Comitiva de MS denuncia Carrefour e 3 varejistas por boicote à carne brasileira
Petição pede investigação e multa às empresas que vetaram compras e levantaram dúvidas sobre a carne do Brasil

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) liderada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS), vice-presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), protocolou nesta terça-feira (27), em Bruxelas, uma petição à Comissão Europeia solicitando a abertura de investigação formal contra o Carrefour e outras três grandes redes varejistas francesas: Les Mousquetaires (controladora da Intermarché), E.Leclerc e Coopérative U.
RESUMO
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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), liderada pela senadora Tereza Cristina, protocolou uma petição à Comissão Europeia contra o Carrefour e outras três redes varejistas francesas. A ação foi motivada por declarações das empresas, em novembro de 2024, que questionaram a qualidade da carne brasileira e suspenderam as compras do produto. A CNA alega que as acusações são infundadas e configuram violação às regras de concorrência da União Europeia, além de prejudicar a reputação do agronegócio brasileiro. A petição pede investigação, multas e retratações públicas. O caso ganhou destaque durante as negociações do Acordo Mercosul-União Europeia, com agricultores franceses pressionando contra a entrada de produtos sul-americanos. A CNA reforça que o Brasil atende rigorosos padrões sanitários e é líder global na exportação de carnes. A expectativa é que a Comissão Europeia tome medidas para evitar novos episódios semelhantes.
O pedido se refere às declarações feitas pelos varejistas em novembro de 2024, quando anunciaram a suspensão das compras de carne bovina, suína e de frango do Brasil e de outros países do Mercosul. Segundo o documento, as manifestações questionaram a qualidade e a segurança da carne brasileira, geraram preocupações infundadas e desencorajaram consumidores europeus a comprar o produto.
Para a CNA, os anúncios coordenados configuram uma violação às regras de concorrência da União Europeia e representam um ataque à reputação da agropecuária brasileira, que é líder mundial na produção e exportação de carnes. A petição pede que a Comissão Europeia não apenas investigue as empresas envolvidas, mas também imponha multas proporcionais às infrações cometidas e exija o fim dos boicotes e retratações públicas.
“Nós viemos protocolar esse pedido de investigação sobre as quatro empresas francesas que difamaram a carne brasileira”, disse Tereza Cristina. “Quem falar mal da nossa carne vai responder por isso”, completou a senadora.
Além de Tereza Cristina, a comitiva brasileira incluiu o vice-presidente de Relações Internacionais da CNA, Gedeão Pereira; a diretora de Relações Internacionais, Sueme Mori; e o presidente da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso do Sul), Marcelo Bertoni. “Não aceitamos mais episódios como o que ocorreu com o Carrefour e outras redes varejistas. Então, viemos protocolar na Comissão Europeia a nossa reclamação contra esses ataques à sanidade da carne brasileira”, afirmou Bertoni.
A decisão de levar o caso à Comissão Europeia foi motivada pela repercussão do episódio, iniciado em novembro de 2024, quando o presidente global do Carrefour, Alexandre Bompard, publicou nas redes sociais declarações colocando em dúvida a sanidade das carnes exportadas pelos países do Mercosul. Segundo ele, a carne sul-americana não estaria em conformidade com as exigências e normas francesas, e por isso a rede suspenderia as compras. A decisão foi rapidamente seguida pelas outras três varejistas, que juntas controlam 75% do mercado varejista na França.
O movimento ocorreu no momento em que avançavam as negociações para o Acordo de Livre-Comércio Mercosul-União Europeia. Agricultores franceses, temendo aumento da concorrência, pressionaram para barrar a entrada de produtos do bloco sul-americano, como carnes, açúcar e etanol.
A reação brasileira veio de imediato. A CNA e entidades ligadas ao agronegócio, além de políticos como Tereza Cristina, criticaram as falas e articularam medidas legais em defesa dos produtores brasileiros. O presidente da CNA, João Martins, afirmou que a confederação foi obrigada a recorrer a escritórios de advocacia em Bruxelas para adotar providências. “Fomos surpreendidos pela atitude dessas empresas que tentaram mostrar que a carne brasileira não atende aos padrões europeus, o que não é verdade. O Brasil se tornou o maior exportador mundial e atende a rigorosos mercados, inclusive a própria União Europeia”, disse Martins.
A polêmica levou o Carrefour a publicar uma retratação dirigida ao mercado brasileiro e ao então ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Em nota, a rede admitiu que a carne do Brasil tem “alta qualidade e sabor” e que o país sempre cumpriu as exigências sanitárias da União Europeia.
Na petição apresentada, a CNA sustenta que as redes varejistas agiram em oposição ao Acordo Mercosul-União Europeia, minando o papel da Comissão Europeia como única negociadora e representante dos interesses do bloco. “A CNA tem preocupações legítimas de que essas ações coordenadas dos varejistas franceses para exclusão dos fornecedores do Brasil e do Mercosul violem as regras de concorrência da União Europeia”, diz o texto.
O documento cita declarações públicas de lideranças das quatro redes francesas em que pediam o engajamento de todo o setor agroalimentar no boicote à carne brasileira, além de expressar o desejo de influenciar outros segmentos além do varejo. Para a CNA, essas manifestações extrapolam práticas comerciais e se configuram como um ataque deliberado aos produtos do Brasil e do Mercosul.
A União Europeia é um mercado estratégico para as carnes brasileiras, devido ao alto poder de compra dos consumidores e ao rigor das exigências sanitárias, que acabam servindo de referência para outros mercados internacionais. Por isso, a CNA considera essencial que a Comissão Europeia tome providências para coibir a repetição de episódios como esse.
“Estamos confiantes e na expectativa de que a Comissão Europeia, dentro dos regulamentos comerciais que regem o mercado europeu, tome as medidas cabíveis”, afirmou Gedeão Pereira, vice-presidente de Relações Internacionais da CNA.