Ator indígena usa desfile no RJ para pedir água para aldeia de MS

Com as palavras “preserve” e “água” escritas no peito, o ator indígena Florismar de Souza Vargas usou o desfile do estilista Guilherme Tavares, no Rio de Janeiro, para pedir o básico para a aldeia Jaguapiru, em Dourados. O local foi sua casa por 31 anos e ainda é lar da mãe, Ana Cristina de Souza Vargas. Indignado com a falta de água no local e com a situação que se estende há anos, o douradense usou a passarela como um pedido silencioso.

O estilista é conhecido por vestir artistas famosos e usar a moda para levantar causas ambientais, além de criar peças com material reciclado. O desfile foi realizado para o lançamento da coleção “Fauna GT” e aconteceu na Reserva Florestal da Mata Atlântica de Petrópolis.

A ideia surgiu após um áudio da mãe, que pediu ajuda para levar água para a aldeia, tanto para a Jaguapiru quanto para a Bororó. “A gente está precisando de água, água nas escolas também. Não tem aqui na aldeia. Esta semana voltei às aulas na escola porque não tinha. Então, a gente queria ver se não tem um conhecido seu aí que possa, sei lá, fazer uma vaquinha online. Não precisa ser em dinheiro, não. Pode ser em água.”

Ana é coordenadora de uma escola dentro da aldeia. O convite para o desfile de Guilherme aconteceu depois que Floris, como é conhecido, postou nas redes sociais sobre a situação da aldeia.

“Eu cheguei nele [Guilherme] e falei: eu e minha sobrinha, Camila Matos, que também é moradora da Jaguapiru, podemos usar a passarela para fazer um protesto a favor da minha aldeia? Ele aceitou. Nossa comunidade está passando uma dificuldade enorme pela falta de água e eu preciso que essa mensagem chegue.”

Na passarela, a natureza foi protagonista. Os modelos usaram plantas nativas da Mata Atlântica e estampas animal print criadas pelo artista Gilson Cupertino. Os indígenas estavam com o corpo pintado em grafismos, tanga e espada de São Jorge nas mãos.

Desde novembro de 2024 – quando o assunto tomou maiores proporções – ele, assim como Dandara Queiroz e outros atores indígenas, se manifestaram. Antes de ir para o Rio, o ator foi catador de maçãs, lavador de calçada e descarregador de tijolos. Ele foi o primeiro indígena do Estado a integrar a Escola de Atores Wolf Maya, no Rio de Janeiro. Seu último papel foi na novela das 21h da Globo, “Mania de Você”. O indígena também participou de clipes de artistas como Matuê.

"Foi um pesadelo, praticamente, porque desde criança a gente tá ali na luta pelos nossos direitos. Eu acompanhei tudo de longe com o coração apertado porque nunca vi isso em 31 anos que eu morava na aldeia. Nunca me passou pela cabeça que eu veria uma situação dessa, que eu só via lá pelas retomadas no Amazonas, com os garimpeiros. Porque há muito tempo já estamos sofrendo com a falta de água.”

 No final do ano passado, o governo de Mato Grosso do Sul anunciou um plano para solucionar a falta crônica de água nas aldeias Jaguapiru e Bororó, localizadas na Reserva Indígena de Dourados.

Conforme publicado pelo Campo Grande News, que acompanhou toda a situação, o projeto previa a perfuração de dois poços artesianos, com conclusão estimada para 15 de março de 2025.

Enquanto as obras estivessem em andamento, o abastecimento seria mantido por caminhões-pipa fornecidos pelo Estado. Em março de 2025, Dandara Queiroz enfatizou a preocupação e a urgência com o assunto novamente na redes sociais.

Para tentar solucionar parte do problema da falta de água, o Núcleo de Práticas Jurídicas da Faculdade Anhanguera de Dourados iniciou uma campanha para doar água potável à comunidade. As doações serão recebidas até o dia 15 de abril, e as garrafas podem ser entregues na própria faculdade.

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