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Capital

Ineditismo de julgamento por crime em Portugal marcou até juiz em júri

Rafael Ribeiro e Marcus Moura | 08/06/2017 11:48
Ineditismo de julgamento por crime em Portugal marcou até juiz em júri
Justiça brasileira negou extradição de Weslley Primo e processo foi conduzido no Brasil (Foto: André Bittar)

Na abertura do julgamento que irá decidir sobre o acusado de matar um idoso de 66 anos a facadas, em Portugal, na manhã desta quinta-feira (8), o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida, responsável pelos trabalhos, destacou o fato de ser a primeira vez que conduziria o júri de um crime cometido em outro País.

O ineditismo do caso foi o responsável por encher a plateia do Fórum de Campo Grande. Advogados e estudantes de direito lotaram o local. Muitos ficaram de pé para acompanhar as atividades.

“É um julgamento bem excepcional”, disse Almeida, na abertura dos trabalhos. “Vários fatores contribuíram para facilitar os trâmites do processo, a internet, que possibilita uma comunicação muito rápida.”


Todas as oitivas do caso foram feitas em Portugal, por meio de vídeo conferência. O júri está sendo feito por alguns fatores: a compatibilidade entre os dois códigos penais e problemas da Justiça portuguesa em conseguir um acordo a extradição do acusado. “Mais de 10 anos fazendo tribunal de Júri e essa é a primeira vez que eu me deparo com caso como esse”, disse.

O caso -Weslley Ribeiro Primo, 22 anos, é indiciado pelo assassinato de Virgílio da Silva Cabral, 66 anos, praticado no dia 3 de maio de 2014, em Lisboa. Dias após o crime, o acusado deixou o país lusitano e voltou para o local onde nasceu, no Bairro Aero Rancho (Zona Sul de Campo Grande). Ele só foi preso no ano seguinte ao ocorrido. 

Sempre de cabeça baixa durante o júri, sem a levantar sequer para responder as perguntas feitas pelo juiz, Primo reiterou a versão dada anteriormente por sua defesa de que se trata de um crime de legítima defesa.

O momento em que explica o ocorrido foi marcado pela única pausa durante o júri. Já que Primo chora ao contar os detalhes do crime. “Eu entrei em choque pelo que aconteceu”, disse.

Em sua oitiva, o acusado explicou que conhecia a vítima há cerca de dois meses, ele e seus amigos sempre chamavam o taxista de 66 anos para fazer corridas quando saiam para aproveitar a noite na Capital portuguesa.

No dia do crime a vítima, por estar de folga, convidou Primo para sair. O ponto de encontro foi uma praça em Lisboa, eles iriam encontrar outros amigos do acusado, porém o taxista disse que precisava passar em casa para trocar de roupa.

Na casa, o taxista teria começado a lhe assediar, passando a mão nas pernas. Primo conta que recusou a investida e então foi ameaçado com uma faca pelo taxista, momento em que os dois entraram em vias de fato.

Mesmo com as lágrimas, a parte da oitiva em que explicou a dinâmica do crime gerou controvérsia na acusação. Primo disse que a maioria das 38 facadas que atingiram o taxista ocorreram enquanto ambos brigavam. Mas a perícia apontou que os cortes são fundos o suficiente para contrariar essa alegação.

“Eu vim embora (de Portugal) correndo, com medo, mas também sem perspectiva alguma por lá. Por isso voltei”, alegou o acusado, na oitiva. “Não me apresentei em Portugal também por isso, medo de não conhecer as leis do país.”


A perícia encontrou fluídos corporais na vítima, mas o acusado reiterou que não tinha relações homossexuais e que era casado, inclusive com um filho recém-nascido de menos de 1 ano de um relacionamento anterior ao casamento.

Os trabalhos no Fórum de Campo Grande vão continuar até o período da tarde, quando deve ser dado o veredicto e a pena do acusado, caso ele seja condenado.

*Matéria editada às 13:06 para acréscimo de informações.

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