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Interior

Organização investigada por fraude no Detran movimentou R$ 17 milhões

Esquema descoberto pelo Dracco era dividido em três núcleos – político, despachante e financeiro

Helio de Freitas, de Dourados | 18/11/2022 12:22
Viatura do Dracco em frente à casa de empresário de Juti; ele está foragido (Foto: Direto das Ruas)
Viatura do Dracco em frente à casa de empresário de Juti; ele está foragido (Foto: Direto das Ruas)

Dividida em três núcleos, a organização criminosa investigada por fraudes na agência do Detran em Juti (a 311 km de Campo Grande) movimentou pelo menos R$ 17 milhões. Só o servidor Marcel Libert Lopes Cançado teria movimentado R$ 1 milhão. Ele tem salário mensal de R$ 3 mil.

O esquema é investigado no âmbito da Operação Resfriamento, deflagrada pelo Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul.

Marcel e o despachante de Dourados João Ney Pereira da Silva foram presos na primeira fase da operação, no dia 8 deste mês. Inicialmente, a prisão deles era temporária, mas ontem (17), a pedido do Dracco, a Justiça converteu os mandados em prisão preventiva.

Outros três investigados também tiveram as prisões decretadas – o atual gerente da agência do Detran em Juti e ex-vereador Adriano Passarelli, o empresário Jeferson Cassavara e o filho dele, Jeferson Cassavara Junior. Eles não foram localizados e são considerados foragidos.

De acordo com o Dracco, que é comandado pela delegada Ana Cláudia Medina, as investigações mostraram que inúmeros outros veículos irregulares foram legalizados no Detran de Juti mediante pagamento de propina aos servidores.

Até mesmo carretas de quatro eixos foram documentadas na agência na época em que esse tipo de veículo ainda era proibido de circular no Brasil. A liberação só ocorreu em janeiro de 2022.

“Quando solicitados pelo despachante investigado, os documentos eram emitidos normalmente, com a inserção de dados falsos no sistema, como a ausência de documentos de segurança e utilização de endereços falsos”, afirma o Dracco.

Outro detalhe que chamou atenção: durante buscas na agência do Detran, nenhum procedimento físico suspeito de fraude foi encontrado para verificação dos documentos. “O servidor responsável teria alegado que os procedimentos foram subtraídos da agência ou danificados por infiltrações decorrentes da chuva”.

Segundo a polícia, a organização criminosa criou verdadeira prática de corrupção sistêmica no Detran em Juti através de três grupos com funções bem definidas.

Dinheiro e cheques apreendidos em cofre de empresário, no dia 8 (Foto: Arquivo)
Dinheiro e cheques apreendidos em cofre de empresário, no dia 8 (Foto: Arquivo)

Núcleos – O primeiro grupo é o “Despachante”, formado por João Ney e outros despachantes e funcionários que ainda estão sendo investigados. Esse núcleo tinha a função de captação de clientes - proprietários de veículos irregulares interessados em regularizá-los indevidamente.

Após a captação dos clientes e pagamento pelo serviço, o “Despachante” encaminhava os documentos para o “Grupo Político”, formado por Marcel Libert e Adriano Passarelli.

Os dois eram os responsáveis pelas alterações falsas no sistema do Detran, mesmo diante das irregularidades do veículo, endereços falsos e ausência de documentos obrigatórios.

Para o financiamento do esquema, a organização contava com o “Grupo Financeiro”, formado por Jeferson Cassavara e o filho, Jeferson Junior. Segundo o Dracco, os dois eram os operadores financeiros da quadrilha.

“Além de pagamentos diretos entre o Grupo Despachante e o Grupo Político, que se aproximam de meio milhão de reais, também eram realizadas transações por intermédio dos operadores financeiros, que além disso, também seriam responsáveis pela dissimulação e ocultação dos valores movimentados pela organização criminosa”, afirma o Dracco.

Além da movimentação de R$ 17 milhões, a polícia identificou diversas estratégias para esconder o patrimônio e o dinheiro movimentado através das fraudes. O grupo usava “laranjas” e registrava a propriedade de veículos em nome de terceiros. Por isso, além dos crimes de corrupção, os cinco alvos são investigados também por crime de lavagem de dinheiro.

As buscas feitas no dia 8 deste mês mostraram que a organização criminosa estava em pleno funcionamento, tanto na parte financeira quanto na emissão de documentos fraudados.

No escritório do despachante João Ney, localizado na Vila Alba em Dourados, os policiais localizaram requerimentos à agência do Detran em Juti elaborados em novembro de 2022 e com indícios de utilização de endereço falso. Devido à suspeita de continuidade dos crimes, o Dracco pediu a prisão preventiva dos investigados.

Detran – Em nota encaminhada pela assessoria de imprensa, o Detran de Mato Grosso do Sul informou que a investigação inicial foi da própria Corregedoria de Trânsito do órgão, conduzida em parceria com o Dracco.

“Todos os mandados de busca e apreensão estão sendo acompanhados por agentes da corregedoria”, informou o Detran. O órgão ainda não se manifestou sobre a substituição de Adriano Passarelli na gerência da agência.

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