Emerson pedalou 12 dias até Aparecida após sobreviver a acidente
Técnico de enfermagem sobreviveu a um grave acidente e a um câncer, e decidiu agradecer pela vida
“Chorava, rezava e pedalava. Fui só com fé e coragem”, conta Emerson Leite Machado, de 52 anos, técnico de enfermagem que fez uma jornada de mais de 1.100 km de bicicleta, saindo de Campo Grande até o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no interior de São Paulo. E o mais impressionante: sem qualquer preparo físico ou experiência como ciclista.
A ideia da peregrinação nasceu da fé e da gratidão. Emerson sobreviveu a um grave acidente de carro em 2020, quando errou uma entrada na estrada e caiu com o veículo de uma ponte próxima ao distrito de Taboco, no interior do Estado.
“Fraturei a cervical, quase fiquei tetraplégico”, relembra. Para piorar a situação que já era crítica, durante o atendimento médico do acidente ele descobriu um câncer no rim, que, por sorte, também foi tratado a tempo: “Não precisei de quimioterapia. Tirei um dos rins, mas estou bem. Foram dois livramentos de uma vez só”, detalha.

Além de agradecer pela própria vida, Emerson levou na bagagem espiritual os sonhos dos filhos: “Minha filha tem uma choperia começando agora, e meu filho está trabalhando para ser jogador de futebol profissional, em São José do Rio Preto. Decidi que a viajem também seria um pedido por eles”, explica.
A jornada começou no dia 1º de março. Por doze dias, Emerson percorreu estradas do Centro-Oeste ao Sudeste pedalando cerca de 100 km por dia. Dormia em hotéis baratos e seguia ao amanhecer. “Nunca fiz nada parecido, andava na bicicleta só para me locomover perto de casa. Não sou ciclista. Fui na fé mesmo”, diz.
Apesar da falta de preparo, o trajeto foi tranquilo: “Não furei pneu, não peguei chuva. Foi impressionante. Uma graça de Deus”, conta. Durante o caminho, Emerson chorava de emoção e exaustão. “Tinha trecho que era só subir, e eu pedia força para Deus e para Nossa Senhora. A emoção era demais”, relata.

Mesmo esgotado, o técnico de enfermagem manteve a rotina diária. “Chegava na cidade, só queria um quarto para dormir. Minha filha me acompanhava pelo celular, me deu o Apple Watch dela e nem me avisou que dava para ver minha localização mesmo sem internet”, conta.
Em Boituva, interior de São Paulo, um susto mobilizou a família. Emerson parou no Corpo de Bombeiros para entregar uma carteira achada na estrada. Como a localização dele apareceu marcada como "bombeiro" e o celular estava sem bateria, os filhos pensaram que algo ruim havia acontecido. “Me ligaram desesperados, mas quando consegui carregar o celular, avisei que estava tudo bem”, lembra.
O momento mais esperado foi a chegada, depois de quase duas semanas na estrada e sendo movido pela fé. “É uma sensação inexplicável. Muito gratificante”, resume. Para o momento, a família foi encontrá-lo em Aparecida. “Faltando 160 km, eles saíram de Campo Grande. Cheguei lá às 10 da manhã e eles já estavam me esperando”, lembra.
No santuário, Emerson e a família participaram da missa, fizeram preces e deixaram sua “marca” na Sala das Promessas: uma pequena bandeira de peregrino e a luva que o acompanhou na jornada. “Peguei meu certificado de peregrino e deixei minha gratidão lá. Foi um voto do qual não me arrependo e que me aproximou ainda mais de Deus. Se eu consegui fazer isso, foi porque fui levado pela fé. Só por ela”, finaliza o devoto.
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