Consumidores contam a que extremo chegaram para poder pagar as contas do mês
Consumidores vão além de pedir dinheiro emprestado para amigos ou recorrer ao fiado
Loucura de amor, todo mundo já deve ter visto. Agora, na hora do aperto financeiro, a criatividade do ser humano pode não ter limites.
RESUMO
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Em tempos de crise financeira, a criatividade para pagar contas não tem limites. Em Campo Grande, moradores relatam medidas extremas para quitar dívidas. Anézia Casemiro, de 71 anos, ficou seis meses sem comprar roupas íntimas. Wilson Correia, de 50 anos, vendeu seu carro por menos da metade do preço de tabela. Valmira, de 69 anos, vendeu itens de casa para pagar a conta de luz. Ivone Rodrigues, de 60 anos, reduziu drasticamente os gastos com alimentação, chegando a catar limões na rua. A pesquisa da CNC revela que o cartão de crédito é o principal responsável pelo endividamento na cidade.
E não falamos só de pedir dinheiro emprestado para amigos ou recorrer ao famoso fiado; tem gente que já vendeu teve que vender o próprio carro, parou de comprar roupa, ou vendeu algo mais barato para conseguir ter dinheiro.
O Campo Grande News foi às ruas na manhã desta quarta-feira (09) para saber qual foi a atitude mais extrema que as pessoas já tomaram para conseguir pagar as contas. Lembrar da loucura faz até as pessoas sorrirem.
A dona de casa Anézia Casemiro dos Reis, de 71 anos, não tem vergonha de falar e foi logo dizendo que teve que ficar sem comprar até calcinha por 6 meses para conseguir pagar as contas de casa.
“Vou falar a verdade. Fiquei e fico sem comprar até calcinha. Fiquei por seis meses, porque eu não podia, eu tinha que pagar conta. Não podia comprar nada, nada, nada, não comprava uma calcinha”, lembrou. Em uma pesquisa rápida pelo Centro, um trio de calcinhas está custando cerca de R$ 40.
Sobre o valor da dívida, ela não se lembra, porque essa história que ficou marcada na sua memória ocorreu há 5 anos. “Era dívida grande que eu tinha que pagar, eu estava devendo bulicho, na época, além da conta de luz, água, cartão de crédito. Não me lembro quanto era, mas eu passei um aperto. Faz tempo, mas hoje em dia ainda está difícil, não é prioridade”, disse.
Já o auxiliar de serviços gerais, Wilson Luiz Correia, de 50 anos, foi mais além. Precisou vender o carro Chevrolet Corsa, ano 2005, por R$ 7 mil. O valor é R$ 8,6 mil mais barato, já que conforme a tabela Fipe, o veículo custa cerca de R$ 15,6 mil.
“Já vendi muitas coisas, já vendi celular, já vendi carro. O carro que eu vendi faz 1 ano e meio, vendi por sete mil e fui pagando conta e voltei a andar de ônibus”, relembrou.

Sobre as contas, ele detalha que já chegou ao valor de R$ 7,2 mil, com compras em lojas, mercado e cartão de crédito. “Quando eu vendi o carro, consegui quitar essas dívidas, era conta de loja, banco, mercado, e vai acumulando. Até hoje eu tenho dívida no banco, faz 30 anos, essa eu não quitei, e nem quero ver o valor”, contou.
A diarista Valmira, de 69 anos, disse que teve que selecionar algumas coisas em casa para poder pagar um conta de luz que estava R$ 1,5 mil.
“Uma vez cortou minha luz, ficou acumulada, tive que vender algo da minha casa para pagar, mas eu paguei. Tinha lençol, toalha, que eu não usava, e vendi.”

Mas, ela diz que aprendeu a lição e atualmente as contas estão em dia. “Mas eu coloquei tudo em ordem. Faz muitos anos que está tudo em ordem. Hoje eu trago as contas em dia, não devo, também não fiz empréstimo”, completou.
A dona de casa Valdilene Giroto, de 47 anos, já teve que recorrer ao moai para pagar uma viagem.
“Já abri moai para pagar uma conta, fazer uma viagem. Às vezes de 250 ou 300 reais, para eu conseguir comprar aquilo que estou almejando no momento. Eu procuro fazer o moai quando estou mais apertada, quando tem um objetivo, um alvo. Também já quitei o carro”, relatou.
O termo "moai" é usado quando um grupo de várias pessoas se juntam, e a cada mês, todas as pessoas dão o valor proposto. Cada mês, uma tira o valor proposto.
Por exemplo, se considerar que o moai de Valdilene tenha dez pessoas e cada uma dê o valor de R$ 250, ela terá R$ 2.500.
A aposentada, Ivone Rodrigues, de 60 anos, teve que diminuir os gastos com a comida. Esse foi o extremo para ela, que inclui até catar limão na rua para fazer suco, ao invés de comprar.
“Cortei o arroz, cortei o açúcar. A compra reduzi mais da metade para poder pagar água, luz, para poder sobreviver, cato limão na rua, faço a limonada no domingo. Então, a gente pega o que dá e se vira. Até sabão, faço sabão de soda. É uma luta, quem vive de salário, é puxado”, disse.
No mês, as contas ficam menos de R$ 1 mil, já que ela não precisa pagar prestação da casa. Conforme Ivone conta, a água custa R$ 180; luz, R$ 140; remédio, R$ 150. Os gastos com comida ficam entorno de R$ 500.
O design gráfico Salvador Pereira, de 66 anos, leva a pergunta na esportiva. "Só não vendi minha alma, porque não tinha ninguém para comprar", disse brincando.
Ele lembra que há alguns anos teve que vender coisas mais baratas para conseguir, pelo menos, R$ 100.
"Já vendi coisas caras, por um preço dez vezes menor, só para pagar uma conta. Por exemplo, uma vez, eu vendi um objeto, que vale mil reais por 100 reais", disse apressado.
Endividamento – Conforme dados da PEIC (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o cartão de crédito continua como o principal vilão das famílias campo-grandenses, com índice de 75,4%, seguido por carnês (18,7%) e crédito pessoal (11,6%).
Em fevereiro, a pesquisa contabilizou 215.379 pessoas endividadas, sendo que 88.964 estão com conta em atraso e 40.791 não terão condições de pagar.
No mesmo mês, o índice de famílias endividadas em Campo Grande teve leve aumento, saindo de 64,9% em fevereiro para 65,7% em março.
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