O bebê submetido a testes para provar que comportamento é tudo
O psicólogo norte-americano John Watson foi o fundador de um conjunto de teorias bastante influente que ficaram conhecidas como behaviorismo ou comportamentismo. Isto é, tudo depende do comportamento. Em 1.919, ele e uma estudante, sua futura esposa, Rosalie Rayner, decidiram realizar um experimento que lembrava os testes feitos por Pavlov em cães. Só que o “voluntário” era um bebê com pouco menos de um ano de idade. Em essência, eles queriam condicionar fobias em uma criança emocionalmente estável para demonstrar que o mecanismo estudado por Pavlov funcionava também em humanos.
O ratinho brincalhão.
A dupla expôs um bebê a uma bateria de testes emocionais onde ele via pela primeira vez um coelho, um rato, um cão, um macaco, máscaras, algodão, jornais pegando fogo e outros estímulos. Como você pode imaginar, um bebê não tinha razão para temer nenhum desses estímulos. Na etapa seguinte, o pequeno é colocado junto a um ratinho de laboratório e o deixaram brincar. Nenhum medo, claro. O animal corria em volta da criança, que se esticava para pegá-lo. Estavam brincando. E assim fizeram diversas vezes. Tudo certo.
A coisa começa a ficar feia.
Depois de diversas sessões de brincadeira entre bebê e ratinho, a dupla de psicólogos decidiram bater com um martelo em uma barra de aço suspensa colocada às costas do bebê, sempre que ele tocava o ratinho. O barulhão produzia uma choradeira sem fim e a demonstração de medo típica de uma reação instintiva. Com nenhum apreço pela aflição do bebê, eles repetiram diversas vezes o procedimento.
O “gran finale”.
Eis que vinha o “gran finale”. O bebê era exposto novamente ao ratinho, mas dessa vez sem o barulho. Pouco importava. Só de ver o animal por perto o bebê se mostrava incomodado, apreensivo e choroso. Ele havia “aprendido”. O medo que tinha do barulho passou a ter do rato, que nada lhe fazia além de brincar. O psicologo afirmou que o mesmo medo ele havia visto com coisas dispares como um cão peludo, um casaco de peles e até uma máscara de Papai Noel com barba. O bebê supostamente havia generalizado seu medo do rato para outras coisas peludas.
Dê-me um bebê e o tornarei um medico ou um artista.
Watson estava em uma cruzada ideológica. Era tempo de eugenia, a teoria usada pelos nazistas para garantir a superioridade racial. O psicólogo acreditava poder demonstrar que a personalidade e as características das pessoas podem ser moldadas pelo ambiente. Em 1.930, ele chegou a escrever: “Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e um mundo propriamente especificado por mim para criá-las e eu garanto que posso pegar qualquer uma aleatoriamente e treiná-la para se tornar qualquer tipo de especialista que eu selecionar - médico, advogado, artista, gerente e, sim, até mendigo ou ladrão, independentemente de seus talentos , gostos, tendências….”.
A ideia era equivocada, mas ele não admitiu.
Curiosamente, o mesmo experimento, realizado com o mesmo bebê, tentando atrelar o medo do barulho a um coelho e a um cachorro, não teve a mesma eficácia. No fim das contas, apesar do sucesso (até nossos dias), e do entusiasmo de Watson pelo que seria uma confirmação do método behaviorista, a imensa maioria dos cientistas considera que os resultados não são conclusivos. Isso sem falar nos problemas éticos de maltratar um bebê.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.