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Economia

Comércio de MS com Irã e Israel recua, mas risco à balança comercial é modesto

Governo esclarece que transação com os dois países representa uma fatia pequena das vendas do Estado

Por Viviane Monteiro, de Brasília | 24/06/2025 17:24
Comércio de MS com Irã e Israel recua, mas risco à balança comercial é modesto
Carregamento de soja, um dos produtos exportados por MS para o Oriente Médio (Foto: Semadesc)

O comércio de Mato Grosso do Sul com Irã e Israel, dois dos principais mercados do Oriente Médio, imersos em uma zona de conflito há três semanas, apresentou desempenho negativo nos primeiros cinco meses deste ano. Com o cenário incerto sobre os rumos da guerra, as perspectivas de continuidade dos negócios seguem as dúvidas diante dos possíveis desdobramentos econômicos.

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O comércio de Mato Grosso do Sul com Irã e Israel apresentou queda nos primeiros cinco meses de 2025. As exportações para o Irã somaram US$ 35,2 milhões, uma redução de 33%, enquanto para Israel totalizaram US$ 15,9 milhões, 7% menos que no mesmo período do ano anterior. Apesar do cenário de conflito no Oriente Médio, a região representa apenas 4,39% das exportações totais do estado, com receita de US$ 188,12 milhões. Os principais produtos comercializados são celulose, carnes, açúcar, milho e soja. Especialistas avaliam que, embora o conflito possa encarecer fretes e pressionar preços, não deve afetar significativamente o fluxo comercial.

Mas a assessora de Economia e Estatística da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Bruna Mendes Dias, avaliou os dados com cautela, destacando o contexto de conflito entre os dois países. Segundo ela, o Oriente Médio tem participação modesta na balança comercial estadual.

Levantamento da própria Secretaria, a pedido do Campo Grande News, mostra que as exportações sul-mato-grossenses para o Irã somaram US$ 35,2 milhões entre janeiro e maio, uma queda de 33% em relação ao mesmo período de 2024. O volume embarcado foi de aproximadamente 110 mil toneladas, o que representa um recuo de 14%.

Para Israel, o Estado exportou US$ 15,9 milhões no mesmo período, uma redução de 7%. O volume embarcado se manteve estável em 9 mil toneladas. Uma das hipóteses que podem ter influído na queda do comércio são os persistentes ataques de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, iniciados em outubro de 2023.

“Como se trata de uma análise parcial e de mercados que representam uma fatia pequena das vendas do Estado, ainda é cedo para apontar impactos concretos nas relações comerciais", pontuou Bruna.

Em 2024, 13 países do Oriente Médio com os quais os produtores do Estado negociam responderam por 6,36% das exportações totais de Mato Grosso do Sul, o equivalente a US$ 264,84 milhões e 378,4 mil toneladas.

Já em 2025, até maio, essa participação alcança 4,39%, com receita de US$ 188,12 milhões e volume de 287,9 mil toneladas. Os principais produtos exportados incluem celulose, carnes (bovina e de frango), açúcar, milho e soja. O Irã se destaca como um dos maiores compradores de soja e milho do Estado, enquanto Israel está entre os fornecedores de fertilizantes e tecnologias industriais.

“Embora não esteja entre os principais destinos comerciais de Mato Grosso do Sul, o Oriente Médio representa um mercado complementar, com demanda relevante por alimentos e insumos agroindustriais. No curto prazo, a guerra em Gaza e as tensões no Estreito de Ormuz, rota essencial do comércio marítimo, elevam os custos logísticos, afetam o fornecimento de insumos e aumentam a incerteza nas trocas comerciais. Ainda assim, trata-se de uma região com consumo em expansão e potencial de médio e longo prazo, que pode contribuir para a diversificação da pauta exportadora além dos mercados tradicionais como China e Europa”, avaliou Bruna.

