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Interior

Médico acusado de agredir estudante a chutes é afastado da diretoria de hospital

Estudante de 22 anos relatou briga, regada a bebida, chutes e o tapa que causou lesões: "Quero que ele pague pelo fez"

Silvia Frias | 20/08/2020 11:25
Estudante de 22 anos postou nas redes sociais: "o silêncio de uma sociedade doente" (Foto/Reprodução)
Estudante de 22 anos postou nas redes sociais: "o silêncio de uma sociedade doente" (Foto/Reprodução)

O médico Said Yoshimura de Brito, 41 anos, diretor clínico do Hospital Municipal de Rio Verde de Mato Grosso, foi afastado da função após ter sido indiciado por violência doméstica e posse de arma de fogo. O caso aconteceu no último fim de semana, quando ele foi acusado por estudante de 22 anos de ser responsável por agressões que deixaram na jovem vários hematomas e lesão no tímpano esquerdo.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde de Rio Verde de Mato Grosso, município 171 quilômetros de Campo Grande, e a informação é que foi afastado das funções assim que o caso veio a público. Esta manhã, a situação de Yoshimura está sendo discutida com o departamento jurídico, mas o desfecho ainda não foi divulgado.

A reportagem também entrou em contato com o médico e o advogado que o representa, Gerson Miranda da Silva e ainda não obteve retorno.

 “Tô machucada fisicamente, tô machucada psicologicamente”, disse a estudante de Recursos Humanos, de 22 anos, que registrou boletim de ocorrência contra o médico e postou nas redes sociais as agressões sofridas. Ela mora em Rio Verde e trabalha como contratada temporária da prefeitura na aferição de temperatura de funcionários.

Hematoma em um dos braços da jovem (Foto/Divulgação)
Hematoma em um dos braços da jovem (Foto/Divulgação)

A jovem diz que começou relacionamento com Yoshimura há 4 meses, quando se conheceram em Coxim, por meio de amiga em comum. “No primeiro mês foi tudo às mil maravilhas”, lembra. O único “porém” naquele período, era o fato dele não querer assumir o relacionamento. “Ele não queria me assumir por conta da minha fama na cidade, mas dizia que queria ir embora comigo, casar e ter filhos”.

A estudante diz que a partir do 2º mês, ele começou a insinuar a participação de terceira pessoa na relação, pedindo para que ela o apresentasse a amigas dela, o que acabou acontecendo.

A jovem diz que também começou a usar cocaína por influência dele. “Ele não me forçou, mas incentivava, falava que era o ‘maior barato’, que ia facilitar, para eu ficar com outras meninas e com ele”.

No relato da estudante ao Campo Grande News, o médico a humilhava constantemente. “Ele diz que tinha estudado, que era médico, conhecido e eu não era nada, era uma garota de programa”, contou. “Eu nunca fiquei com ele por dinheiro, eu sempre gostei dele, eu amo ainda, na verdade, isso ainda é meio turbulento na minha cabeça”. A jovem contou que ele abriu conta bancária em nome dela como pagamento de serviços prestados, como pedir marmita e pagar contas”.

O estopim da relação aconteceu na madrugada de sexta-feira (14) para sábado (15). Consta no relato feito à Polícia Civil que ela estava na casa de Yoshumira na companhia da amiga que os apresentou e que agora fazia parte do relacionamento e vinha de Coxim pelo menos uma vez por semana para ficar com os dois.

A jovem diz que ele já havia bebido, usado drogas, começou a agredi-la verbalmente e ela decidiu ir embora. A amiga ficou e mandou mensagem, pedindo para que  voltasse, o que aconteceu cerca de 1h30 depois.

Quando voltou, a estudante viu que estava acontecendo festa, com seis pessoas na sala e som muito alto. Como ninguém atendeu a porta, pulou o muro e foi até o quarto do médico, depois de ver que ele não estava com o grupo. Os dois começaram a discutir, ele pediu que a jovem fosse embora. No depoimento dela, foi quando ela levou tapa no tímpano esquerdo.

Nos joelhos, as marcas por ter sido arrastada, segundo denúncia da estudante (Foto/Divulgação)
Nos joelhos, as marcas por ter sido arrastada, segundo denúncia da estudante (Foto/Divulgação)

 Nesse momento, a amiga entrou no quarto, a discussão continuou e a estudante estapeou a outra.  O médico e a garota empurraram a estudante no chão. “Quem mais me bateu foi o Said, a (*) só me empurrou, ele começou a me chutar”.

Segundo boletim de ocorrência, a jovem foi arrastada pelo médico até a varanda. “Eu gritava ‘vamos conversar, por favor, por que está fazendo isso?’”. Foi colocada dentro do carro de uma das participantes da festa, que a levou para casa. No sábado (15), ligou para amigo que foi até a casa do médico e recolheu os pertences dela.

Durante todo o fim de semana, o médico entrou em contato por meio de terceiros, de acordo com relato dela, dizendo que a perdoava por ter invadido a casa e a aceitava de volta. “Me perdoar do quê? Eu que fui agredida”.

Na segunda-feira (17) foi com o amigo para Coxim, procurou advogado e somente aí registrou boletim de ocorrência. Laudo médico atesta lesões compatíveis com a data citada na acusação, nos braços, joelhos, mandíbulas e quadril, além de ruptura com sangramento no tímpano esquerdo.

Por ter relatado que já havia visto o médico com uma arma durante as festas que dava, a polícia pediu mandado de busca e apreensão. Na casa dele, os policiais encontraram revólver calibre 38, uma cápsula deflagrada, 15 gramas de maconha e dois cachimbos, além de cartão de loja em nome da jovem.

No boletim de ocorrência, o médico se reservou ao direito de se defender somente em juízo. Apenas negou que usasse cocaína. A polícia arbitrou fiança de R$ 3 mil e ele foi liberado, mediante cumprimento de regras, como avisar com antecedência caso se ausente do município por mais de oito dias.

Marcas no pescoço decorrentes da agressão (Foto/Reprodução)
Marcas no pescoço decorrentes da agressão (Foto/Reprodução)

No inquérito, consta que Yoshimura já respondeu a pelo menos três processos por violência doméstica em Campo Grande, entre 2012 e 2019, sendo absolvido em dois deles.

A jovem diz que buscou apoio psicológico e pediu afastamento do trabalho. “Tem muita gente me julgando, fazendo piadinha, eu percebo isso”.  Ela diz que muitos não conseguem avaliar com imparcialidade o que aconteceu.

 “As pessoas dizem que ele é ótimo médico, mas eu fui agredida, arrastada, humilhada, ninguém quer ver isso”. E completa. “Eu não estou arrependida de nada, serve de aprendizado, mas agora estou com medo e quero que ele pague pelo que fez”.

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