Fashion Black Week marca força do movimento negro com moda, arte e concurso
Evento que começou nesta segunda segue até o dia 24 de novembro com uma variedade de atrações gratuitas
Começou nesta segunda e vai até o dia 24 de novembro o 1º Fashion Black Week de Campo Grande. Muito mais do que um festival dedicado aos negros, o evento cria um ambiente contra a desigualdade e de busca por reconhecimento, respeito e força da identidade afro usando moda, música, dança, arte e concursos de beleza onde o padrão é respeitar a essência.
Serão dias de desfiles, apresentações culturais, exposição, produções artísticas e um bate-papo sobre autoconhecimento. Um dos organizadores é Rudy Nolasco, que promove um concurso de beleza negra na cidade há 11 anos. “Mas eu queria um festival inteiro dedicado aos negros, para mostrar a beleza que há em todo o trabalho feito por eles e que, infelizmente, ainda sofre para garantir um espaço de destaque na sociedade por causa do racismo e a desigualdade”.
Rudy é cabeleireiro e há anos observa a dificuldade de homens e mulheres negras com a própria origem, principalmente, no quesito cabelo.
“Eu vejo em escolas, meninas ainda crianças que não querem manter os cachos em decorrência do preconceito, do bullyng. E aos poucos a gente vai fazendo um trabalho mostrando que o cabelo tem que ser do jeito que essa criança quiser, seja com cachos ou sem cachos, alisamento não pode ser uma imposição”. Por isso, durante a programação, haverá cursos de turbantes, cuidados com os cabelos e produções de moda afro.
Aos 48 anos, a professora Maia Lima decidiu desfilar pela primeira vez com objetivo de dar às mãos ao movimento e bater de frente o preconceito. “Sou pedagoga e quero me formar em História. Meu projeto é trabalhar ao lado desse movimento como mulher, professora e ser humano que luta por respeito. Por isso resolvi desfilar também”.
Com a chegada do público ao evento, a artesã Clarice Silva Lima, de 61 anos esbanjava sorrisos. Ela é uma das expositoras do festival que além de brincos, pulseiras e anéis feitos a mãos, achou espaço para mostrar o seu talento com a cerâmica, trabalho feito desde a adolescência em Corguinho. “Trabalho com arte há muitos anos, desde que me entendo por gente, a cerâmica, o contato com o barro é uma energia muito forte e as máscaras fazem parte da cultura afro, por representarem nossas características”, explica a artesã.
Na noite de ontem, um dos primeiros desfiles foi da estilista Tiana Souza, de 72 anos, que foi matéria no Lado B depois de realizar o sonho de formar em Moda. Mas depois de ter sido chamada para um programa de televisão, muita gente resolveu usar da exposição para se aproveitar da sua nova coleção. “Eu queria lançar minhas peças, mas as pessoas queriam me cobrar achando que eu havia ficado rica. Quando descobriram que eu não tenho dinheiro, começaram a fechar as portas”, lamenta.
Ao saber da história, o organizador do festival convidou Tiana para abrir a noite de desfiles e lançar sua primeira coleção em homenagem ao Pantanal. Com peças sobre rios, cachoeiras, aves e sutilezas pantaneiras, a estilista vestiu mulheres negras que entram na passarela representando a força da mulher negra e a produção autoral sul-mato-grossense.
Para Valdenira Dias Evangelista, de 42 anos, uma conquista que não tem preço. “Eu fico muito feliz de participar e dar força a todas essas mulheres. Porque quando eu ia ter a oportunidade de estar em uma passarela? Não sou o estereótipo que a moda atual quer. Então esse festival veio para mostrar que a gente existe, parece até cansativo falar isso, mas gente consome e a gente existe, precisamos lutar por isso todos os dias”.
O festival continua até o dia 24 de novembro, das 13h às 22h, na Plataforma Cultural, que fica na Avenida Calógeras esquina com Mato Grosso. A entrada é um 1 quilo de alimento não perecível que será doado à comunidades carentes.
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