Réu que esfaqueou taxista 38 vezes em Portugal enfrenta novo julgamento em MS
Weslley Ribeiro Primo é acusado de matar um taxista em Lisboa, mas alega legítima defesa
Onze anos após esfaquear 38 vezes até a morte um taxista em Portugal, Weslley Ribeiro Primo passa pelo segundo júri popular em Campo Grande nesta terça-feira (29). Em 2017, ele foi absolvido pelo conselho de sentença, que considerou que o réu agiu em legítima defesa. Em janeiro de 2025, o STF (Supremo Tribunal Federal) anulou a absolvição e marcar novo julgamento, por considerar a decisão do júri contrária às provas dos autos.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Em Campo Grande, Weslley Ribeiro Primo enfrenta seu segundo júri popular pelo assassinato de um taxista em Portugal, ocorrido em 2014. Acusado de esfaquear a vítima 38 vezes, Primo foi absolvido em 2017 por legítima defesa, mas o Supremo Tribunal Federal anulou a decisão em 2025, determinando novo julgamento. Residente no Pará, Primo viajou para a capital sul-mato-grossense para o julgamento. O crime ocorreu em Lisboa, onde o réu residia, mas ele fugiu para o Brasil após o ocorrido. Primo alega ter agido em legítima defesa após sofrer assédio sexual da vítima. A promotoria contesta a versão, apontando a violência dos golpes e a presença de sêmen na vítima. O júri, sem testemunhas presenciais, baseia-se no depoimento do réu e nas provas periciais. A defesa argumenta que o excesso de golpes decorreu da luta corporal. O julgamento, realizado no Brasil por cooperação internacional e dificuldades na extradição, definirá o futuro de Weslley Ribeiro Primo.
Na sexta-feira (25), Weslley Ribeiro Primo viajou 12 horas para chegar do Pará, onde mora com esposa e filhos, e ser julgado em Campo Grande pela segunda vez. Ele é acusado de matar cruelmente Virgílio da Silva Cabral, taxista de 66 anos, no dia 4 de maio de 2014, em Lisboa, onde morava desde os 9 anos.
O júri acontece aqui em Campo Grande porque, ainda em 2014, Weslley deixou o país europeu e voltou para o local onde nasceu, no Bairro Aero Rancho, onde foi preso em 27 de julho de 2015. Na manhã de hoje, familiares do réu que ainda residem na Capital e estudantes de Direito acompanharam o julgamento no Fórum de Campo Grande.
Como nenhuma das partes arrolou testemunhas, o julgamento começou pelo depoimento do réu. Ao juiz Carlos Alberto Garcete, Weslley Ribeiro Primo reiterou a tese apresentada desde 2017: de que matou por legítima defesa. “Eu agi para me defender, só queria sair dali. Não pensei em tirar a vida dele, não agi com crueldade. Eu só queria sair de lá, mais nada”. O Ministério Público pede condenação pelo crime de homicídio culposo qualificado por meio cruel. Ainda nesta terça-feira (29), os jurados ouvirão as teses defendidas pela defesa e pela acusação, para decidir se Weslley Ribeiro Primo deve ser absolvido ou condenado
A vítima era taxista, que costumava fazer corridas com Weslly, seus amigos e familiares. Assim, eles desenvolveram uma relação de amizade. Segundo o acusado, Virgílio insistiu para que fossem juntos a uma balada naquela noite. Contudo, antes da festa, a vítima disse que precisaria passar em casa para trocar de roupa.
“Eu me sentei no sofá, ele fechou a porta, pegou vinho e veio para o meu lado com a braguilha aberta e passando a mão na minha perna. Eu falei que não queria e fui em direção à porta, mas estava trancada. Ele falou que iria pegar a chave, mas veio com uma faca na mão dizendo que ia ter relação sexual comigo. Pegou no meu pescoço, me enforcando, e me cutucando com a faca”, afirma o réu.

Weslley Primo alega que as 38 facadas foram desferidas durante luta corporal com Virgílio da Silva Cabral. “Foram tantos golpes porque estávamos nos batendo e ele era mais forte e mais pesado que eu. Eu tentava tirar ele de cima e a faca pegava nele e em mim. Nós caímos um em cima do outro, o peso fazia pressão”.
O idoso foi atingido no couro cabeludo, face, pescoço, tórax, abdômen e ombro direito e acabou com ferimentos na medula vertebral, veia jugular e artéria subclavicular, o que o levou à morte. A Promotora de Justiça Lívia Carla Guadanhim Bariani destacou que os peritos de Portugal encontraram sêmen na cueca e no ânus da vítima. O réu nega qualquer atividade sexual.
Quando percebeu que Virgílio já não tinha forças para levantar, Weslley relata que pegou um cobertor para cobrir a vítima, que reclamava de frio, e foi embora. “Enrolei a faca numa toalha, joguei na beira de um rio e fui para casa. Troquei de roupa e joguei as peças ensanguentadas no lixo”. O acusado afirma ainda que não procurou a polícia portuguesa porque teve medo e decidiu viajar a Campo Grande pelo mesmo motivo.

Imbróglio judicial - Em 2017, o caso foi julgado na Capital em processo inédito de cooperação internacional. À época, todas as oitivas foram feitas em Portugal, por meio de vídeo conferência. Hoje, nenhuma testemunha foi convocada. O júri foi feito no Brasil principalmente por dois fatores: a compatibilidade entre os dois códigos penais e problemas da Justiça portuguesa em conseguir um acordo a extradição do acusado.
A absolvição, determinada pelos jurados, foi anulada pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) e o caso foi parar, então, no STF. Foram muitos recursos à Corte até que, em 08 de janeiro de 2025, o STF negou habeas corpus impetrado pela defesa, fazendo com que prevalecesse a decisão de anulação do júri de 2017. A Corte julgou que a decisão tomada pelo júri campocontrária às provas dos autos.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.