Além das exportações, os países do Oriente Médio também são importantes para a pauta de importações do Estado, especialmente no fornecimento de insumos agrícolas. Em 2024, as compras vindas da região representaram 1,92% do total. No acumulado de 2025 até maio, a participação acumulada é de 0,27%. Os principais fornecedores são Catar, Arábia Saudita e Israel, com destaque para fertilizantes químicos, polímeros e enxofre — insumos essenciais à cadeia agroindustrial sul-mato-grossense.

Perspectivas para o segundo semestre

Com as incertezas de trégua ou uma possível escalada da guerra entre Irã, Israel e o envolvimento indireto dos Estados Unidos, a economista da Semadesc evitou fazer projeções para os próximos meses, mas afirma que por enquanto não houve mudanças radicais no comércio.

“O comércio exterior de Mato Grosso do Sul com o Oriente Médio está inserido em um cenário global de incertezas para o segundo semestre de 2025, marcado pela guerra entre Irã e Israel e pelas tensões no Estreito de Ormuz, rota estratégica do comércio marítimo global. Apesar do contexto geopolítico, até o momento não há sinais de mudanças drásticas nas relações comerciais com a região”, analisou.

No curto prazo, a expectativa é de estabilidade nas trocas. Contudo, os desdobramentos do conflito podem trazer pressões logísticas e comprometer a previsibilidade dos fluxos. Já em médio e longo prazos, o Oriente Médio segue como um mercado promissor, com potencial de consumo crescente, capaz de contribuir para a diversificação das exportações estaduais.

Comércio de MS com Irã e Israel recua, mas risco à balança comercial é modesto
Rodrigo Amaral, professor da PUC/SP (Foto: Divulgação)

Repasse de alta do petróleo no radar

Fontes da Câmara de Comércio Árabe Brasileira avaliam que o conflito entre Irã e Israel deve encarecer o frete para o Oriente Médio e pressionar os preços dos alimentos, sem afetar o fluxo comercial de forma significativa. O entendimento é de os conflitos na região “nunca inviabilizaram” os embarques de alimentos brasileiros, considerados “necessários tanto na guerra como na paz”.

O consultor de comércio com países árabes, Michel Alaby, acredita que a alta nos preços do petróleo tende a repercutir sobre os custos de produtos agrícolas e fertilizantes, essenciais para culturas como milho e soja. “Isso vai pressionar o preço das carnes”, exemplificou.

Rodrigo Amaral, professor da PUC-SP, especialista em Oriente Médio e pesquisador do INCT-INEU (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos), vê o risco maior no eventual fechamento do Estreito de Ormuz, ameaça já feita pelo governo iraniano.

“O fechamento do estreito prejudicaria o comércio internacional em geral, porque esse é um importante trecho de passagem para transporte de petróleo do Golfo Árabe. Utilizado bastante por países como Iraque, Kuwait, Qatar e Arábia Saudita. Nesse sentido, acarretaria em uma alta, ainda maior do preço do petróleo, que já cresceu nos últimos tempos”, afirmou.

No entanto, Amaral considera improvável que o Irã leve a ameaça adiante. “Isso prejudicaria mais o aliado iraniano do que de fato EUA e Israel. Entendo que os iranianos vão recalcular o fechamento da rota, sabendo que isso prejudica mais atores paralelos à guerra do que seus inimigos propriamente”, argumentou.

A avaliação é de que a desistência de fechar Ormuz, somada ao provável recuo dos Estados Unidos no conflito, pode aliviar a pressão sobre o petróleo e favorecer certa estabilização nos preços nos próximos dias.

Exportações gerais de MS

Apesar das incertezas no comércio com o Oriente Médio, Mato Grosso do Sul alcançou um novo patamar em suas exportações totais. No acumulado de 2025, até maio, o Estado exportou US$ 4,288 bilhões, superando a receita de US$ 4,165 bilhões registrada ao longo de todo o ano passado. Em volume, os embarques somaram 10,836 milhões de toneladas, também acima das 9,795 milhões de toneladas exportadas em 2024.

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