Com juros menores que de banco, empréstimo informal é risco que se prolifera
Especialistas alertam sobre golpes e reforçam a importância de avaliar a real necessidade do dinheiro
Com o nome negativado e sem acesso a crédito em instituições financeiras, muita gente acaba recorrendo a alternativas arriscadas, como de agiotas. Exemplo comum de iscas para os devedores são os cartazes espalhados por muros e postes da cidade, oferecendo empréstimos "fáceis". A promessa é rápida, os juros menores que de bancos, mas pode custar caro.
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Com o nome negativado, muitos recorrem a empréstimos arriscados, como o "empréstimo no cartão de crédito", que é ilegal e pode custar caro. A prática é considerada crime contra o sistema financeiro. Alternativas seguras incluem empréstimos entre familiares ou grupos de confiança, como os moais, que são organizados para juntar dinheiro e se revezar no uso. A economista Andreia Ferreira alerta que, mesmo com taxas abusivas, bancos oferecem segurança jurídica. A psicóloga financeira Ângela Maria Marina destaca a importância do autoconhecimento e planejamento financeiro para evitar dívidas.
Enquanto no Bradesco, por exemplo, R$ 1.000 de empréstimo pessoal representaria R$ 2.003,76 ao fim de 12 meses, na informalidade a oferta tentadora propõe R$ 1.299,00 pelo mesmo valor e na mesma quantidade de parcela. O problema começa porque o interessado vai ter de receber em casa uma pessoa que nem conhece para passar o cartão de crédito.
Para entender como funciona o chamado “empréstimo no cartão de crédito”, o Campo Grande News fez uma simulação pelo WhatsApp, com base em dois anúncios encontrados nas ruas Gonçalo Alves, no Vivendas do Bosque, e Ceará, em frente a uma universidade.
Bastou um “boa tarde” para os atendentes explicarem como funciona. “O funcionário vai até você com a maquininha, passa seu cartão no valor escolhido, divide nas vezes que quiser e entrega o comprovante. Você informa sua chave Pix e o valor é transferido na hora”.
Apesar de parecer simples, a prática é ilegal. Segundo o Banco Central, trata-se de “autofinanciamento”, uma simulação de venda que não existe, o que configura crime contra o sistema financeiro. Além disso, os juros cobrados costumam beneficiar terceiros, sem qualquer garantia ao consumidor.
Outra questão é quando a pessoa deve justamente no cartão de crédito e não tem saldo para pegar o empréstimo informal. Nesse caso, os agiotas pedem 15% de juros e acabam com as contas de muita gente. "Comecei pegando R$ 300 e cheguei a pegar R$ 3.000. Ai, só conseguia pagar os juros. No fim das contas, fiquei um ano e meio fazendo isso e paguei valor quatro vezes maior que a minha dívida", diz mulher de 30 anos que pediu para não ter o nome revelado.

Boa e velha alternativa - Por essas e outras, a economista Andreia Ferreira alerta que, mesmo com taxas abusivas, os bancos operam dentro da lei e oferecem alguma segurança jurídica ao cliente. "Empréstimos entre desconhecidos configuram agiotagem, o que também é crime. O único empréstimo de pessoa física para pessoa física reconhecido é entre familiares ou em grupos de confiança, como os moais”.
Os moais são grupos de pessoas que se organizam para juntar dinheiro e se revezar no uso dos valores arrecadados. São vistos como alternativa viável para quem precisa de crédito, mas está fora do sistema bancário. “É uma forma legítima e que ajuda na disciplina financeira. O grupo define valor, prazo e regras. É tudo combinado desde o início”, explica Andreia.
Viviane Monteiro, 39 anos, artesã, organiza grupos de moai há pelo menos quatro anos. Cada ciclo dura entre 10 e 12 meses. “Não lembro exatamente quando foi o primeiro, mas o segundo me marcou. Usei o valor para completar a festa de 15 anos da minha filha e consegui R$ 2,5 mil”, conta.
Atualmente, Viviane organiza um ciclo atrás do outro. O participante contemplado paga um juro de 15%, enquanto o último a receber leva o valor integral com os acréscimos. “Os últimos grupos foram para reformar minha casa. É uma saída para quem está com nome sujo, sem cartão ou já endividado. Também serve como forma de poupança para quem quer realizar algo no futuro”, completa.
É preciso? - Para a matemática e psicóloga financeira Ângela Maria Marina, o principal problema é a falta de autoconhecimento. “As pessoas procuram soluções rápidas, mas ilusórias. Entram em empréstimos, cartões e agiotagem achando que estão resolvendo o problema, mas só pioram. Os juros se acumulam e a dívida vira uma bola de neve”.
Ela compara o processo de organização financeira a um tratamento de saúde. “É como tomar um remédio amargo. É doloroso, exige sacrifício, mas é necessário. Tem que parar, refletir, mudar comportamento, planejar melhor, abrir mão de viagens e lazer. Ninguém supera uma crise financeira sem esforço”, conclui.
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