Lucimar começou em hot dog e agora leva arte de MS para o mundo
Bichos do Pantanal e cerâmicas da cultura indígena já chegaram no Japão e na Irlanda

Aquela história de que não saber o que fazer da vida também pode ser bom traduz a trajetória de Lucimar Maldonado, de 51 anos. Ela assistiu o negócio em um trailer de cachorro quente “virar” um carro de mini bug no estacionamento de um mercado, mas no final tudo acabar em artesanato.
A empreendedora encontrou tranquilidade financeira e pessoal onde menos esperava. O ramo deu tão certo que hoje ela leva arte de Mato Grosso do Sul para o mundo. Bichos do Pantanal e cerâmicas da cultura indígena já chegaram no Japão e na Irlanda, além de estarem presentes em museus nacionais.
Depois de tentar ter o próprio negócio por anos, as fibras naturais - presente em plantas -, entram na vida dela para ficar e mudar o rumo das coisas. Há 20 anos no setor, a artesã e hoje dona de um e-commerce que faz ponte entre os artistas e o público, explica que o empreendedorismo está no sangue e que isso despertou cedo.
Quando era jovem e inexperiente ela chegou a apostar em tudo. Aos 18 anos ela resolveu mexer com alimentos. A primeira tentativa não deu certo, então anos depois partiu para o ramo da aventura, que também não decolou como ela esperava. O casamento no meio do caminho pausou alguns sonhos. Pelo menos por um tempo.
“Venho de uma família de 8 irmãos. A gente sempre acompanhou muita dificuldade dos meus pais. Comecei a trabalhar muito cedo. Quando fui para o artesanato já tinha passado por outras coisas, o CNPJ da empresa foi feito em 1991. Acabei fechando, vendi tudo e casei. Vim de um núcleo produtivo de 20 mulheres”.
Quando as três crianças estavam maiores, Lucimar resolveu procurar um hobby e encontrou no artesanato a saída para fugir o estresse da rotina. O que ela não contava era que a vontade de ter seu próprio negócio voltaria.
“Eu comecei em 2003, era mãe, dona de casa, esposa, com muita coisa para fazer. Mas precisava ocupar a mente com algo fora da rotina. Vi na televisão sobre as incubadoras municipais no Zé Pereira, que na época era só de artesanato. Aí resolvi colocar meus filhos na escola e ir lá aprender. Tinha várias técnicas, madeira, cerâmica, osso, tecido e oficina de fibras naturais. Foi ali que me apaixonei”.

Um dos motivos pelas fibras naturais terem ganhado o coração dela foi pelo baixo custo para confeccionar as peças e os objetos utilizados serem domésticos como facas de cozinhas, colheres. Com elas é possível fazer caixas, cestos, vasos, peneiras, chapéus, bolsas, esteiras, bijuterias, vestuário, persianas, cortinas, tapetes e até papel de parede.
Lucimar ficou na incubadora por 1 ano. Depois cansou de depender do poder público para conseguir vender e resolveu montar a própria.
“Sai e capacitei um núcleo produtivo no Jardim Noroeste, era um grupo de mulheres presidiárias. Voltei para a incubadora da prefeitura quando eles abriram para empresa. Eu tinha acabado de fazer a minha de artesanato. Fiquei três anos”.
Desde então o negócio decolou e hoje são 20 anos vivendo do artesanato. Porém, ao longo do tempo ela deixou de fazer e começou a procurar artesãos e vender o produto para eles. A ideia enfim deu certo. Foi aí que surgiu a Fibra morena, uma referência à coragem da mulher e homenagem à Capital.
Hoje, o foco é o artesanato indígena. Lucimar trabalha com dois artistas de Miranda. Mas conecta os artesão aos clientes em variados nichos.
“São de aldeias terenas. Um grupo é de mulheres ceramistas e o outro são homens que trabalham com madeira. Hoje os artesanatos deles estão em 50 lojas da Tok & Stok. Também fornecemos para o Museu de Arte de São paulo. Isso é um orgulho, conseguir colocar eles nesse nível. Conseguimos exportar para o Japão e uma artesão daqui tem produtos na irlanda. Temos carteiras de mais de 60 lojistas".
Para ela ainda há um longo caminho até que o artesanato seja valorizado no Estado. Ela compara a recepção das pessoas com o Nordeste.
"O nordeste respira arte e cultura sul-mato-grossense ainda não está nesse patamar. Mas estamos no caminho. O artesanato na pandemia ressurgiu de uma forma totalmente diferente. Parece que as pessoas voltaram para dentro de si e trouxeram algumas coisas e volta. O modo de fazer dos avós, croché, por exemplo que estava quase se perdendo".
Lucimar comenta que percebe uma diferença grande entre 2003 e 2025 no ramo do artesanato e que apesar de ainda precisar melhorar, as pessoas têm procurado os artistas para presentear pessoas quando viajam.
"As pessoas procuraram muito para levar uma lembrança. Quando elas vão querem levar um pedacinho do nosso estado. Fico feliz da gente ter conquistado todo esse mercado que é muito difícil. É complicado a pessoa olhar pro artesanato e ter a dimensão dessa valorização".
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