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Artes

Do tamanho do mundo, quintal de Manoel abraça cidade com programas até dezembro

Paula Maciulevicius | 04/11/2016 01:00
Tal qual era a escrivaninha de Manoel. (Foto: Marina Pacheco)
Tal qual era a escrivaninha de Manoel. (Foto: Marina Pacheco)

Como prefácio da obra de Manoel, que reúne o que foi inspiração e materializa as palavras de quem queria ser lido pelas pedras, o Sesc abriu nesta quinta-feira (3), as comemorações ao centenário do poeta com a mostra "Quintal do Manoel - Experiência Sensorial - Retrato do Artista quando coisa", na Morada dos Baís, em Campo Grande. 

A ideia foi fazer do quintal - referência do tema que permeia a poesia de Manoel - uma releitura de quem fora Manoel, Bernardo, o Pantanal, as borboletas e os restos e junto de uma exposição com fotos, cartas e bilhetes, contar as peraltagens de quem descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.

Quando se comemora o centenário do poeta, o quintal de Manoel, maior que o mundo abraça a cidade. Serão oficinas, exposições, contação de histórias, ambientação poética e intervenções itinerantes, a soprar as velinhas de 100 anos tanto em Campo Grande como em Corumbá, cidades que serviram de morada para Manoel. 

Foto de Letz Spindola mostra particularidades de Manoel. (Foto: Marina Pacheco)
Foto de Letz Spindola mostra particularidades de Manoel. (Foto: Marina Pacheco)

"Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia"

Analista de cultura do Sesc Corumbá, Marcelle Saboya, conta que a organização do centenário vem desde maio, fazendo empréstimos das palavras inventadas de Manoel. "Recriamos onde ele compunha, misturando com artesanato. Pegamos referência das palavras, do rio de livros, das águas - árvore, enseada, peneira, passarinho. Esse universo que ele vivia", poetiza. 

O quintal de Manoel foi montado na área destinada às oficinas e recebeu as nuances de fazenda, lugar tão característico para o enaltecimento do simples. "É uma releitura do Pantanal que permeia cores, sabores, sentidos e sons e no piso superior, fotos e retratos da intimidade de Manoel e cartas, como ele sempre interagiu com familiares e amigos, dado a sua timidez irremediável", apresenta Marcelle.

O conceito de homem árvore se faz presente nos espaços quando galhos trazem o que era para Manoel a natureza. Parte de si. 

Há também fotos de Bernardo, o personagem que o poeta usava para contar sobre bichos. "Ele realmente existia. Só não conversava, tinha um problema na fala. E era esse homem que sempre estava com natureza, Manoel dizia que ele era o grande personagem da vida, porque sabia ser natureza enquanto gente", descreve a analista. 

As cartas do acervo - do amigo de décadas do poeta, Pedro Spindola e as fotos da filha, Letz Spindola - compõem a sala através de painéis e a decoração feita a partir do que era "resto": portas e janelas e coisas desimportantes. 

"O conheci em 1982, foram 34 anos de amizade. De cartas eram mais coisas sobre projetos, o que ele escrevia e queria, mas não eram correspondências. Até porque nossa convivência era ali, 10 anos conversando todos os dias por 1h nas caminhadas", recorda o jornalista Pedro Spindola.

No quintal, poesia e Pantanal se encontram na exposição. (Foto: Marina Pacheco)
No quintal, poesia e Pantanal se encontram na exposição. (Foto: Marina Pacheco)
Ilustrações, cartas e bilhetes que até então não eram conhecidas do público. (Foto: Marina Pacheco)
Ilustrações, cartas e bilhetes que até então não eram conhecidas do público. (Foto: Marina Pacheco)
"Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica." (Foto: Marina Pacheco)
"Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças! Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens. Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar. A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra. Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica." (Foto: Marina Pacheco)
Bernardo, homem real que personificou a natureza na poesia de Manoel. (Foto: Marina Pacheco)
Bernardo, homem real que personificou a natureza na poesia de Manoel. (Foto: Marina Pacheco)

"O nada destes nadifúndios não alude ao infinito menor
de ninguém."

Diretora regional do Sesc, Regina Ferro, enfatizou que a programação montada foi pensando dentro da arte manoelina. "Que a população possa se deixar tocar por Manoel, pela sua obra e personagens, de forma que possam vivenciar sua poesia. É uma honra para nós um poeta deste porte ter esse berço, sul-mato-grossense", frisou Regina.

E no início da semana, os altos da Avenida Afonso Pena ganharam a feição da poesia, com painéis que em prosa e versos contam a pelas palavras de quem pensava renovar o homem usando borboletas, a simplicidade de Manoel. A programação é gratuita e vai até dezembro.

Exposição

Quintal do Manoel - Experiência Sensorial - Retrato do Artista Quando Coisa
Público em geral
A partir de 3/11 das 14h às 21h
Sesc Morada dos Baís
Pequenas "inutilezas", cartas, desenhos, correspondências e fotos. Registros originais de Manoel de Barros expostos pela primeira vez ao público, acompanhado de um ensaio fotográfico que mostra parte do cotidiano de Manoel dentro de sua casa.

Contação de Histórias

"Infância"
Público em geral
Dias 5, 12, 19 e 26/11 e 03 e 10/12 às 16h
Sesc Morada dos Baís
Circuito de histórias: Quem é esse tal de Manoel? Com declamações de poesias, apresentação de personagens de Manoel de Barros.

Ambientação poética 

"O guardador de águas"
Novembro e dezembro
Todas as unidades do Sesc contarão com lousa interativa e um livro de Manoel que vão compor um ambiente interativo com colaboradores e visitantes.  

Cronologia da Desbiografia de Manoel de Barros

"O fazendo de amanhecer"
Novembro e dezembro
Altos da Avenida Afonso Pena
Exposição ao ar livre que combina traços e fragmentos de poesias dos principais livros do poeta realizando uma cronologia poética ilustrada. 

Instalação Leia-se

"O livros das Ignorãças"
Novembro e dezembro
Locais improváveis em Campo Grande para ler Manoel de Barros. Todo lugar é perfeito. A instalação cria ambientes de leitura inovadores, com poltronas e livros do poeta espalhados em pontos estratégicos da cidade: Sesc, todos os shoppings, Comper Jardim dos Estados e da Euler, Bar do Zé, UFMS e Feira Central. 

Semana do autorretrato falado

O encerramento da programação acelera a diversidade colocando oficina, exibição de documentários e mesa-redonda ao redor de Manoel. Nos dias 1º a 3 de dezembro. Programação completa no site

"Quando eu crescer, eu vou ficar criança".

"Só uso a palavra para compor meus silêncios". (Foto: Marina Pacheco)
"Só uso a palavra para compor meus silêncios". (Foto: Marina Pacheco)
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