ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JUNHO, SEGUNDA  23    CAMPO GRANDE 16º

Comportamento

Aos 80 anos, Elleá decidiu se tornar DJ e já tem agenda cheia de eventos

Objetivo é ser exemplo de persistência para os netos e tirar pessoal da cadeira para dançar

Por Natália Olliver | 23/06/2025 06:52

Com fone na mão e um sorriso largo, Elleá Rocha Bertoli, mexe nos botões da mesa de mixagem como quem já nasceu sabendo. Aos 80 anos a vovó quis ser DJ. O motivo? Tirar o pessoal da cadeira, principalmente os 60+, e mostrar aos netos que tudo é possível, não importa a idade. O novo hobby começou em fevereiro deste ano e hoje ela já tem até agenda fechada para eventos.

A ideia veio de repente, como um estalo. “Preciso fazer algo, quero ser DJ!”, disse ao marido Wagner Bertoli, de 81. Cansada de passar os dias em frente à televisão assistindo todos os filmes e séries existentes, Elleá meteu as caras e foi atrás de um professor. O marido, apesar de nunca ter ouvido alguém dizer que gostaria de seguir nesse ramo, apoiou de cara.

Aos 80 anos, Elleá decidiu se tornar DJ e já tem agenda cheia de eventos

Foi como uma brincadeira se tornou realidade, eu ficava só assistindo, achei que eu ia ficar velha logo. Sempre fui apaixonada por música, a gente dançava todo sábado em um lugar aqui que fechou na pandemia. Eu nunca pude fazer aula de piano, por exemplo, a gente era humilde, tinha os filhos homens que eram prioridade. Naquele tempo os homens que precisavam estudar. Aí pessoa chegava em mim e mandava eu assistir tal filme e eu falava que já tinha visto, era sempre assim. Não aguentava mais”.

Quando ela enfim achou um professor e foi ter as primeiras aulas, levou um susto e por alguns minutos achou que não seria capaz de dominar os botões. Para surpresa dela e de toda a família, o desafio a deixou mais motivada e ainda com mais vontade de saber tocar.

“Quando cheguei na casa dele e deparei com tudo isso de botão e coisa, quase me deu vontade de voltar, pensei que se eu voltasse não ia ser exemplo para os meus netos. Tenho 7. Eles têm que entender que quando eles querem fazer alguma coisa, têm que lutar, não pode ter medo dos botões. Eu enfrentei. Não me interessa agora o dinheiro, me interessa fazer as pessoas levantarem, as pessoas de idade, não só ficarem assistindo série. Quero que elas sintam no corpo que ainda podem dançar”.

O apoio do marido foi pilar essencial para que ela não desistisse. Juntos há 56 anos, ela conta que ele é o maior incentivador dela. “Meu marido é muito companheiro, ele acreditou que eu seria DJ. Ele foi lá e comprou de surpresa uma mesa de DJ pra mim e minha filha me deu um notebook”.

Elleá é cuiabana, mas mora em Campo Grande há 50 anos. Ela foi servidora pública em Cuiabá. Após engravidar, deixou o cargo e foi trabalhar como representante de vendas de uma gráfica. O trabalho foi feito por 25 anos e com gosto. Na pandemia tudo mudou e ela ficou no sofá. Sem conseguir ficar parada, antes de ser DJ ela encarou o universo universitário e fez um curso de design de interiores pelo Senac.

“Meu marido me acordava às 5h30, ele que era meu despertador. Eu nunca faltei porque adorava aquele ambiente, era todo mundo jovem. Nunca me senti deslocada, pelo contrário, eles me acolheram tão bem que somos amigos, fiz até café da manhã aqui em casa”.

Aos 80 anos, Elleá decidiu se tornar DJ e já tem agenda cheia de eventos
Apoio do marido foi essensical para a DJ seguir o caminho que imaginou. (Foto: Marcos Maluf)

Alto astral, ela conta que para chegar aos 80 anos com saúde é preciso não deixar a peteca cair. Para ela, um dos remédios é a alegria e a música.

“Sempre fui assim, feliz. Eu chego nessa idade igual aos outros. Eu só não gosto de reclamar. Eu já botei prótese no joelho, tenho uma dor no lado do quadril, mas não deixo isso me afetar. Eu danço! Quando danço estou nas nuvens. Quando eu ia para as festas e dançava, meu marido falava pra ir embora e meu pé doía. Na hora de dançar não”.

Sobre o estilo musical, Elleá conta que toca quase de tudo, exceto funk, por não gostar, mas que se pedirem ela arrisca.

“Não sou chegado, tem sax dos anos 70/80 e 90, tenho várias playlists, uma mais batida, outra moderada. O Marcelo, meu professor, fez um curso e ele me ajudou muito. Quando eu errava, ele não chamava minha atenção, ele dizia ‘vamos fazer melhor?’. Aí comecei. As playlists da minha filha que fez, ela toca também, de tanto me ver ela começou. As pessoas me dão toda força e toda energia”.

Quando questionada sobre a longevidade do casamento com o marido, ela responde que o segredo é a compreensão, entendimento, aceitação e principalmente o amor.

Wagner comenta que para ele um dos pontos-chave para um casamento tranquilo é enxergar o outro.

“Eu brinco muito com a frase que diz: eu prefiro ser feliz do que ter razão, mas é verdade. Você tem que olhar para o outro com intuito de somar, não de diminuir. Foi a primeira vez na vida que escutei que alguém queria ser DJ. Foi uma surpresa muito grande, mas acho que as vontades das pessoas é o que dá ânimo na vida, e acho que a vida tem que ser animada”.

Em um dos vídeos gravados pela família, ele aparece dançando no fundo. Wagner também era servidor público e para ele os botões estão por conta da esposa.

“Gosto de dançar, não parece, mas eu fui passista de escola de samba, fui aprender sambar para aprender ser passista. Eu e ela dançamos muito. Hoje eu faço um serviço de carregador, carrego equipamento e ajudo quando é possível. Eu não entendo desse monte de botão, deixa com ela”.

Aos 80 anos, Elleá decidiu se tornar DJ e já tem agenda cheia de eventos
Elleá conta que aprender novas técnicas é o próximo passo. (Foto: Marcos Maluf)

Agora o próximo passo para Elleá é conseguir mixar. Enquanto isso, ela vai praticando nas festas de aniversários. A DJ faz questão de dar de presente os serviços aos colegas e amigos.

O professor Marcelo Natureza comenta que ensinar ela não foi diferente de ensinar para uma pessoa mais nova, que não tinha o conhecimento também dessa área.

“Ela aprendeu de forma rápida uma coisa totalmente nova, e teve que mexer no computador, uma aparelhagem que ela nunca tinha visto na vida, botões, nomes que ela nunca imaginava, e ela meteu a cara e foi. Os filhos dela, os maridos super incentivaram ela, deram de presente um equipamento, um computador novo e é muito legal, é muito legal ver isso e é uma coisa que eu faço questão de compartilhar também com todo mundo porque é uma lição de vida isso. A Elleá é um ensinamento para todo mundo”.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias