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Interior

Indígenas montam acampamento em duas fazendas de Antônio João

O primeiro grupo entrou no último domingo, na Fazenda Morro Alto, de acordo com a Polícia Civil

Por Mylena Fraiha | 27/09/2023 17:08
Entrada das fazendas Barra e Fronteira, na região de Antônio João (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio/Campo Grande News)
Entrada das fazendas Barra e Fronteira, na região de Antônio João (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio/Campo Grande News)

Grupo de 12 indígenas montou acampamento nas fazendas Morro Alto e Fronteira, localizadas na região de Antônio João, a 279 km da Capital. A movimentação começou no domingo (24), de acordo com a Polícia Civil.

Ao Campo Grande News, a 1ª DP (Delegacia de Polícia) de Antônio João informou que os indígenas começaram a surgir na propriedade por volta das 23h, quando um grupo de 12 pessoas acampou em um pedaço da Fazenda Morro Alto.

Posteriormente, na madrugada de terça-feira (26) para esta quarta-feira (27), um novo acampamento foi montado na Fazenda Fronteira. As autoridades policiais não conseguiram informar o número exato de indígenas. Lideranças disseram que nesta quarta-feira o número de indígenas acampados nas duas fazendas gira em torno de 300 pessoas.

De acordo com o boletim de ocorrência, a movimentação nas terras da fazenda Fronteira foi liderada por dois indígenas. A Polícia Civil também relatou que não havia funcionários ou arrendatários presentes, pois eles já haviam sido informados dos acontecimentos e deixaram o local.

Conforme divulga o boletim de ocorrência, o mesmo grupo de indígenas demonstrou interesse em acampar na Fazenda Barra, mas desistiu da ação devido à presença de viaturas policiais próximas à fazenda.

Segundo a Polícia Civil, a movimentação dos indígenas permanece, com a Polícia Militar atualmente presente nos três locais  - Fazenda Morro Alto, Fazenda Fronteira e Fazenda Barra - para monitorar a situação de perto.

"No mais, o que posso salientar neste momento é que estamos atuando de modo a garantir integridade dos envolvidos e com as cautelas necessárias para que a situação não se agrave. Por enquanto, situação sem violência. Importante ressaltar que é uma invasão não apoiada pela própria liderança indígena", diz o delegado Clealdon Alves de Assis Junior, da 1ªDP de Antônio João.

Posicionamentos - De acordo com a vereadora de Antônio João, Inaye Kuña Ñevangaí, que também é uma das lideranças da Ñande Ru Marangatu, "os indígenas da região estavam cansados de esperar o julgamento do território e optaram por iniciar novo acampamento".

De acordo com Inaye, as lideranças inicialmente não demonstraram apoio ao movimento, mas agora, após decisão coletiva, optaram por oferecer apoio.

A proprietária da Fazenda Barra e presidente do Sindicato Rural de Antonio João, Roseli Pio, permanece em silêncio em relação aos recentes acontecimentos. A reportagem tentou contato por meio de ligação telefônica, entretanto, não obteve êxito.

No entanto, sua filha, Luana Ruiz, ao Campo Grande News, expressou preocupação com a situação. "Nós estamos em uma situação complicada de conflito e eu irei me restringir a entrar em contato com a imprensa".

Luana Ruiz esclareceu que a Fazenda Barra está localizada no município de Antônio João e que estão buscando estabelecer um diálogo entre as partes envolvidas para manter a paz na região.

"Eu preciso esperar um pouquinho, porque a situação é delicada. Nós vamos estabelecer diálogo dos dois lados, para a manutenção da paz, esse é o nosso objetivo. Maiores detalhes eu vou aguardar primeiro as manifestações. Não vou falar nada, para não correr o risco de falar algo que não condiz com a realidade", afirma Luana.

A reportagem também tentou contato com outras lideranças indígenas da região de Antônio João e com a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), entretanto, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. O espaço segue aberto.

Em 2005, o território foi demarcado e homologado e a última tentativa de acampamento havia acontecido 8 anos atrás.

Conflito - A disputa agrária na região de Antônio João é antiga e já resultou na morte de indígenas. Um deles é Simeão Vilhalva, morto em 29 de agosto de 2015, durante um conflito nas fazendas Barra e Fronteira. A propriedade pertencia a um familiar de Roseli Maria Ruiz.

Desde o final dos anos 1990, os indígenas têm buscado a ocupação da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu, que abrange uma área de 9.317 hectares, equivalente a cerca de 9.000 campos de futebol.

Atualmente, esta terra está dividida entre cinco fazendas dedicadas à criação de gado, sendo que três delas pertencem aos filhos de Pio Silva, esposo de Roseli.

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