Com lavouras alagadas e sem estrada, produtores começam a colher soja
Colheita é feita nas áreas mais secas e produtores já falam em perdas principalmente na região de Aral Moreira, onde tem lavoura embaixo de água e outras foram abandonadas
Produtores da região sul de Mato Grosso do Sul e da fronteira com o Paraguai já começaram a colher a safra de soja 2015/2016. A colheita é feita em áreas dos principais produtores da oleaginosa no Estado, como Dourados, Maracaju, Aral Moreira e Ponta Porã, mas os agricultores torcem para mais uma semana de sol, para colocar as máquinas a todo vapor.
Por causa das chuvas recordes nas duas primeiras semanas de janeiro, boa parte das lavouras ainda está embaixo de água, o solo permanece muito úmido, impedindo a entrada das máquinas, e as estradas estão intransitáveis na maioria dos municípios. Mesmo com tantos percalços, a colheita tem que ser feita.
Ainda não existe uma estimativa oficial sobre as perdas, mas os agricultores das áreas atingidas pela chuva preveem produtividade menor em decorrência principalmente do desconto por causa de grãos ardidos e podres. Em algumas áreas da fronteira teve lavoura que foi abandonada porque o produtor não vai conseguir entrar com as máquinas.
Sem estradas – Em Dourados, terceiro maior produtor de soja em Mato Grosso do Sul, com cerca de 150 mil hectares ocupados com a oleaginosa, a colheita já começou na região do Potreirito e a maior preocupação é a situação das estradas.
O município tem 1.340 quilômetros de rodovias vicinais – de responsabilidade da prefeitura – e a manutenção das estradas foi assunto de uma reunião nesta segunda-feira entre o prefeito Murilo Zauith (PSB) e o presidente do Sindicato Rural, Lúcio Damalia.
“O produtor está acostumado com crise. Chegou a hora da colheita e tem que colher, não tem jeito. E a colheita já está sendo feita, mas estamos preocupados com as condições das estradas, não só para a retirada da safra de soja, mas também para o escoamento da produção de frango e suíno e para chegada de ração e insumos. A segunda safra, que começa logo após a colheita da soja, também já é motivo de preocupação”, afirmou Damalia ao Campo Grande News.
O dirigente ruralista disse que na reunião o prefeito anunciou o início da recuperação dos trechos mais críticos. Segundo ele, a prefeitura vai se responsabilizar pelo licenciamento ambiental para retirada de cascalho das propriedades. “É importante que o produtor colabore doando a pedra para recuperação das estradas, permita o recuo de cerca para construção de caixas de contenção, não podemos esperar só do poder público”.
Intransitável – Jonas Gonçalves de Araújo, um dos produtores mais tradicionais da Linha do Potreirito, reclama da situação da estrada. Segundo ele, há pelo menos 50 dias a via de terra está intransitável. Ele pretende começar a colheita na semana que vem e na tarde de segunda-feira estava na lavoura, vendo as condições do solo, ainda bastante úmido.
Se não bastasse a preocupação com a falta de estrada para escoamento da produção, Jonas viu surgir no meio de sua roça uma via aberta por moradores das proximidades, que começaram a passar dentro da lavoura. “Aqui não aguenta caminhão pesado, se nada for feito, não tem como tirar a produção”.
Dono de uma área de 220 hectares de soja também na Linha do Potreirito, o produtor Frederico Formagio Neto já começou a colher nos locais onde o solo já secou, mas também está preocupado com a estrada. Segundo ele, se não for feita a manutenção o custo será maior para escoamento, o que afeta o rendimento final.
“Choveu muito neste ano, quando a soja já estava pronta para ser colhida, o que está provocando um desconto muito grande por causa de grão ardido e até podre”, afirmou Formagio Neto, que apesar das dificuldades prevê uma safra com boa produção.
Embaixo d’água – Na região de Amambai e Aral Moreira, outra grande produtora de soja em Mato Grosso do Sul, a chuva pode causar prejuízos ainda maiores. Osvin Mittank, presidente do Sindicato Rural, disse que boa parte das lavouras ainda está embaixo d’água.
“A colheita já começou em alguns locais, mas a maioria dos produtores ainda depende de pelo menos mais uma semana de sol para entrar com as máquinas. As estradas também estão muito precárias. Estão arrumando em alguns pontos, mas os estragos causados pela chuva foram muito grandes”, afirmou Mittank.
Segundo ele, haverá perda principalmente nas áreas onde a soja não se desenvolveu por causa do excesso de chuva. “A soja foi plantada antes de começar a chover em novembro. Em algumas propriedades foram abertas valas dentro das lavouras para escoamento da água, lavouras foram abandonadas e algumas continuam dentro da água e não vai ter como colher. Nesses locais haverá perdas”, disse Osvin Mittank.
Governo promete trabalho – Nesta terça-feira, o governo de Mato Grosso do Sul informou que trabalha para minimizar os estragos causados pelo excesso de chuvas e garantir o mínimo de trafegabilidade nas estradas.
Com 29 municípios em emergência, segundo o secretário adjunto de Produção e Agricultura Familiar, Jeronimo Alves Chaves, a principal preocupação é o escoamento da safra de soja que começa a ser colhida. Jeronimo disse que o governo do Estado se depara com uma das situações “mais alarmantes” já vistas em relação às condições das estradas.
“A intensidade e a continuidade das chuvas nos últimos 30 dias vêm causando excesso de umidade no solo e encharcamento em lavouras, principalmente das regiões sudoeste e conesul do Estado, prejudicando o desenvolvimento das plantas em especial a formação de vagens e de grãos”, explica Jeronimo.
Segundo ele, a frequência de dias nublados também é fator limitante para o crescimento da soja e que essas ocorrências prejudicaram o rendimento esperado, de 3.000 kg por hectare. “Neste momento existem áreas de lavouras já dessecadas que precisam ser colhidas, cuja produção começa a ser comprometida”.
O adjunto da pasta disse que na sexta-feira (15) a secretaria fez levantamento nas principais cooperativas no centro sul e que movimentam 30% da produção de grãos. A maior preocupação é com a entrada das máquinas na lavoura e retirada da produção.
Segundo ele, ações emergenciais para contratação de empresas de prestação de serviços de manutenção de pontes e para recuperação de estradas estão em andamento. “Esperam apenas uma trégua da chuva para começar os trabalhos”.
Aprosoja mantém otimismo – O presidente da Aprosoja/MS, Crhistiano Bortolotto, disse que a colheita na região sul começou com a trégua das chuvas e com a continuidade da estiagem vai ser intensificada, já que existem muitas áreas prontas para serem colhidas.
Segundo ele, ainda existem estradas a seres recuperadas e o acesso às fazendas está pendente, “mas sem as chuvas isso pode ser resolvido”.
“Os produtores estão otimistas com a colheita. As chuvas são bem vindas e a previsão é de que tenha mais, não pode diminuir drasticamente, pois as lavouras precisam e aliada à colheita da soja tem o plantio da segunda safra de milho”, afirmou o dirigente.
Na região sul de Mato Grosso do Sul, segundo a Aprosoja, são 1 milhão e 370 hectares plantados com a oleaginosa.