250 mil toras de ipê, cedro e louro: o início do desmatamento da fronteira
Durante longas décadas, não existiu desmatamento na região. O nome do Estado indicava, era “Mato”. E era “Grosso”. Uma mar de árvores frondosas. Um lugar ermo e de exígua população. As duas grande atividades, a pecuária e os trabalhos com a erva-mate, eram realizados sem a retirada das árvores maiores. Mas os dias das grandes árvores estavam contados…
Desespero: o preço da erva-mate caiu.
Na segunda década do século passado, o preço da erva-mate começou a cair. Apavorou milhares de ervateiros da fronteira com o Paraguai. Alguns imaginavam até uma catástrofe. Os poderosos da empresa Matte Laranjeira foram a Buenos Aires. Queriam saber o que, em verdade, estava acontecendo. A causa da queda do preço da erva-mate era que os depósitos argentinos achavam-se superlotados. A exportação para a Europa tinha sido suspensa por falta de mercado.
250 mil toras.
Encontraram uma “saída”. Comprariam 250 mil toras de ipê, cedro e louro. Foi o primeiro grande desmatamento no Mato Grosso do Sul. As toras seriam enviadas pelas águas do rio Paraguai. Uma vez dentro da água, primeiro as toras de cedro, por ser “boiador de primeira”, argentinos de grande experiência organizavam jangadas com as demais toras. Tudo pronto, era só começar a viagem a favor das águas do rio. A regra era montar a largada de doze jangadas, de cem toras cada uma, puxada por um rebocador de nome “Zé Luis”, movido a óleo.
A gritaria dos indígenas.
Corre a lenda de que os indígenas são os povos mais preocupados em preservar as matas. O fato, todavia, era que nessa época, o inicio das viagens das toras de madeira do Mato Grosso do Sul, era comemorado por eles festivamente, com uma gritaria ensurdecedora. Essas jangadas grotescas transportaram durante longo período, para a Argentina, incalculável riqueza. As toras eram por lá beneficiadas e enviadas para a Europa em um comércio multimilionário… para eles. Nós ficamos sem as árvores e sem dinheiro.
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