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Comportamento

Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos

Maria Metello foi homenageada por dar protagonismo, durante 36 anos, à melhor idade nos bailes da Capital

Por Natália Olliver | 13/04/2025 07:10
Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos
Maria dança com Robson Martiniano, marido da neta, Priscyla Metello, no baile que a homenageou (Foto: Osmar Veiga)

Maria de Almeida Metello, ou melhor, a “rainha dos bailes”, como é conhecida, foi homenageada no lugar onde dedicou 36 anos da vida: na pista de dança. Pioneira nos bailes para a melhor idade, ela recebeu abraços e inúmeros pedidos para fotos. Apesar da fama, ela garante não ser um ícone no meio. Os convidados não concordam e asseguram que ela é, sim, uma estrela dos bailes. A festa reuniu amigos e admiradores na Casa de Dança Janete Martins.

Aos 92 anos, o que não falta são histórias, e ela tem aos montes. Maria ficou conhecida por ser a dona do Clube da Amizade, lugar que recebeu o público 50+ por anos em Campo Grande. A casa fechou na pandemia, no momento certo. Depois de tantos anos dedicados a isso, a pioneira cansou. A história dela já foi contada em anos anteriores pelo Lado B. Para conferir, clique aqui.

Maria sempre foi uma mulher de atitude. Desde que abriu a Casa da Melhor Idade, definiu regras claras para os frequentadores, entre elas a proibição da minissaia, short, vestido ou saia godê; vestidos de malha justos e vestidos ou saias com fenda alta.

Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos
Dona Maria ficou conhecida por ser pioneira nos bailes para melhor idade (Foto: Osmar Veiga)

No meu tempo não usava minissaia, beijar na boca. Fui criada assim. Queria filtrar, antes dos 25 não entrava, o povo levava a avó e a mãe e queria entrar. Eu não estava afim de pouca vergonha.”

A filha, Maria Merces, conta que a mãe dizia não ser proibido carinho, mas pouca vergonha sim. “Uma vez, uma mulher mais jovem disse que era viúva e queria entrar. Minha mãe mandou ela levar o atestado de óbito. Aí ela falou: ‘também vai entrar, mas vai rebolar como se fosse uma velha’.”

A rigidez nas condutas na Casa era motivo de comemoração entre a clientela que não queria “perder” para as mais novas. O intuito era justamente que as que “ficam para trás” pudessem, enfim, ter vez.

Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos
Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos
Regras da Casa da Amizade eram rígidas, mas clientela gostava (Foto: Arquivo pessoal)

Sobre a homenagem, Maria conta não conseguir medir a felicidade, que ultrapassa a euforia, e que se sente honrada com a atitude da dona do local, Janete. “Eu estou me sentindo muito feliz, muito ansiosa também. A vida foi boa. Estou muito grata. Isso está passando de alegria”.

Durante a vida nos bailes e após ficar viúva, Maria, assim como muitas mulheres, enfrentou a falta de homens que a tirassem para dançar. Pensando nisso, ela resolveu criar o Baile da Cebola, onde as mulheres tomam a atitude e chamam os homens. Foi nessa época que conheceu seu segundo marido.

“Eles tinham que dançar pelo menos um pouco. Eu olhei, não tinha um homem mais, vi que tinha um velhinho no bar e eu chamei ele para dançar. Falei que eu era cebola e que ia chamar ele de ‘você’, porque aqui não tem senhor, não. A gente trata todo mundo como ‘você’. Somos jovens. Falei que, se ele pisasse no meu pé, tirava. Acabou virando namoro”.

Depois da morte do marido e da segunda viuvez, ela nunca mais quis saber de namoro.

 Cansei, é bom ser livre, ainda mais na minha idade, 92. O que eu quero com homem? Apesar que serve de companhia, pra pegar uma água, uma conversa”, brinca.

Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos
Edna e o marido, Antonio, dançaram juntos no Clube por mais de 22 anos (Foto: Osmar Veiga)

Sobre a saudade dos tempos do baile, ela revela não sentir, apenas das amizades que fez ao longo dos anos. “Era muita felicidade. Eu sonhei e consegui. Foi melhor do que eu imaginei, bem melhor. Essas pessoas que estão querendo me cumprimentar, eu desci do carro e tive que ‘correr’.”

Amizades

Edna Pereira de Souza, de 77 anos e Antônio Luís de Sousa, de 78, estão juntos há 52 e já viveram aventuras nos bailes do Clube da Amizade. Os dois foram homenagear Maria e caíram na dança.

“Frequentei por 22 anos e era bom demais. Eu gosto de dançar, mas demos uma parada na pandemia e estamos começando de novo. Manteve a amizade. Eu chamo ela de sem-vergonha”, comenta Edna.

Para ela e o marido, as regras eram boas e o local um ambiente respeitador. “Era bom pra nós, porque aquilo era pra gente. Eu achava bom. Era um baile gostoso. Eu morria de paixão por lá”, completa.

Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos
Janete Martins homenageou Maria e a apelida de rainha dos bailes (Foto: Osmar Veiga)

A dona, Janete Martins, explica que a ideia da homenagem a Maria veio da vontade de mostrar para ela, em vida, o quanto é uma pessoa amada e importante para a melhor idade.

“Dona Maria tem um legado grande. Todos nós vamos embora e, de repente, ela vai, e depois não adianta. Tenho muito carinho, respeito e sei como era o trabalho dela. Fiz de coração mesmo. Ela merece. Para todas nós da terceira idade, temos que tirar o chapéu pra ela. Ela é a rainha. Para mim, a rainha dos bailes, esse é o título que dou pra ela.”

Ela acompanha Maria desde os 28 anos, cresceu e envelheceu com ela. Janete destaca que Maria é um exemplo de força e inspiração. “Mulher extraordinária e guerreira, foi incansável, tinha o carinho de receber todas as pessoas. O clube era muito bem frequentado porque tinha regulamentos. Ela merece.”

Com vida de dança, 'rainha dos bailes' segue famosa aos 92 anos
Amigos, familiares e admiradores compareceram para homenagear a rainha dos bailes (Foto: Osmar Veiga)

A sobrinha, Edméa Couto, 76 anos, diz que a tia é um exemplo de dinamismo, força e alegria. “Apesar dos seus 92 anos, não perde a alegria de viver. Ela adorava dançar – mal de família. Até que, viúva, resolveu ir com uma amiga no baile da época. Mas ninguém tirava elas pra dançar. Ficou revoltada e resolveu fazer baixinhos, domingueira na sala da casa dela. Convidou amigos da época e começou o baile.”

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