de faca e os corpos jogados à margem da Ruta PY 08, a 30 km do centro de Bella Vista Norte. Os dois tinham antecedentes por roubo e seriam trabalhadores de áreas de cultivo de maconha.

No dia 9 de julho, um acampamento utilizado por narcotraficantes foi fechado, o local abrigava cerca de 2,1 toneladas de maconha. A ação foi intermediada pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas), após denúncia anônima. Os agentes entraram em uma reserva particular dentro da Estância Santa Oliva, onde encontraram o espaço destinado ao cultivo do entorpecente.

Ao perceberem a presença dos uniformizados, os trabalhadores da fábrica clandestina de maconha fugiram. Um dos acampamentos era usado para armazenar sacos de drogas, enquanto os outros serviam para produção e distribuição. No espaço, foi encontrado seis hectares de plantações, onde a droga era extraída.

Diante dos fatos, o acampamento e o entorpecente foram destruídos pelos agentes. O prejuízo ao crime foi estimado em R$ 4 milhões.

A operação - Hoje foram cumpridas 20 ordens judiciais em Campo Grande e no município de Bela Vista. Durante a investigação, a polícia pediu a prisão de 10 pessoas e também para fazer buscas em 10 endereços, o que foi aceito pelo Poder Judiciário.

Nesta manhã, os policiais cumpriram as ordens, sendo que dois mandados de prisão e de busca e apreensão eram em Campo Grande. No Bairro Tiradentes, um rapaz de 23 anos foi preso e o celular dele, apreendido. Já na Penitenciária de Segurança Máxima da Capital o alvo é um preso, de 47 anos. As outras oito ordens judiciais foram cumpridas em Bela Vista.

Os presos na operação serão indiciados pelos crimes de integrar organização criminosa, homicídio, roubo majorado e tráfico de drogas majorado pelo envolvimento de menores.

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