Inspirada no sul, Remi assistiu casa que tanto sonhou acabar em chamas
Imóvel de Rio brilhante virou patrimônio afetivo da população e ficou conhecido como "Casa do Papai Noel"
De longe, o tom laranja e os telhados imponentes chamavam a atenção de quem passava pelas ruas Manoel Bento e Expedicionário Hugo Gonçalves. Há 25 anos, Remi Pivetta, 84 anos, e a esposa, Irma Nava Pivetta, de 82, viviam o sonho de ter uma casa inspirada nas residências do litoral catarinense. Apaixonados pela arquitetura da região, os dois trouxeram a ideia de um imóvel sulista para Rio Brilhante. O desenho foi feito pelo próprio Remi.
RESUMO
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Incêndio destrói casa histórica em Rio Brilhante, MS. Remi Pivetta, 84 anos, e Irma Nava Pivetta, 82, perderam a residência de dois andares, inspirada na arquitetura do litoral catarinense, após um incêndio de grandes proporções no último sábado. O imóvel, com 508 metros quadrados, era considerado ponto turístico na cidade e conhecido como "Casa do Papai Noel" devido à decoração natalina. A casa, construída em 1997 com recursos obtidos através da construção de canchas de bocha por Remi, abrigava memórias e pertences valiosos, incluindo poemas escritos pelo proprietário. O casal, que reside no local há 25 anos, recebia frequentemente amigos e familiares. A parte inferior da residência não foi atingida pelas chamas, mas o futuro da construção é incerto. A comunidade local, comovida com a perda, incentiva a reconstrução da casa, reconhecendo seu valor histórico e afetivo para a cidade.
Ao todo, são 508 metros quadrados em dois andares, mais quintal e área externa. Na parte de cima, dois quartos grandes, três salas e duas varandas. Embaixo, três quartos com suítes. A casa tinha sete banheiros.
Parecia um sábado normal de bocha e churrasco até que um incêndio de grandes proporções atingiu o telhado. Ao Lado B, ele conta como tudo aconteceu e o porquê de a casa ser tão especial. Hoje, a família chora por ter perdido não só grande parte do bem material, mas também as memórias que se perderam nas chamas.

Nascido em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Remi passou por algumas cidades até chegar a Mato Grosso do Sul. No meio do caminho, conheceu a esposa no Paraná e juntos vieram para o interior.
“Minha esposa chora. Eu não consegui chorar ainda, mas às vezes me emociono. A casa foi feita no estilo europeu. Como viajei muito, vi uma casa bonita em Santa Catarina que era assim e isso impressionou a gente. Eu tinha uma casa velha que precisava reformar. Aí um engenheiro fez uma proposta e eu mesmo fiz o desenho.”
Não demorou para que o imóvel da família Pivetta virasse patrimônio afetivo em Rio Brilhante. O motivo Remi não sabe e confessa que não tinha ideia da importância que as pessoas atribuíam à casa.
Remi é jogador de bocha desde os 16 anos e constrói canchas ou quadras de bocha há mais de 30 anos. Foi assim que conseguiu o dinheiro para erguer a casa em 1997. A inauguração aconteceu três anos depois. A fama começou quando ele decidiu enfeitar a casa para o Natal.
“Naquele tempo, ganhava muito dinheiro, viajava muito, fiz cancha em 14 cidades e quatro países. Enfeitei a casa com vários bonecos de Papai Noel, coloquei também em cima do telhado e as crianças apelidaram de ‘Casa do Papai Noel’. As pessoas faziam fila para ver os enfeites. A gente se impressionou com isso. Temos um gosto na vida e fizemos. Não sabia da importância dela antes do incêndio, que era ponto turístico".
Engajado na bocha até hoje, Remi conta que sempre recebeu amigos em casa para jogar, e não foi diferente no último sábado (6). Ele acendeu a churrasqueira e estava na quadra de bocha construída no quintal quando vizinhos avisaram sobre o incêndio. Nessa hora já era tarde. As chamas tinham consumido o telhado, e a tinta a óleo usada na fachada contribuiu para que o fogo se alastrasse.
“Eram dois pisos. A parte de baixo não queimou por causa da laje. Eu construí uma cancha e tinha um torneio, íamos assar uma carne. Fizemos fogo na churrasqueira e em cima era de madeira a parte da casa, mas nunca aconteceu nada. Então fizemos o fogo e continuamos jogando. Quando vimos, não deu pra acudir.”
Desolado, ele conta que perdeu o bem mais valioso: os poemas que escreveu e estavam no computador destruído pelo fogo. Ele é conhecido na cidade pela ligação com a cultura e o esporte. Remi escreveu o livro “A Vida em Versos” que fala sobre a essência dele e a paixão pela bocha.
“Me dói muito. Quando o pessoal vinha jogar bocha eu hospedava todo mundo, porque cabia umas 20 pessoas. tinhas várias camas. Perdi minhas memórias em fotografias, tinha relíquias, documentos. Moramos apenas eu e minha esposa, tínhamos duas filhas que se casaram e nós ficamos. Fiz grande porque os parentes moram longe e vinham até em micro-ônibus”.
Agora, o casal continua na parte de baixo da casa, que ainda está de pé, mas o futuro da construção é incerto. Remi ainda não sabe o que vai fazer. “Eu queria até não levantar como era, mas o pessoal está me cobrando. A gente nem achava que tinha tanto valor.”

Antes de construir cancha de bocha, Remi era agricultor. Ao telefone, diz que nunca teve estudo e que a casa foi fruto de muito trabalho e dedicação.
“Eu ouvi falar que a cancha era feita e fui pesquisando, fazendo meio de qualquer jeito, e vi que era melhor de taipa e pedra. Hoje é feita de asfalto, piche, depois é feito acabamento com borracha. Eu sempre joguei bocha desde os 16 anos. Onde tem gaúcho tem bocha. Comecei a jogar na grama, na estrada. A gente via o pai e a avó jogando e foi pegando gosto.”
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