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Comportamento

Após perder filho para o suicídio, mãe ainda ouviu que “ele foi para o inferno”

Valéria perdeu o filho para a depressão, mas achou conforto na fé e hoje luta para casar na igreja

Por Clayton Neves | 29/04/2025 06:27
Após perder filho para o suicídio, mãe ainda ouviu que “ele foi para o inferno”
Igor era um jovem estudante cheio de vida. Atleta de judô, tinha sonhos grandes e se preparava para lutar em Goiás representando Mato Grosso do Sul.

Quando a vida desmoronou diante dos seus olhos, Valéria Giolo Yamaura, de 40 anos, achou que nunca mais conseguiria se levantar. Em outubro de 2023, a publicitária viveu a tragédia que nenhuma mãe deveria viver e para a qual nenhuma delas está preparada. Aos 17 anos, o filho mais velho, Igor, foi vencido pela depressão.

Igor era um jovem estudante cheio de vida. Atleta de judô, tinha sonhos grandes e se preparava para lutar em Goiás representando Mato Grosso do Sul. No entanto, no início de 2020 a pandemia mudou tudo. As academias fecharam, as aulas viraram uma tela de computador, e a esperança pareceu se apagar um pouco a cada dia.

Após perder filho para o suicídio, mãe ainda ouviu que “ele foi para o inferno”
Valéria, o marido Yuri, e os filhos Igor (de óculos), Italo e Isa, em foto tirada antes da partida do adolescente. (Foto: Arquivo Pessoal)

Igor passou o ano recluso, tentando se adaptar ao novo momento. Em 2021, sinais de tristeza mais profunda começaram a aparecer. Um término de namoro e a saída definitiva do judô por conta de uma lesão fizeram com quem a batalha invisível se agravasse.

Em meio à luta com o filho, em 2022 Valéria perdeu a mãe em junho e o pai em setembro, ambos suporte na vida dela e de Igor. E mesmo assim, ela seguiu, tentando manter o filho de pé.

Um segundo término de namoro e novas crises fizeram tudo seguir parano lado que a mãe mais temia. No dia 9 de outubro de 2023 Igor cometeu suicídio.

"Minha vida acabou ali. Eu não sabia se teria forças para continuar. Você perder um filho é a coisa mais desesperadora da vida. É uma dor que não tem nome, não tem explicação", desabafa Valéria.

O sofrimento foi ainda mais pesado diante da falta de apoio. "Teve gente que disse que meu filho não teve salvação, que ele tinha ido para o inferno. Ouvi absurdos que me dilaceraram ainda mais", recorda.

Após perder filho para o suicídio, mãe ainda ouviu que “ele foi para o inferno”
Na igreja católica, Valéria encontrou conforto para lidar com a maior tragédia que enfrentou. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi na fé católica que Valéria encontrou um lugar para chorar e, aos poucos, para se reerguer. A Igreja Nossa Senhora de Fátima, em Campo Grande, a acolheu no momento em que ela mais precisava.

"Uma amiga marcou a missa de sétimo dia do Igor lá. Eu me agarrei em Nossa Senhora, pedi força, porque queria ir embora junto com ele. Mas eu tinha outros dois filhos, o Italo e a Isa, e sabia que precisava ficar", detalha.

Na igreja, Valéria pôde sofrer sem julgamentos. "Lá, eu podia chorar sem vergonha, sem precisar me explicar. Os freis franciscanos foram o colo que eu precisava, eles nunca disseram que meu filho estava condenado. Pelo contrário, disseram que ele estava doente, que a misericórdia de Deus era maior que tudo", pontua.

O acolhimento foi tão profundo que Valéria passou a frequentar a igreja diariamente. Se sentiu abraçada pela fé que ela desconhecia antes de da tragédia. Na nova fase, decidiu dar um passo maior: fazer catequese e entrar oficialmente para a Igreja Católica.

Após perder filho para o suicídio, mãe ainda ouviu que “ele foi para o inferno”
No ano passado, família foi para Aparecida do Norte agradecer. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com o apoio dos freis, Valéria e o marido, Yuri, com quem já vive há 18 anos, foram batizados no dia 22 de abril. "Foi um dia de recomeço para nós dois. O Yuri também mudou muito, ele não acreditava em algo específico e hoje participa da missa, caminha comigo na fé", explica.

Agora, ela sonha em completar o ciclo. Quer se casar na Igreja e receber o sacramento do Matrimônio, dessa vez diante de Deus.

No entanto, o casamento religioso, mesmo sendo simples, tem custos. Taxa da igreja, vestido, a aliança, pequenos detalhes que somam um valor além do que o casal imaginava.

Para ajudar nas despesas, Valéria criou uma rifa para levantar o valor necessário. O prêmio será um celular." Cada escolha é feita com muito carinho e renúncia. Quero fazer o casamento, mas sei que não dá para ter tudo, então vou fazendo o possível", diz.

Após perder filho para o suicídio, mãe ainda ouviu que “ele foi para o inferno”
Igor se foi aos 17 anos, vencido pela depressão

Até agora, ela conseguiu arrecadar cerca de 28% da meta. "Quero fazer uma cerimônia simples, na capela mesmo, com vestido barato e sem luxo. O que importa é a bênção", afirma. A aliança de ouro ainda é um sonho distante, mas Valéria acredita que o essencial já existe: o amor, a fé e a certeza de que, apesar da dor que nunca vai embora completamente, ela continua caminhando.

"Eu achei que nunca mais ia sorrir. Mas Deus foi costurando meu coração. Hoje, eu luto todos os dias para honrar o Igor, para cuidar da minha família, e para seguir. A fé salvou a minha vida e quero retribuir isso ao mundo me doando sempre que puder", finaliza.

Quem quiser ajudar o casal a realizar esse sonho, pode contribuir pela internet (clique aqui)

Ajuda - O Campo Grande News aproveita para informar que na Capital, o GAV (Grupo Amor Vida) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone 0800-750-5554. Ligue sempre que precisar! O horário de funcionamento é das 7h às 23h, inclusive, sábados, domingos e feriados.

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