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Artes

Santos Dumont inventou o delivery? Fato integra pesquisa feita em MS

Levantamento reúne mais de 7 mil bens culturais de Santos Dumont; trabalho foi feito por Pedro Machado na UFMS

Por Jéssica Fernandes | 23/03/2025 07:59
Santos Dumont inventou o delivery? Fato integra pesquisa feita em MS
Levantamento inédito reuniu mais de 7 mil itens sobre Santos Dumont. (Acervo: Museu do Ipiranga)

Pesquisa realizada na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) reuniu mais de 7,2 mil bens culturais legados por Santos Dumont. O levantamento inédito foi feito pelo advogado especialista em direitos autorais e Doutor Honoris Causa pela universidade, Pedro Machado Mastrobuono.

RESUMO

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Uma pesquisa inédita realizada na UFMS reuniu mais de 7,2 mil itens culturais relacionados a Santos Dumont, dispersos em acervos no Brasil e no exterior. O levantamento foi conduzido por Pedro Machado Mastrobuono, especialista em direitos autorais, que utilizou a metodologia de catálogo raisonné. A pesquisa revelou a grandiosidade do legado de Dumont, incluindo documentos, desenhos e fotografias. Curiosidades como Dumont ser considerado o inventor do delivery em Paris e sua atuação na defesa do meio ambiente também foram destacadas. O trabalho visa facilitar o acesso ao acervo para futuros estudos.

Pedro Machado deu início ao levantamento durante o pós-doutorado em Antropologia Social, que foi concluído na UFMS no último ano. O material relacionado ao aviador estava disperso em dezenas de acervos públicos e privados no Brasil e no exterior.

Como resultado do seu esforço, documentos, desenhos, maquetes, fotografias e demais registros produzidos pelo inventor foram reunidos, organizados e analisados sob uma abordagem antropológica.

Achados inusitados 

Durante o trabalho, o advogado encontrou fatos inusitados sobre a vida de Santos Dumont. Ele expõe um dos mais surpreendentes.

“Um deles é quase anedótico: ele é considerado em Paris como o inventor do delivery. Isso porque, ao se preparar para seus voos de balão, costumava encomendar refeições sofisticadas em um restaurante de renome para que fossem entregues antes de suas decolagens”, conta.

Além dessa curiosidade, uma outra revelou um traço notável da personalidade do aviador. Santos Dumont, segundo ele, teve uma atuação precursora na defesa do meio ambiente cultural e natural.

“Em uma visita ao Paraná, Santos Dumont conheceu as Cataratas do Iguaçu, primeiramente pelo lado argentino e, em seguida, pelo lado brasileiro. Ao perceber que aquele território extraordinário estava sob propriedade privada, ele ficou profundamente incomodado. Cancelou compromissos e seguiu, a cavalo, até a sede do governo do estado — então chamado de Presidência do Paraná — para convencer o presidente da província a desapropriar a área e criar ali um parque público de visitação”, explica.

Santos Dumont inventou o delivery? Fato integra pesquisa feita em MS
Imagem do aviador obtida durante a pesquisa feita em 2024.(Foto: Acervo pessoal)

Processo da pesquisa

O advogado relata como surgiu a motivação para o trabalho e sua experiência anterior nessa linha de pesquisa. “A motivação para essa pesquisa nasceu da minha experiência anterior na elaboração de catálogos raisonné, que são reconhecidos como os registros científicos mais completos da produção de um artista. Tive o privilégio de desenvolver dois dos cinco catálogos raisonné existentes no Brasil”, diz.

Os dois mencionados são sobre Alfredo Volpi, por meio do Instituto Alfredo Volpi de Arte Moderna, e o de Leonilson. No primeiro, foram organizadas 4 mil obras e, no segundo, aproximadamente 2,6 mil.

O museólogo já sabia que o acervo de Santos Dumont era bastante disperso, incluindo plantas, desenhos, maquetes, documentos, correspondências, fotografias pessoais e registros de voos. Para o levantamento, ele utilizou a metodologia do catálogo raisonné, que se mostrou aplicável ao legado do aviador.

Santos Dumont inventou o delivery? Fato integra pesquisa feita em MS
Advogado especialista em direitos autorais, Pedro Machado Mastrobuono. (Foto: Acervo pessoal)

“A surpresa maior foi o volume encontrado: enquanto esperava reunir algo em torno de mil bens culturais, acabei identificando um total de 7.280 itens, distribuídos por 23 acervos diferentes — públicos, privados, nacionais e internacionais. O resultado evidencia não só a grandiosidade do legado de Santos Dumont, mas também o potencial de utilização dessa metodologia em outros campos da história e da cultura”, destaca.

Pesquisa - De acordo com ele, as etapas do trabalho seguiram uma metodologia precisa, sendo a primeira a do levantamento bibliográfico. O advogado comprou toda a bibliografia disponível do inventor e deu início a um mapeamento minucioso de tudo que já havia sido citado nas obras impressas como parte do seu legado.

“No caso de Santos Dumont, o equivalente foi mapear os documentos que mencionam seus projetos, aviões, experimentos, materiais e redes de contato”, detalha.

Na segunda fase, o pesquisador entrou em contato com as instituições que constavam nos arquivos bibliográficos. “Era fundamental identificar o que já havia sido digitalizado, o que poderia ser acessado remotamente e o que exigiria visita presencial. Vale lembrar que os acervos estão espalhados por 23 instituições, tanto no Brasil quanto no exterior”, explica.

Na terceira etapa, Pedro Machado passou a obter a efetivação do material digital. Como a maioria dessas imagens estava em baixa qualidade, ele negociou com as instituições o envio delas em alta qualidade. O levantamento também envolveu a criação de um banco de dados estruturado com registros técnicos das imagens correspondentes.

No momento final da pesquisa, foram feitas visitas presenciais. “Aquilo que não pôde ser acessado digitalmente precisou ser consultado in loco. Nesses casos, fiz pessoalmente tanto o preenchimento das fichas catalográficas quanto o registro fotográfico das peças, garantindo a completude do banco de dados e a padronização das informações”, comenta.

Com esse trabalho, o advogado espera incentivar novos estudos sobre Santos Dumont. O banco que reúne bens culturais do aviador facilita o acesso ao acervo por parte dos pesquisadores.

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