Ministério monitora redistribuição de rotas após fim de voo direto entre MS e MT
Ministério informa que abriu linha de crédito, via BNDES, de R$ 4 bilhões para conter retração no setor aéreo
A crescente apreensão em torno da suspensão dos voos diretos entre Campo Grande e Cuiabá, anunciada pela Azul Linhas Aéreas a partir de 1º de julho, mobilizou o Ministério de Portos e Aeroportos. Apesar de as companhias aéreas terem autonomia para ajustar suas rotas com base em oferta e demanda, em resposta ao Campo Grande News, o ministro Silvio Costa informou que o governo federal acompanha de perto a redistribuição de voos nos aeroportos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, para evitar que o fim da ligação direta comprometa negócios e consumidores.
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O Ministério de Portos e Aeroportos monitora a suspensão dos voos diretos entre Campo Grande e Cuiabá, anunciada pela Azul Linhas Aéreas para 1º de julho. A medida ocorre durante o processo de recuperação judicial da empresa nos Estados Unidos e afeta uma rota estratégica entre os estados. Para minimizar impactos, o governo federal liberou R$ 4 bilhões do Fundo Nacional de Aviação Civil como linha de crédito para investimentos no setor. A suspensão do trajeto, que hoje leva uma hora, obrigará passageiros a fazerem conexões em outras cidades, triplicando o tempo de deslocamento.
Como parte desse esforço, destacou a liberação de R$ 4 bilhões do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), destinados às companhias como linha de crédito para investimentos e incentivo a novas rotas. Os recursos, aprovados pelo Congresso em dezembro do ano passado, oferecem condições facilitadas, com juros reduzidos e prazos mais longos de pagamento.
A Secretaria Nacional de Aviação Civil observa e avalia os impactos da redistribuição de rotas no Centro-Oeste, ressalvando estar ciente de que “as companhias aéreas têm liberdade para traçar estratégias operacionais e comerciais conforme a realidade de mercado”.
Ainda assim, o Ministério afirma estar comprometido com a ampliação e o fortalecimento do setor aéreo, usando para isso os recursos do FNAC. O crédito permitirá às empresas a realização de investimentos para melhoria e ampliação dos serviços. Criado em 2011, o fundo tem como objetivo fomentar a infraestrutura aeroportuária e apoiar políticas públicas voltadas ao setor aéreo. A gestão dos recursos cabe ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O ministério estabeleceu regras entre as contrapartidas que serão exigidas das companhias aéreas que solicitarem financiamento com recursos do fundo. Entre elas, estão transparência no uso dos recursos e ações para estimular a aviação regional, além da sustentabilidade e a melhoria da qualidade do serviço.
A expectativa é de que os contratos das linhas de crédito sejam assinados em agosto. Conforme a proposta, cada grupo econômico com participação superior a 1% no mercado de passageiros domésticos terá acesso a R$ 1,2 bilhão. As companhias com participação igual ou menor que 1% poderão tomar de empréstimo até R$ 200 milhões.
Recuperação judicial
A decisão da Azul ocorre em meio ao processo de recuperação judicial da empresa nos Estados Unidos e gerou surpresa entre passageiros e empresários da região, que dependem da rota como a única ligação aérea direta entre os dois estados. A ligação entre os dois estados é historicamente estratégica, com forte integração nas áreas de agronegócio, logística e energia. Mesmo após a divisão territorial que deu origem a Mato Grosso do Sul, no fim da década de 1970, as relações comerciais e operacionais se intensificaram.
Com a interrupção, o trajeto, hoje feito em aproximadamente uma hora, passará a exigir conexões em cidades como Brasília, São Paulo ou Curitiba, triplicando o tempo de deslocamento. Usuários temem o agravamento dos transtornos, especialmente diante da já limitada malha aérea no Centro-Oeste.
Segundo a companhia, "as mudanças fazem parte de um processo normal de ajuste de mercado" e foram "cuidadosamente avaliadas para garantir a sustentabilidade das rotas, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda, sem comprometer a qualidade dos serviços prestados aos clientes."
A empresa informou que os passageiros prejudicados receberão a devida assistência conforme determina a Resolução 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Em resposta à reportagem, a Anac, que faz a regulação do setor aéreo, explicou que não é responsável pela criação ou extinção de rotas e que tal decisão “é tomada no âmbito das empresas aéreas, conforme o princípio da liberdade de voar estabelecido na lei de criação da Agência”. As explicações sobre voos e eventuais mudança devem ser feitas pelas empresas aéreas que operam no estado ou com a operadora do terminal.
A Anac informou ainda que o número de voos realizados pela Azul no primeiro quadrimestre de 2025 (de janeiro a abril) totalizou 118 entre os aeroportos de Cuiabá (MT) e Campo Grande (MS), no trecho de ida. No trecho de retorno, foram 119 voos. Somente em abril, último período contabilizado pelo sistema da Agência, foram realizados 39 voos em cada trecho, o que reforça o alto fluxo de passageiros no trajeto e torna ainda mais incoerente a decisão de suspensão do único voo direto entre as duas capitais.
Concorrência
A suspensão da Azul abre espaço para que outras companhias aéreas avaliem a viabilidade da rota. Procurada, a LATAM Airlines Brasil informou ao Campo Grande News que, como faz habitualmente, "estuda oportunidades de ampliar sua malha aérea", mas não adianta planos, que só deve anunciar num possível rearranjo entre as companhias aéreas. Procurada também, a Gol não respondeu até a publicação da reportagem.