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Economia

Com peso de 19% na inflação, gasolina vira artigo de luxo em Campo Grande

Cálculos feitos a pedido do Campo Grande News mostram o impacto dos combustíveis na inflação

Osvaldo Júnior e Anahi Gurgel | 24/02/2018 09:02
Abastecer está cada vez mais difícil em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Abastecer está cada vez mais difícil em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

O menor poder de compra, resultante da retração da economia, freou a inflação e abriu margem para o governo federal promover reajustes acentuados de preços administrados. Essa sequência ajuda a entender o cenário de deflação dos alimentos e de disparada dos valores dos combustíveis. Em Campo Grande, a gasolina ficou, em média, 15% mais cara no ano passado, impactando em 19,25% a inflação. Os dados são do Nepes (Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas e Sociais).

“A gasolina, sozinha, participou com quase 20% na inflação do ano passado”, informou o coordenador do Nepes/Uniderp, Celso Correia de Souza. Cálculos feitos pelo professor a pedido do Campo Grande News mostram, em números, o que as pessoas já sentem no bolso sempre que precisam se deslocar pela cidade: abastecer está quase impossível.

Em janeiro, a gasolina era encontrada por valores entre R$ 3,45 e R$ 3,69; em dezembro, já chegava a R$ 4,19. A majoração média é de 15,08%. Considerando o peso que esse produto tem no orçamento das famílias, o encarecimento impacta a inflação geral em 19,25%.

O diesel comum e o etanol (neste caso, não é preço administrado) também ficaram mais caros, com destaque ao primeiro combustível. Ainda de acordo com o Nepes, o valor do litro do óleo diesel em Campo Grande variava de R$ 3,4 a R$ 3,54 e, em dezembro, era vendido por até R$ 3,79. A diferença é de 9,04% e o reflexo na inflação, de 9,39%.

Quanto ao etanol, com preços de R$ 2,95 a R$ 3,14 (em janeiro) e de R$ 3,19 a R$ 3,49 (em dezembro), a alta média é de 9,13% e participação na inflação, de 6,73%.

Posto de combustível de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Posto de combustível de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

Na balança da inflação – “É claro que, enquanto alguns itens subiram de preços, outros baixaram, fazendo que a inflação de 2017 fosse tão baixa, de 2,60%", nota Celso Correia. Ele explica que isso resulta, sobretudo, da queda nos preços do grupo dos alimentos, que tem grande peso no orçamento das famílias e, por conseguinte, participação expressiva no cálculo da inflação.

Os alimentos têm a segunda maior contribuição no resultado da inflação, com ponderação de 20,50%. Estão apenas abaixo ao grupo da habitação, com participação de 32,25%. O setor de transporte ocupa o terceiro lugar, com 14,90%.

O coordenador do Nepes analisa que o poder de consumo está menor, o que puxou a inflação geral para baixo. “Com a crise financeira, os consumidores estão comprando menos e isso deixou os alimentos mais baratos. Ou seja, as pessoas estão deixando até mesmo de comer”, comenta.

Ainda de acordo com o professor, a inflação moderada deu margem ao governo para elevar preços de produtos administrados. É o caso do gás de cozinha e dos combustíveis, por exemplo. Isso significa que, mesmo com a disparada nos preços desses itens, a inflação continua baixa.

"Os reajustes de combustíveis promovidos pela Petrobras certamente foram danosos à economia em 2017. Durante o ano de 2017, a estatal autorizou aumento de 15,08% da gasolina; de 9,13% do etanol e 9,04% do óleo diesel”, acrescenta Celso Correia.

Com peso de 19% na inflação, gasolina vira artigo de luxo em Campo Grande

Profissionais do setor de transporte cortam gastos para abastecer

Quem trabalha com transporte sente, de modo mais acentuado, a disparada dos preços nas bombas. Proprietária de um veículo escolar, a empresária Márcia Alves de Araújo, 41 anos, teve de diminuir gastos com diversão para não repassar a alta do custo da gasolina aos clientes.

“Estou sofrendo muito com esse aumento do preço da gasolina. Gasto cerca de R$ 150 por dia. O custo do combustível representa 35% do que ganho”, afirmou. “Não tenho como repassar para cliente. Então, cortei o supérfluo, como pizza, churrasco, as saídas”, detalhou.

O motoentregador Adenilson de Oliveira Machado, 42 anos, entende bem o drama de Márcia. “Eu calculo que a gasolina pesa 25% do meu orçamento”, estimou. Para economizar, ele deixa o carro na garagem e só usa a moto. “Tem que ter jogo de cintura. Todo mês deixo alguma conta sem pagar pra poder abastecer”, contou. E brincou: “Daqui um tempo vou ter que parar de comer para colocar gasolina”.

Também profissional no setor de transporte, Zanone Moreira, 59 anos, gasta pelo menos R$ 50 por dia para abastecer o veículo Strada, que usa para fazer entrega de queijo ralado no comércio. “Estou comprando menos cerveja, saindo menos, cortando o supérfluo”, disse.

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