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Artes

Vagabundos uma ova! O que falta é política de cultura, dizem artistas no Iphan

Naiane Mesquita | 21/05/2016 07:43
Mauro Guimarães estuda há 20 anos as técnicas circenses e ainda dá aula em um projeto para crianças em situação de vulnerabilidade social (Foto: Fernando Antunes)
Mauro Guimarães estuda há 20 anos as técnicas circenses e ainda dá aula em um projeto para crianças em situação de vulnerabilidade social (Foto: Fernando Antunes)

Quando a primeira notícia sobre a ocupação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) foi divulgada no site do Campo Grande News, não faltou leitor acusando os artistas de “desocupados” ou “vagabundos”. Empresas milionárias podem ganhar incentivo fiscal, mas quando artista cobra apoio do governo...Estranha a interpretação que muita gente faz de profissionais que projetam, buscam recursos, executam espetáculos e ainda atuam diretamente na formação artística de crianças e adultos na cidade.

Um dos grupos de teatro mais expressivos da Capital, o Teatro Imaginário Maracangalha acumula produções premiadas nacionalmente e que tratam de questões importantes para a formação do sul-mato-grossense, como o genocídio indígena. Do outro lado, ainda realizam eventos privados para grandes empresas, cursos e o tradicional Sarobá, festa popular, de rua, onde é possível observar a exposição de vários artistas.

Artistas durante a ocupação do Iphan (Foto: Fernando Antunes)
Artistas durante a ocupação do Iphan (Foto: Fernando Antunes)

O diretor do grupo, Fernando Cruz, 53 anos, afirma que as reações da população a queda do Ministério da Cultura e que motivou a ocupação são naturais em um País onde as políticas públicas não são voltadas efetivamente para a produção artística. “Isso é um indicador da falta de política pública para a cultura, as pessoas crescem ignorantes, sem acesso a produção cultural de qualidade. Elas ficam refém da televisão, da mídia nociva”, ressalta.

Trabalhando contiuamente e vivendo de arte há 30 anos, ele conta que assim como todo mundo paga IPTU, água, luz, telefone. “Tudo isso eu faço e mantenho com a minha arte. O que esse governo está tirando ainda mais com a queda do Ministério da Cultura é o acesso das pessoas a esse direito. A população precisa se ater aos políticos, que em grande maioria, estão envoltos em corrupção”, diz, ressaltando que apenas neste ano, O Teatro Maracangalha tem quatro espetáculos e duas intervenções no repertório. “Ainda fazemos eventos públicos e gratuitos, ou seja, mesmo quando não estou ganhando nada, ainda nos doamos para a população”, frisa.

Outro artista, Mauro Guimarães, 39 anos, do grupo Circo do Mato, diz que trabalha, e muito. “Estamos com a montagem de dois espetáculos e ainda mantemos um projeto de formação no CICA (Centro de Integração da Criança e do Adolescente), com crianças em situação de vulnerabilidade social”, aponta.

Fernanda atua no teatro e é presidente do Fórum Estadual de Cultura
Fernanda atua no teatro e é presidente do Fórum Estadual de Cultura
Fernando Cruz é diretor do Teatro Imaginário Maracangalha e sobrevive da arte há 30 anos
Fernando Cruz é diretor do Teatro Imaginário Maracangalha e sobrevive da arte há 30 anos

Mauro concorda com Fernando ao dizer que as ofensas partem de uma população que não tem acesso à cultura. “Eu fiz duas escolas de circo e uma faculdade de artes cênicas. Precisei estudar muito para chegar aonde estou. O problema é que falta cultura, nem todo mundo tem acesso, o que se tem é a cultura de massa. Vivo há 20 anos do meu trabalho com a cultura, do circo, do teatro, pago meu aluguel, minhas contas, mantemos nosso espaço”, acredita.

Nem mesmo com a falta de investimentos do setor privado e do calote que os artistas de Campo Grande receberam do município referente a um edital em 2015, as ações foram paralisadas. Apesar de poucas, elas acontecem. Peças de teatro, apresentações de música, coletivos encontraram um meio de continuar vivos e levar a arte para a população.

“A gente entende que esse discurso de ódio está disseminado. Que acontece em nível nacional, contra artistas que antes eram valorizados, como Chico Buarque, Letícia Sabatella. Recebemos isso com tristeza, mas entendemos que no Mato Grosso do Sul é mais difícil, que a cultura bovina aqui é muito forte. Mas , temos muitos exemplos, como o maestro Eduardo Martinelli, que precisa ensaiar 14 horas por dia para realizar um bom trabalho. Muitos são assim”, afirma Fernanda Teixeira, presidente do Fórum Estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul.

Artistas durante a ocupação do Iphan chamam atenção para a queda da importância da cultura para o governo (Foto: Fernando Antunes)
Artistas durante a ocupação do Iphan chamam atenção para a queda da importância da cultura para o governo (Foto: Fernando Antunes)

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